Integração Estrutural ROLFING® Como Agente Integrador Entre Postura Corporal, Comportamento, Qualidade de Vida
Monografia de Conclusão de Curso de Pós Graduação apresentada ao Centro Universitário Ítalo Brasileiro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Integração Estrutural Rolfing®, sob a orientação do Prof.. Dr.. Pedro Otavio Barreto Prado.
São Paulo 2011
Aos meus pais, pois sem eles eu não estaria neste mundo, por seu Amor , apoio e carinho incondicionais. À todos aqueles que, durante minha vida, deram me força e incentivaram me para que eu seguisse minha jornada com energia e confiança.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos Prof. Dr. Pedro Otavio Barretto Prado e Profa. Dra. Emília Satoshi Miyamaru Seo. pela fundamental orientação, atenção, apoio e incentivo durante a execução do presente trabalho.
Aos meus colegas de profissão e de classe pela prazerosa convivência que muito contribuiu para minha carreira até aqui. Aos amigos e familiares que sempre me incentivaram e estiveram presentes em
momentos importantes da minha vida
Aos meus clientes que durante todos esses anos foram fonte de aprendizado e inspiração para a contínua busca de crescimento e evolução em minha profissão.
O corpo humano precisa alongar-se, equilibra-se.
Um corpo equilibrado fará surgir um ser humano melhor.
Ida Rolf
RESUMO
O presente estudo de caso visa examinar a relação entre melhora na postura, alterações no comportamento e aumento no nível da qualidade de vida por meio do método de integração estrutural Rolfing®1 . Para tanto, foi selecionado um sujeito que apresentava uma desconexão entre a postura corporal seu comportamento no
meio social em que vive, fato que comprometia sua qualidade de vida. O mesmo foi submetido ao processo de integração estrutural Rolfing, trabalho de que tem por objetivo organizar verticalmente a estrutura corporal em relação ao campo gravitacional. Criado pela bioquímica americana Ida P. Rolf, integração estrutural Rolfing é uma técnica que alia manipulação miofascial e educação do movimento
para que seu objetivo de levar a estrutura corporal a uma melhor condição de verticalidade e funcionamento seja alcançado. Importante ressaltar que o Rolfing é uma abordagem sistêmica, que leva em consideração todos os aspectos do individuo: físico, emocional, psicológico e energético. Como forma de obtenção de dados para posterior análise, foram aplicados antes e depois das 13 sessões de integração estrutural Rolfing, questionários para avaliação do nível de qualidade de vida ± WHOQOL , da Organização Mundial da Saúde, e Questionários criado e desenvolvido pelo Núcleo de Atendimento, Pesquisa e Educação em Rolfing (NAPER), e utilizado por Prado””( 2006). Os resultados obtidos levaram a conclusãode que após passar pelo processo de integração estrutural Rolfing, o sujeito passou a apresentar uma melhora na postura, aumento da consciência corporal, e uma
maior conexão entre postura e comportamento, o que o levou a apresentar uma
melhora importante no nível de qualidade de vida, especialmente nos domínios físicos, psicológico e de relacionamento social.
Palavras-chave: Rolfing, integração estrutural, postura, comportamento, qualidade de vida.
1 Rolfing®”é uma marca registrada de propriedade do Rolf Institute of Structural Integration,utilizada para designar o trabalho criado pela bioquímica Ida. P. Rolf, originalmente chamado de integração estrutural. Dada a natureza acadêmica do presente trabalho, e buscando clareza na leitura, o símbolo de marca registrada que deve acompanhar o termo Rolfing será omitido.
ABSTRACT
This case study aims to examine the relationship between improvement in
posture, changes in behavior and increase in quality of life through the Rolfing
method of structural integration. To that end, we selected a person who had a
disconnection between the body posture and her behavior in the social environment
in which she lives. This fact compromised in some level her quality of life . She was
subjected to the process of Rolfing structural integration, work that aims to organize
the body structure vertically relative to the gravitational field. Created by American
biochemist Ida Rolf, Rolfing is a technique that combines myofascial manipulation
and movement education to its goal of bringing the body structure to a better
condition and operation of verticality is achieved. Importantly, Rolfing is a systematic
approach that takes into account all aspects of the individual: physical, emotional,
psychological and energetic. As a way of obtaining data for later analysis, were
applied before and after 13 sessions of Rolfing structural integration, questionnaires
to assess the level of quality of life – WHOQOL, developed by the World Health
Organization and Questionnaires created by the Center for Treatment, Research
and Education in Rolfing (Naper), and used by Prado (2006). The results led to the
conclusion that after going through the process of Rolfing structural integration, the person began to show an improvement in her posture, increase body awareness,
and achieved more connection between attitude and behavior which led her to
present a significant improvement in the level of quality of life, especially in the
physical, psychological and social areas.
Keywords: Rolfing, structural integration, attitude, behavior, quality of life.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ± INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………10
CAPITULO 2 ± REVISAO DE LITERATURA……………………………………………………16
2.1 Rofing® ± Integração Estrutural
2.1.1 Histórico……………………………………………………………………………………………….16
2.1.2 O – método, definição, princípios e taxonomias…………………………………………17
2.2 – Imagem Corporal……………………………………………………………………………………25
2.3 – Anatomia Emocional………………………………………………………………………………29
2.4 – Qualidade de vida………………………………………………………………………………….30
CAPITULO 3 ± CASUÍSTICA E MÉTODOS……………………………………………………..33
CAPITULO 4 ± RESULTADOS E DISCUSSÃO………………………………………………..35
4.1 Resultados………………………………………………………………………………………………35
4.2 Discussão……………………………………………………………………………………………….40
CAPITULO 5 ± CONCLUSÃ0…………………………………………………………………………44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………………..45
BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………………………………….46
ANEXO A – Questionários qualidade de vida WHOQOL……………………………………47
ANEXO B ± Questionários NAPER………………………………………………………………….48
1 ± INTRODUÇÃO
Uma estrutura pode ser definida como uma relação entre partes. A estrutura
humana não foge a esse conceito. A maneira como as partes que a compõem se
inter-relacionam determina sua qualidade de funcionamento (função) e, conseqüentemente, seu padrão de comportamento.
Em outras palavras, estrutura é comportamento.
Sobre isso, Rolf (1978, p.7) postula:
O comportamento humano é a expressão da ordem ou desordem presentes
na estrutura física e no seu arranjo estrutural, ou seja, reflete as relações
entre as partes no espaço, considerando-s a força da gravidade como o fator organizacional destas relações.
Consideram-se como partes desta estrutura todos os aspectos inerentes à condição humana: físico, psicológico/emocional e espiritual.
Neste contexto, o presente trabalho visa estabelecer um paralelo entre postura corporal, comportamento e qualidade de vida.
A organização corporal humana é resultante de sua filogenia, ou seja, o ser
humano moderno é fruto de um processo evolutivo iniciado há milhões de anos.
Como mencionado, a noção de postura de Rolf (1978) vem junto com as noções de
estrutura e comportamento. A estrutura como a organização em si das partes do
corpo no espaço, a postura como o posicionamento desta organização no espaço,
dinamicamente, e comportamento como o resultado da atividade desta estrutura em
relação ao meio em que vive. São, portanto, perspectivas diferentes, porém
interconectadas, sobre um mesmo fenômeno.
Conforme Ferreira (1999, p.354) entende- Integração estrutural Rolfing é uma terapia corporal que tem por objetivo levar a estrutura corporal mais próxima a um padrão equilibrado de postura e movimento em relação à força da gravidade.
Ao se mudar a forma modifica-e a função. Com isso, os aspectos comportamentais poderão ser alterados, uma vez que os dois fazem parte da
mesma estrutura humana e só teoricamente podem ser abordados separadamente.
Quando se está estressado, preocupado ou deprimido, o corpo assume
formas que traduzem esses sentimentos, e o comportamento passa a refletir esses
estados de ânimo. Muitas vezes, o sentimento é superado, mas as marcas que
ficaram impressas no corpo transformam-se em desequilíbrios estruturais que
tendem a perpetuar-se, impedindo o indivíduo de viver como um ser integral.
Além disso, fatores genéticos, ambientais, bem como traumas e questões
relacionadas ao mau uso corporal podem afetar a forma corporal humana.
Neste trabalho, será abordado o principal fundamentos do Rolfing: a
importância da relação entre estrutura e função do corpo humano. Ou seja, vai-se
discorrer como as alterações nessa relação – ao se estabelecer um melhor equilíbrio
na estrutura corporal e conseqüente melhora na função – podem fazer com que o
sujeito passe a se perceber melhor e mais integralmente, melhorando sua relação
com o meio em que vive e por conseqüência melhorar seu nível de qualidade de
vida.
Assim, ao se propor que através da integração estrutural Rolfing será
alcançada uma melhor conexão entre postura e comportamento, foi estabelecida
uma linha de análise que visou verificar em que nível a qualidade de vida do sujeito
é afetada, quando este se submeteu ao processo das sessões de Rolfing.
Isso se dá na medida em que Rolfing ao trabalhar a estrutura corporal do
sujeito e promover alterações na mesma, muda também sua função e seu
comportamento. O processo de Rolfing integra o corpo na gravidade, tornando mais congruente postura e comportamento, promovendo com isso uma melhora na
qualidade de vida do sujeito.
Os parâmetros para análise dos resultados foram estabelecidos a partir da
aplicação de questionários sobre qualidade de vida da Organização Mundial da
Suade , WHOQOF100, e questionário sobre o processo de Rolfing em si. Este
último criado e desenvolvido pelo Núcleo de Atendimento de Pesquisa e Educação
em Rolfing ± NAPER _ e utilizado por Prado em sua Tese de Doutorado: Estudo
Exploratório da Dimensão Psicobiológica do Método de Integração estrutural Rolfing:
Criação, Desenvolvimento e Avaliação de Questionários. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica, 2006
Essas ferramentas de coleta e mensuração de dados foram aplicadas no
início e no final do processo de Rolfing, visando, com isso, à obtenção adequada
das informações necessárias para posterior análise e conclusão do presente estudo.
Foram feitos também registros fotográficos do sujeito antes e depois das sessões de
Rolfing
O sujeito da pesquisa apresenta nas suas relações com outros indivíduos do
meio em que vive comportamento vivaz, entusiasmado, participativo, com muita
energia. Porém, seus movimentos são pouco fluidos, e apresenta pouca energia ou
disposição para fazer exercícios, mas sente-se bem quando faz atividades físicas,
como caminhadas, alongamentos etc.
Pode-se dizer que a sua postura corporal é densa, compactada e também
colapsada, puxada para dentro, de acordo com a proposta dada por Keleman
(1992). Pessoas do seu convívio percebem essa postura, mas o próprio tem
dificuldade em se perceber corporalmente. Falta-lhe consciência e percepção
corporal, fato que pode comprometer a sua qualidade de vida.
Segundo Schilder, (1999, p. 55)
(…) o conhecimento de alguém sobre seu próprio corpo é uma necessidade
absoluta. Deve sempre haver o conhecimento de que eu estou agindo com
o meu corpo, que tenho que começar o movimento com o meu corpo, que
tenho que usar uma determinada parte do meu corpo.
Em geral, indivíduos que apresentam uma postura densa e colapsada tendem
a ter um comportamento que não demonstra entusiasmo nem energia, revelando,
assim, determinados aspectos emocionais. Demonstram pouca vivacidade,
tendência ao desânimo e dificuldades em estabelecer bom contato social.
Segundo Keleman(1992, p.71)
(…) o estudo da forma humana revela sua historia genética e emocional. A
forma reflete a natureza dos desafios individuais e como eles afetam o
organismo humano. Enrijecemos por orgulho ou encolhemos por vergonha?
Endurecemos devido à privação ou nos preservamos colapsando?
Também para Rolf S³DSHUVRQDOLGDGHItVLFDQmRpDOJRVHSDUDGR
estranho ou diferente da personalidade psicológica, mas parte de uma entidade
psicofísica, FRYDULDQWHLQWHUQDPHQWH³
Nesse sentido, vale mencionar a questão da postura ereta:
A forma anatômica humana distingue-se por sua postura
ereta e sua flexibilidade. A postura ereta é acompanhada
de uma história emocional de vínculos parentais e
separações, proximidade e distanciamento, aceitação e
rejeição (KELEMAN, 1992, p.71)
Em face dessas considerações, vale levantar as seguintes questões:
± O sujeito se incomoda com a sua postura? Tem disposição/intenção em fazer
algo para melhorar a sua postura?
± Caso a sua postura seja melhorada, isso aumentará a sua consciência corporal?
– Haverá uma melhora em sua qualidade de vida?
Pretende-se comprovar que à medida que for submetido a um trabalho corporal como o Rolfing, o sujeito vai adquirindo mais consciência corporal e apresentando maior conexão entre postura ereta e comportamento, o que gera, conseqüentemente, melhorias no nível da qualidade de vida.
A expressão qualidade de vida foi empregada pela primeira vez pelo
presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em 1964, ao declarar que “os
resultados das empresas não podem ser medidos apenas através do balanço dos
bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam
às pessoas.”
Segundo a organização mundial da saúde, o interesse em conceitos como
“padrão de vida” e “qualidade de vida” foi inicialmente compartilhado por cientistas
sociais, filósofos e políticos. O aumento do desenvolvimento tecnológico da área
médica e de ciências afins, teve como efeito negativo uma progressiva
desumanização. Assim, a preocupação com o conceito de “qualidade de vida”
refere-se a um movimento dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de
valorizar parâmetros mais amplos do que o controle de sintomas, manutenção da
saúde e conseqüente aumento da expectativa de vida.
O termo qualidade de vida é mais geral e inclui uma variedade
potencialmente maior de condições que podem afetar a percepção do indivíduo,
seus sentimentos e comportamentos relacionados com o seu funcionamento diário,
incluindo, mas não se limitando, à sua condição de saúde e às intervenções
médicas.
O desenvolvimento desses elementos conduziu à definição de qualidade de
vida pela Organização Mundial da Saúde ± OMS (1998), como “a percepção do
indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
Para a OMS, dentre os aspectos considerados como fundamentais para a
manutenção de um bom nível de qualidade de vida, estão o físico e psicológico.
Assim, integração entre postura e comportamento fará surgir um ser humano
mais capacitado para atuar no mundo, conforme Rolf (1986, p. 84) “O corpo precisa
alongar-se, equilibrar-se. Um corpo equilibrado fará um ser humano melhor”…
CAPITULO 2 ± REVISÃO DE LITERATURA
A literatura a ser utilizada como plataforma teórica do presente estudo de caso é ligada às abordagens somáticas e comportamentais.
Existe uma vasta literatura nessas duas áreas, porém nesse trabalho foram
utilizadas obras de caráter mais específico de ambas, no sentido de objetivar o
estudo e propiciar uma compreensão mais detalhada e direta do que foi proposto.
2.1 ± Integração estrutural ± Rolfing
2.1.1 ± Histórico
Segundo Feitis (1986), Ida P. Rolf, a criadora do método de integração
estrutural Rolfing, nasceu em Nova York em 1896, freqüentou o Barnard College e
se formou em 1916, no meio da 1.a Guerra Mundial. Como muitos homens estavam
na guerra, ela teve a oportunidade única para aprofundar seus estudos. Em 1920, se
formou na Universidade Columbia obtendo o doutorado em química biológica.
Durante os 12 anos seguintes, Rolf trabalhou no Rockfeller Institute como uma das
principais pesquisadoras em Quimioterapia e Química Orgânica, chegando à
categoria de Associada.
Estudou também Matemática e Física Atômica na Universidade Técnica
Suíça, em Zurique, e Medicina Homeopática em Genebra, além de se aprofundar
em medicina quiroprática, osteopatia, ioga e outras técnicas corporais2
.
Apoiada nessa rica variedade de perspectivas, durante a década de 40,
através do trabalho científico e das descobertas intuitivas que realizou com pessoas
cronicamente incapacitadas, Rolf começou a desenvolver o trabalho que viria a ser
conhecido como Integração Estrutural. Nos 30 anos seguintes, dedicou-se a
desenvolver o método de integração estrutural Rolfing, – e seu programa de treinamento.
“””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””””” 2 Informações””obtidas””no”site””IDA”P.ROLF”RESEARCH”FOUNDANTION”WWW.rolfresearchfoundation.org/about
Durante a década de 50 sua reputação difundiu-se pelos Estados Unidos, e sua aulas de integração estrutural Rolfing passaram a atrair cada vez mais alunos e aparecer em publicações especializadas.
Seu desejo não era apenas de o ajudar os outros, mas também ensinar as gerações futuras o fruto do seu trabalho e de sua vida.
Nesse contexto, a necessidade de uma organização mais formal e sistemática
do ensino de seu método tornou-se evidente. Assim, em 1971, foi criado o Rolf
Institute, atualmente com sede em Boulder, Colorado, que há 40 anos promove
cursos de formação e de atualização para os profissionais de Integração estrutural
Rolfing.
Rolf dedicou sua vida ao ensino do método de Integração estrutural Rolfing,
até 1979 quando veio a falecer, formando profissionais, planejando projetos de
pesquisa, escrevendo, publicando e fazendo palestras públicas. Rolf confiava no
Rolfing como uma intervenção direta sobre a evolução da espécie humana. Não
estava interessada em curar sintomas. Sob sua visão, a relação adequada do corpo
humano com a gravidade se encarregaria disso.
Ela acreditava que, através do Rolfing, os seres humanos se tornariam mais
fortes e seguros e também mais conscientes das diversas capacidades e
possibilidades de seus corpos.
2.1.2 ± O método, definição e princípios, taxonomias.
Integração estrutural Rolfing é uma prática somática que utiliza manipulação
fascial e educação do movimento com o objetivo de organizar a estrutura corporal. É
realizado em uma série organizada de sessões individuais que visam restaurar o
equilíbrio postural e facilidade funcional do indivíduo, alinhando e integrando o corpo
na gravidade. Ao longo das suas pesquisas científicas, Rolf fez uma descoberta muito
importante sobre a constituição do corpo humano: a rede de tecido conjuntivo, que
envolve e conecta o tecido muscular, tem propriedades plásticas e elásticas que
tornam possível alterar a forma e a relação desse sistema (músculo/tecido
conjuntivo) nos diversos segmentos corporais, em qualquer época da vida.
Todo músculo e cada fibra muscular são envolvidos por um tipo de tecido
conjuntivo chamado fáscia, que forma os tendões e ligamentos nas extremidades
dos músculos, assumindo a função de conectar músculo a osso e músculo a outro
músculo. É a fáscia, portanto, que suporta os músculos e mantém a relação destes
com os ossos, determinando, basicamente, a forma do corpo.
A descoberta de Rolf sobre a importância da fáscia revolucionou o
pensamento sobre o corpo. Sabe-se, atualmente, que o tecido fascial pode ser
alterado, respondendo à aplicação de energia nas formas de pressão e calor.
Mediante a aplicação de uma dessas formas de energia (no caso do Rolfing,
a pressão manual), a fáscia torna-se mais maleável e pode permitir que as
estruturas contidas no seu tecido alterem o seu arranjo e se adaptem numa relação
mais harmoniosa com as partes adjacentes. Assim, o corpo muda gradativamente
sua estrutura e, conseqüentemente, a sua postura
Um princípio importante que norteou as pesquisas e trabalhos de Rolf, é que
o corpo é significativamente afetado pela poderosa força da gravidade. Ela inferiu
que em uma estrutura corporal desalinhada em relação ao campo gravitacional ,
recursos valiosos do corpo são usados de forma ineficiente, ocorrendo um esforço
maior para manter uma pessoa em pé e executar as atividades diárias .
Além disso, concluiu também que as tensões da vida diária, lesões físicas,
padrões de movimento inadequados e atitudes emocionais são fatores que podem
sobrecarregar a estrutura corporal , que irá encurtar e fazer compensações para
acomodar tensões, criando rigidez, dor, fadiga, e queda no nível da qualidade de
vida do individuo. As mudanças estruturais durante o processo de Rolfing são obtidos através
da manipulação do sistema miofascial do corpo, sendo seu foco a fáscia, que a é
uma camada protetora de tecido conjuntivo que envolve cada músculo e fibra
muscular. A fáscia confere aos músculos e órgãos a sua forma e suporte.
O profissional de Integração estrutural Rolfing utiliza uma série de recursos e
técnicas para alcançar os objetivos do trabalho. Essas técnicas podem ser
manipulativas, onde através de toques altamente especializados a fáscia é alongada
e reposicionada, liberando as áreas que apresentam restrições, e com isso
propiciando um melhor relação entre as diversas estruturas corporais.
O profissional pode utilizar também técnicas de educação do movimento, que
irão diminuir restrições funcionais, melhorando a qualidade dos movimentos do
cliente.
Aspectos relacionados a subjetividade do sujeito podem ser tratados através
de abordagens psicogiológicas. Essas irão relacionar questões corporais com
manifestações emocionais que o sujeito poderá apresentar durante o desenrolar das
sessões
Rolf FULRX XP SURWRFROR GHQRPLQDGR GH ³D UHFHLWD´ SDUD TXH KRXYHVVH D
possibilidade do ensino e aplicabilidade do Rolfing. A receita consiste em um
processo de 10 encontros, ou sessões, onde o profissional de Rolfing tem objetivos
possíveis à serem alcançados. Tais objetivos estarão à serviço de levar o corpo do
sujeito à um maior grau de organização e equilíbrio em termos de postura e fluidez
de movimento. Cada sessão tem objetivos específicos, porém cada sessão se
relaciona com a anterior. Por isso o Rolfing é considerado um processo sistêmico,
que visa reorganizar estrutura corporal como um todo na gravidade e não uma
técnica que pretende curar sintomas específicos.
. Após alguns anos, o número de sessões passou a variar entre 10 e 15,
com o objetivo de atender às necessidades particulares de cada cliente.
Em virtude de o Rolfing ter um caráter mais integrativo do que curativo, após
vários anos, Maitland aluno de Ida Rolf e instrutor do Rolf Institute, propôs que o Rolfing se insere no campo terapêutico que denominou como sendo de 3º
paradigma, onde se inserem também a Acupuntura, a Homeopatia e e Ioga. Nessa
SURSRVLomRVmRSRUHOHFRQVLGHUDGDVGHSDUDGLJPD³DVSUDWLFDVLQWHJUDWLYDVRX
holísticas, cujo objetivo essencial é a integração dos diversos aspectos do ser
KXPDQR´MAITLAND,1992, 46).
Nos outros dois paradigmas estariam as abordagens terapêuticas que visam
tão e somente o relaxamento e o bem estar do cliente ( 1º paradigma) e as práticas
que visam curar sintomas específicos como dores, desequilíbrios locais e doenças (
2º paradigma)
Como evolução dos conceitos teóricos do processo de Rolfing, em 1992,
Maitland e Sultan criaram uma definição sobre o que é o Rolfing e criaram uma série
de princípios que determinam as condições fundamentais na execução do trabalho,
para que uma estrutura corporal alcance o estado adequado de verticalidade.
Rolfing é a filosofia, ciência e arte de integrar
a estrutura humana no tempo- espaço e gravidade, através de manipulação (MAITLAND/SULTAN 1992, p.18)
No tocante aos aspectos filosóficos, os autores propõem que o Rolfing pode
ser considerado uma Ontologia Somática, e explicam:
A ontologia é o ramo da filosofia preocupado com a investigação sobre a
natureza e o sentido do Ser. Ontologia Somatica é a investigação filosófica,
da relação adequada entre o ser humano através da prática de transformar
o corpo humano. Transformar o corpo, integrando-o a gravidade não só cria
a possibilidade de realizar o bem-estar, como também cria a possibilidade
de realizar autêntico ser com-outros no mundo (MAITLAND/SULTAN, 1992,
p.17 )
Assim, a ontologia somática se ocupa com a articulação e promoção dos
valores fundamentais do bem-estar do individuo, de sua auto-regulação, autonomia
e autêntico estar com outros. O Rolfing também é cosiderado pelos autores, como uma investigação sobre as condições que devem ser satisfeitas para que o corpo funcione da
melhor maneira possível no campo gravitacional.
E afirmam,
…Rolfing é uma ciência e fenomenologia da estrutura corporal e
movimentos normais. O conceito de “normal” é baseado em anos de
observação empírica dos impactos da gravidade sobre corpo humano.
Estrutura e movimento normais não partes do corpo” ou do equilíbrio do corpo com relação a si mesmo.
Estrutura e movimentos normais só surgem quando o corpo é ao mesmo
tempo organizado em relação a si mesmo e ao campo gravitacional. Uma
estrutura normal aparece, quando o centro de gravidade dos diferentes
segmentos do corpo são organizadas em torno de um eixo central,
denominada a linha vertical da gravidade (MAITLAND/SULTAN, 1992, p.17) .
A fenomenologia da integração estrutural e da economia funcional propiciada
pelo Rolfing, é uma fenomenologia do que constitui a forma humana e suas relações
saudáveis no mundo humano. A fenomenologia da forma humana, ainda segundo os
autores, é necessariamente uma Psicologia Somática. Como psicologia somática, o
Rolfing está preocupado em analisar de que maneira as formas psicologicamente
saudáveis ou insalubres dos seres humanos se organizam estrutural e
funcionalmente, e como estas se orientam no espaço e no tempo.
Conflitos psicológicos e emocionais não resolvidos, tendem a se manifestar
como conflitos e fixações na maneira como os corpos se organizam e se orientam
no espaço e no tempo. Ao reorganizar o corpo na gravidade e otimizando a
qualidade dos movimentos do individuo, o Rolfing contribui, por consequência, para
seu bem estar psicológico.
E sobre o aspecto relacionado à arte, Maitland e Sultan (1992, p.17) discorrem: A arte do Rolfing consiste no desenvolvimento e aplicação de um conjunto
altamente refinados e específicos de habilidades. Algumas destas
habilidades são únicas para a prática do Rolfing e outras são comuns a
qualquer profissão de saúde que emprega toque e educação para beneficiar
os outros. Rolfing cria a possibilidade para a economia da função e
integração estrutural na gravidade simultâneamente, através da
compreensão e aplicação dos princípios, estratégias e técnicas de
manipulação miofascial e educação do movimento.
Em relação aos princípios constitutivos na prática do Rolfing, Maitland e
Sultan propõe que, com o intuito de ajudar um sujeito a encontrar o mais alto nível
possível de integração estrutural e economia funcional, o profissional de Rolfing
deve ser capaz de reconhecer e avaliar os diferentes graus de integração estrutural
e economia funcional na grande variedade de estruturas do corpo.
Então, para ser capaz de formular e implementar uma série de estratégias
eficazes para a organização de qualquer estrutura corporal na gravidade, o
profissional deve saber sobre Rolfing e trabalhar de acordo com seus princípios
Ainda segundo os autores:
Os princípios de manipulação de Rolfing e educação do movimento são
constitutivos. Eles determinam as condições necessárias pelo qual um
praticante Rolfing deve ter atenção, para auxiliar os clientes na busca de
integração estrutural e economia funcional. Eles se aplicam a todo tipo de
corpo e estrutura possíveis. E eles governam toda e qualquer intervenção
do Rolfing. Princípios constitutivos são as regras que definem a natureza de
alguma atividade. Eles também determinam os tipos e as seqüências de
ações que são permitidas dentro de uma arena definida de atividade.
(MAITLAND/SULTAN, 1992, p.18)
São os seguintes os princípios de intervenção do Rolfing:
x Holismo ± esse princípio estipula que o corpo humano não é uma
máquina compostas por partes isoladas e não inter-relacionadas É, ao contrário, um todo vivo e unificado que deve funcionar verticalmente equilibrado em relação à força da gravidade. Nesse sentido, fica estabelecido que toda e qualquer intervenção local afetará a estrutura toda, e ações globais afetarão áreas isoladas da mesma estrutura.
Ele propõe ainda que nenhum dos princípios poderá ser completado a
não ser que todos os outros o sejam.
x Palintonicidade – Tirada do conceito grego palintonos, o qual refere-se ao equilíbrio entre opostos das dimensões espaciais de um objeto, equilíbrio esse que precisa ser respeitado.
Este princípio define e expressa a geometria espacial da estrutura corporal única à qual o profissionalde Rolfing objetiva. A manifestaçãode linhas e planos verticais e horizontais / no corpo humano- são índices de ordem espaço-temporal. Organização frente/costas precede organização lado/lado. Os padrões de rotação só podem ser tratados
efizcamente, na medida em que as relações frente/costas tenham sido
abordadas. Preparação e organização apendicular precede preparaçao e organização axial
x Adaptabilidade – Preparar o corpo para receber um novo nível de
ordem precede o estabelecimento dessa ordem. Mudanças
introduzidas em qualquer parte do corpo precisa ser capaz de ser
sustentada e integrada pelo todo. Preparação precede integração.
Padrões congruentes dos segmentos precede o estabelecimento de
uma nova ordem entre os mesmos.
x Suporte – Este princípio estabelece que a ordem é uma função do
suporte disponível, ou seja, só se conseguirá estabelecer um bom níve
de ordem, se o cliente tiver uma qualidade de suporte que estabilize
as mudanças ocorridas na estrutura.
x Fechamento – Esse principio propõe que toda sessão tem de ter o
momento correto para ser finalizada. Esse momento será quando o
sujeito for capaz de sustentar as mudanças ocorridas naquela sessão,
sem necessidade de nenhuma outra intervenção até a sessão
seguinte. Esse princípio se aplica também quando se termina uma
série de sessões Assim, baseados nesses princípios, o profissional de integração estrutural
Rolfing cria uma estratégia que irá orientá-lo durante o desenrolar das sessões e de
todo o processo do trabalho.
Alem dos princípios, Maitland propôs taxonomias de acesso e observação,
como explica Prado (2006, p. 45) :
A elaboração dos princípios possibilitou o trabalho não formulístico que
requer percepção e avaliações constantes para a definição dos níveis nos
quais o trabalho acontecerá, bem como para as escolhas das técnicas
apropriadas nas intervenções. Junto com o desenvolvimento dos princípios,
Maitland (1993, p3), expõe taxonomias de acesso e de observação, que
buscam ajudar na percepção de como estas diferentes dimensões
impactam o corpo ao organizar-se na gravidade
As categorias levantadas foram
x Física
x Funcional
x Energética
x Emocional
Prado (2006), ao escrever o Manual para Uso dos questionários do NAPER,
propõe uma outra categorização dos termos, em que sugere uma adaptação para
essas categorias , a saber:
x Fisica: Estrutural e funcional;
x Psicobiologica: emocional/psicológica
Cultural/ambiental
Existencial/espiritual
Energética.
Vale introduzir nesse momento o conceito sobre psicobiologia, matéria que
dedica-se ao estudo da biologia do comportamento, ou seja, estabelece uma
interface entre biologia e psicologia.
Maitland trouxe esse conceito para o contexto do Rolfing em 2000. Maitland, (2000) apud Prado ( 2006, p.29):
(…) essa taxonomia inclui a habilidade da percepção da sensação de si
mesmo corporalmente ( self-sensing), a orientação perceptiva e emocional
do paciente em relação a como ele percebe seu movimento, sua autoimagem e seu lugar no mundo
E como Prado (2006, p.29) esclarece:
(…) essa categoria lida com a dimensão subjetiva, conectando processos
físicos, biológicos, emocionais e psicológicos e abre espaço de diálogo do
Rolfing com a filosofia, a biologia, as neurociências e a psicologia de
abordagem corporal.
Como sugerem os autores, o Rolfing lida com a possibilidade de
transformação do indivíduo. Essa transformação , apesar de acontecer em nível
corporal, pode se expandir para outros níveis do sujeito, como emocional, cultural,
energética e existencial.
Uma vez que Rolfing é um trabalho que leva o indivíduo à um aumento de sua
auto-percepção, em relação a si mesmo e ao meio em que vive, pode-se afirmar
que os aspectos da consciência e subjetividade são também afetados durante esse
processo.
Sobre isso, Prado (2006, p. 31) discorre:
…Rolfing pode acontecer em muitos níveis de consciência ± do pré-reflexivo
ao reflexivo. O desenvolvimento da consciência também pode ser a
essência da experiência de transformação proposta. Esta transformação
acontece no Ser que, ao viver sua realidade, vive sua mudança de forma e
percebe-se em relação e em transformação, operando e participando na
mudança por meio desta percepção, carregando a intenção da mudança
formal em interação contínua com o ambiente interno e externo
Assim, a percepção corporal que o sujeito tem de si e de seus movimentos e
como isso se relaciona com ambiente, é sua subjetividade. Ele se percebe como um
indivíduo único e singular, que se relaciona através de seu corpo, e em vários níveis,
com o meio que o cerca.
2.2 ± Imagem corporal
No que diz respeito à base teórica para a compreensão do que é imagem
corporal e como a análise desta última é feita, as teorias desenvolvidas por
Schilder, em sua obra – ‘A Imagem do Corpo ± as energias construtivas da psique’
(1999)- traz uma abordagem sistêmica do tema “imagem corporal”, fruto de seus
conhecimentos como neurologista, aliados aos de psicanálise e filosofia, que
influenciaram sua obra.
Imagem corporal relaciona-se à identidade corporal do sujeito. Essa
identidade se apresenta como um todo interconectado, que se desenvolve pela vida.
Schilder ( 1994, p. 11) conceitua imagem (esquema) corporal afirmando que
“… entende-se por imagem do corpo humano a figuração de nossos corpos formada
em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós”
E ainda:
“O esquema corporal é a imagem tridimensional que todos têm de si
mesmos. Podemos chamá-la de imagem corporal. Esse termo indica que
não estamos tratando de uma mera sensação ou imaginação. Existe uma
percepção do corpo. Indica também que, embora nos tenha chegado
através dos sentidos dos sentidos, não se trata de uma mera percepção.
Existem figurações e representações mentais envolvidas, mas não é uma
mera representação”.( SCHILDER r, i1994, p11)
Vale frisar que a maioria dos estudiosos do tema defendem uma divisão entre
os termos imagem e esquema corporal, sendo este último as característica
biológicas de um individuo, servindo como base para a construção da imagem subjetivas.
Quem primeiro desenvolveu a noção de esquema corporal foi Head (1861-
1940), neurologista, que propôs este como sendo a representação interna do corpo
no tempo e espaço. Essa representação seria dada pelo conjunto de experiências
sensoriais, geradoras da postura e movimento. (Prado, 2006). Porém, Imagem corporal e esquema corporal são aspectos indissociáveis de
um mesmo fenômeno: a representação dinâmica que o individuo faz para si mesmo
de sua existência em cada instante.
Le Bouch, (1987, p.188), dentre outros, unifica os dois conceitos.
(…) trata-se, nesse caso, de uma forma de traduzir em duas linguagens
diferentes, uma fisiológica, outra psicológica, uma só e mesma realidade fenomenológica, que é aquela do “próprio corpo”. Em outras palavras identificamos completamente as duas noções, em vez de querer completar uma com a outra e raciocinar assim em dois sistemas heterogêneos.
Levando em conta os aspectos emocionais no processo de percepção da
imagem corporal, Schilder (1999) identifica a alteração da percepção da gravidade
do corpo, principalmente relacionada ao tônus muscular e às sensações de espaços
vazios ou consolidações de partes internas do corpo, relacionados sempre a
protuberâncias e/ou dobras dentro da percepção corporal.
Estes espaços vazios ou enrijecimentos de órgãos e/ou regiões do corpo,
são originados no processo de construção da imagem corporal e podem também ser
compreendidos com bases na teoria psicanalítica, que tiveram forte influência no
trabalho de Schilder.
De uma maneira geral, o corpo traz consigo o esboço, o extrato de seu
conteúdo, que pode se expandir ou se contrair em decorrência de circunstâncias que
podem ser psicológicas, influenciadas por fatores sociais e gerenciadas por
aspectos fisiológicos, além de genéticas e ambientais.
Também as doenças ou situações adversas de saúde exercem ações no corpo
humano, principalmente no aspecto fisiológico, o que influencia diretamente em
mudanças de modelos posturais. Estas mudanças determinam portanto, em auto percepções que modificam também a imagem corporal deste indivíduo submetido
ao quadro patológico.
O indivíduo no mundo, ao construir-se, constrói também os indivíduos/corpos
que convivem com ele em seu meio social, pois “as experiências visuais que levam à construção da imagem corporal pessoal levam, ao mesmo tempo, à construção da
imagem corporal dos outros”( SCHILDER , 1994,p.188).
Tal afirmação deixa claro que a imagem corporal não está limitada ao próprio
corpo, mas, pelo contrário, “é um fenômeno social” (SCHILDER 1994, p.189) pois
justifica-se na existência deste ser no mundo, sendo que “o espaço interno e externo
do modelo postural não é o mesmo da física” (SCHILDER, 1994, p. 185).
Em outras palavras, um corpo só sabe de si, só pode reconhecer-se se for
em relação aos outros corpos que o rodeiam.
Assim, estando inserido nesse contexto de relações sociais, perceber o outro
corporalmente, bem como a expressão de seus sentimentos é tão básico quanto
perceber a si mesmo e suas próprias emoções.
Neste sentido Schilder (1999, p.243) afirma: “Um corpo é necessariamente
um corpo entre corpos. […] A palavra ‘ego’ não tem sentido quando não existe um ‘tu’
. Estados de angústia são citados por Schilder uma vez que induzem um
progressivo ³Gesmembramento do corpo”, e influem na construção de quadros
degenerativos de imagem corporal.
Outra análise sobre a qual autor discorre é relativa à personalização e
despersonalização do indivíduo frente suas relações no meio social.
No que ele denomina personalização, tem-se a apropriação de partes do
corpo dos outros à sua volta, por meio de identificação, influência ou criação de
modelos sobre este indivíduo.
Já a despersonalização, é qualificada quando o sujeito se ausenta de si e,
por conseqüência, de sua imagem corporal, através de processo de negação ou
fuga da própria identidade.
Os processos de construção da imagem corporal apesar de elementares na
existência humana, são altamente complexos e ainda são objeto de estudos e
pesquisas tanto nas áreas da neurociência como de psicologia e psiquiatria. O que não se pode afirmar é que existam somente dimensões psicológicas ou
fisiológicas na construção dessa imagem. Há que se ter sempre a busca pela visão
integrada do ser humano, numa tentativa de superação da dualidade representada
2.3 – Anatomia Emocional
A contribuição de Keleman(1992) com seu trabalho e pesquisas em torno da
anatomia emocional é também fundamental para a reflexão e o entendimento do
vínculo entre formas corporais e comportamento ..
O autor estabelece uma relação entre anatomia e estados subjetivos, e seu
trabalho estuda as formas corporais, que são as constantes transformações
morfológicas e anatômicas do corpo produzidas durante a vida, e acompanhadas
por mudanças psicológicas.
Nesse sentido, ele propõe o processo autoformativo do sujeito, que se
caracteriza pela sua interação com o meio em que vive.
Na visão de Keleman, a existência humana é um processo constante de
construção de formas somáticas, desde o processo embriológico até a morte. Essas
transformações não são guiadas somente por um programa biológico pré definido
geneticamente, mas refletem o próprio processo da vida do individuo, com todos os
seus encontros, desencontros e relacionamentos.
Segundo o autor, ” A anatomia humana é assim, mais do que uma configuração bioquímica, uma morfologia emocional (KELEMAN, 1992, 72)
Para Keleman, o psiquismo não é somente uma função da “mente”, mas também função do corpo todo, com todos seus potenciais para sentir, sonhar, pensar, imaginar, fazendo com que a anatomia e o psiquismo caminhem juntos.
Ou seja, é uma anatomia emocional.
Como propõe em sua obra:
Anatomia emocional mostra a relação entre a forma e as forças genética e
social que inibem ou facilitam a conformação de uma vida. A experiência de complexos padrões emocionais , somaticamente configurados, fornece uma base para uma vida somática e emocionalmente rica. (KELEMAN, 1992, p.13)
A mente cria imagens e símbolos de si e do mundo no qual esta inserido, e
assim se habilita a estabelecer uma conexão consigo mesmo e com seus iguais.
Tais imagens são criadas no córtex cerebral a partir da interface entre camadas
somáticas distintas.
Um processo de auto-avaliação então se estabelece a partir desse diálogo
do corpo consigo mesmo, onde fica possível a identificação e compreensão das
formas somáticas. Estas serão então moldadas em função dos efeitos somáticos
das experiências vividas, criando-se naturalmente maneiras diversas do individuo
participar ativamente da construção da própria existência.
Seguindo esta concepção dos processos biológico e formativo, Keleman
propõe duas tipologias: os Tipos Constitucionais (corpo herdado) e os Tipos
Somáticos (corpo formado). Os primeiros baseiam-se na predominância de certas
camadas embriológicas (ectomorfos, mesomorfos e endomorfos) e influenciam a
maneira de ser e de se relacionar dos indivíduos, estabelecendo tendências de
comportamento. Já os tipos somáticos, (inchado, rígido e denso), amplamente
descritos na sua obra Anatomia Emocional (1992), compõem estratégias
organizadas para o sujeito lidar com as questões internas e externas. A constituição
herdada e a organização somática formada estão em constante interação.
2.4 – Qualidade de vida
Como mencionado na introdução deste trabalho, segundo a Organização
Mundial da Saúde, qualidade de vida pode se definida como a percepção que o
indivíduo tem de sua posição na vida em seu contexto cultural e sistema de valores
nos quais vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações.
É inerente à prática do Rolfing o fato de que o profissional de integração
estrutural tem como um dos objetivos a ser alcançado, a melhora no nível da
qualidade de vida do sujeito.
No artigo “Does Rolfing Structural Integration Enhance Quality of Life? O Rolfing integração estrutural pode melhorar a qualidade de vida? (Prado, 2010, p. 43) o autor discorre sobre a importância de se utilizar o questionário WHOQOL desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde como fonte de dados a serem mensurados e relacioná-los com o processo de Rolfing.
Um dos fatores é que o questionário esse utiliza taxonomias similares às que
o Rolfing usa na conceituação do trabalho, o que estabelece uma interface entre
ambos.
Prado baseia sua afirmação em uma pesquisa por ele dirigida com 160
sujeitos que responderam ao questionário antes e depois de passarem pelo
processo de Rolfing, entre 2004 e 2005. Isso ocorreu durante a formação de
Rolfing, portanto em um ambiente de classe, sendo esse universo pesquisado
composto por 105 brasileiros e 55 estrangeiros .
Frente aos resultados obtidos, o autor discorre que foi demonstrada uma
melhora significativa nos índices de qualidade de vida entre os pesquisados, tanto
no Brasil como exterior. Tal resultado confirma o que é percebido na prática clinica
diária, ou seja, que o cliente após passar pelo processo de Rolfing percebe
alterações, para melhor, no nível de sua qualidade de vida.
O autor destaca ainda que os resultados corroboram sua pesquisa sobre a
ligação de Rolfing integração estrutural com a dimensão psicobiológica.
Portanto, os resultados do WHOQOL , que inclui o domínio “psicológico”, são
especialmente significativos para o autor, como eles parecem convergir com suas
conclusões.
32
Prado, ( 2010, p. 45) afirma em seu artigo,
…a demonstraçao dos dados é significativa e importante, porque, assim
como nós precisamos encontrar padrões para mostrar os efeitos do Rolfing
SI e o seu valor para a sociedade, o questionário WHOQOL, é um
instrumento respeitado , com um histórico considerável, e apresenta-se
como um inventario facil de ser utilizado e validado em vinte línguas, que é
congruente com as premissas filosóficas Rolfing de SI. O uso deste
questionário possibilita uma exploração coletiva de como o Rolfing pode
ajudar os seres humanos levar uma vida melhor. Nesse sentido, ele suporta
a visão da Dra. Ida Rolf e dseu trabalho como um meio para avançar a
nossa evolução como seres verticais
Prado, ( 2010, p. 45) afirma em seu artigo,
…a demonstraçao dos dados é significativa e importante, porque, assim
como nós precisamos encontrar padrões para mostrar os efeitos do Rolfing
SI e o seu valor para a sociedade, o questionário WHOQOL, é um
instrumento respeitado , com um histórico considerável, e apresenta-se
como um inventario facil de ser utilizado e validado em vinte línguas, que é
congruente com as premissas filosóficas Rolfing de SI. O uso deste
questionário possibilita uma exploração coletiva de como o Rolfing pode
ajudar os seres humanos levar uma vida melhor. Nesse sentido, ele suporta
a visão da Dra. Ida Rolf e dseu trabalho como um meio para avançar a
nossa evolução como seres verticais
CAPÍTULO 3 ± CASUÍSTICA E MÉTODOS
No presente trabalho, a investigação foi centrada em um sujeito do sexo
feminino, com 56 anos, que exerce a profissão de psicanalista.
O método utilizado foi o estudo de caso, onde o fenômeno foi observado em
seu ambiente natural, e não foram utilizados controles experimentais ou de
laboratório.
O estudo de caso, segundo Vilabol (2007), é uma investigação que se
assume com caráter particular, que analisa uma situação específica, procurando
descobrir o que há nela de mais essencial e característico. Para Yin (2001), o estudo
de caso representa uma investigação empírica e compreende um método
abrangente, com a lógica do planejamento, da coleta e da análise de dados.
O trabalho também pode se inserir no campo da pesquisa qualitativa,
descritiva e de campo, uma vez que teve o ambiente natural como fonte de dados, e
o pesquisador foi o instrumento principal. Além dos resultados obtidos, o processo
também é valorizado.
A pesquisa de campo consistiu na realização de treze sessões de integração
estrutural Rolfing, às quais o sujeito se submeteu uma vez por semana. Foram
utilizados para análise da estrutura corporal do sujeito, o conceito de linha
gravitacional e o de forças compressionais, ambos desenvolvidos por Rolf (1990).
O primeiro propõe que a estrutura humana deve se organizar verticalmente
em torno de um eixo central, ou linha gravitacional, para que funcione
adequadamente. Já o segundo propõe que a estrutura humana pode ser comparada
a uma série de blocos empilhados, cujos centros de gravidade devem estar
alinhados para que essa estrutura fique equilibrada em relação à força da
gravidade.
Além disso, foram aplicados os questionários criados e desenvolvidos pelo
Núcleo de Atendimento, Pesquisa e Educação em Rolfing (NAPER), utilizado por
Prado (2006). Foram utilizados como fonte de informações advindas diretamente
do sujeito, antes e depois do término das sessões e relatórios do processo de
Rolfing em si.
Os protocolos do NAPER são compostos de três etapas que se
complementam: entrevista inicial, relatório do rolfista/pesquisador e relatório do
cliente/sujeito. Cada etapa tem objetivos específicos, a saber:
I – Entrevista inicial – Fonte de informações sobre dados pessoais, questões
relacionadas a problemas e queixas corporais e/ou emocionais.
II – Relatório do sujeito ± Preenchido pelo cliente após o término das
sessões de Rolfing, é o recurso para se obter informações e reflexões do mesmo
sobre o processo de Rolfing como um todo. As perguntas contidas nesse relatório,
abertas e fechadas, levam o sujeito a uma reflexão, e por meio de suas respostas, é
possível que se avalie em que nível ele passa a ter percepção de mudanças em
esferas as quais não tinha consciência antes das sessões.
III – Relatório do rolfista ± Uma síntese na qual o profissional relata o
processo do cliente e seu próprio processo em relação ao cliente.
Outro Questionário aplicado foi o WHOQOL-100, um instrumento de avaliação
do nível de qualidade de vida criado, em 1998 e validado pela Organização Mundial
da Saúde (OMS). Esse questionário foi aplicado antes e depois do término das
sessões como forma de avaliação da alteração do nível de qualidade de vida do
sujeito.
Anotações feitas pelo pesquisador durante o processo, como fonte de
informação vinda diretamente do sujeito também foram utilizadas como método de
obtenção de dados, bem como registros fotográficos (de corpo inteiro, frente,
costas, perfil direito e esquerdo) antes da 1ª sessão, depois da 13ª sessão, como
forma de avaliar as modificações corporais ocorridas.
CAPÍTULO 4 ± RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 ± Resultados
1 – Registros fotográficos
Foram tiradas fotos antes da primeira sessão e depois da última como forma
de estabelecer um registro das alterações corporais/posturais que se pretendeu com
o trabalho.
A seguir os registros fotográficos:
Figura 1 ± Antes 1.a sessão Depois ultima sessão
36
Figura 2 ± Antes 1.a sessão Depois ultima sessão
Figura 3 ± Antes 1.a sessão Depois ultima sessão
37
Figura 4 ± Antes 1.a sessão Depois ultima sessão
Fazendo-se uma análise dos resultados obtidos por meio dos registros
fotográficos, nota-se que houve alguma melhora nas questões posturais
apresentadas antes do início das sessões de Rolfing. Levando-se em conta o
conceito de linha gravitacional em torno da qual a estrutura corporal deve se
organizar, pode-se verificar que, especialmente nas posições frontal ( Figura 1) e
posterior ( Figura 2) evidencia-se a aquisição de um maior grau de verticalidade e
equilíbrio, bem como maior harmonia entre os segmentos corporais e uniformidade
no tônus muscular. Importante ressaltar a melhora no posicionamento da cabeça em
relação ao tronco, bem como no equilíbrio horizontal conseguido na cintura
escapular ( ombros), reflexo direto da organização do corpo no eixo vertical.
Nas posições laterais ( Figuras 3 e 4 ) também é verificada uma melhora na
verticalidade, porém de forma mais discreta, podendo-se ressaltar aqui também o
melhor posicionamento da cabeça em relação ao tronco. Essa avaliação tem como
referência o conceito de forças compressionais, representadas idealmente por blocos empilhados, cujos centro gravitacionais, se alinhados, proporcionam à
estrutura mais equilíbrio ( Prado, 2006, 36)
2 – Questionário sobre nível de qualidade de vida ³WHOQOL 100´:
Os resultados apresentados serão analisados de forma qualitativa, que
revelam tendências. Por esse motivo, não foram feitos testes estatísticos.
No presente estudo o sujeito respondeu ao questionário antes de depois do
processo das 13 sessões de Rolfing, e os resultados obtido foram o seguinte:
TABELA 1 ± Resultados questionário Qualidade de vida – WHOQOL
Sujeito Rolfista/Paciente Domínios Aspecto Antes Depois
1 M Helena Orlando/ XX Domínio 1 Físico 13,67 15,67
Domínio 2 Psicológico 14,40 16,80
Domínio 3 Nível de Independência 16,00 19,50
Domínio 4 Relacionamentos Sociais 14,33 15,67
Domínio 5 Meio Ambiente 15,25 15,63
Domínio 6 Espiritualidade 16,00 20,00
Fazendo-se uma análise dos resultados acima, verifica-se que o sujeito
obteve uma melhora nos parâmetros de mensuração do nível da qualidade de vida
percebida em todos os domínios.
O que se evidencia então, é que após passar pelo processo de Rolfing, todos
os aspectos avaliados tiveram um aumento nos níveis de percepção do cliente,
quanto a sua percepção de qualidade de vida, sendo que para o presente estudo devem ser destacados os domínios físicos, psicológicos e de relacionamentos
sociais. Isso porque, baseando-se na plataforma teórica apresentada, a proposição
psicobiologica, que estabelece uma interface entre os aspectos físicos e
psicológicos do individuo, revelou alterações importantes quantitativamente.
3 -± Questionários NAPER.
Na entrevista inicial, o sujeito declarou que queria fazer o Rolfing por questões Físicas/ estruturais e que “pretendia experimentar outras maneiras de trabalhar o corpo.”
Uma das queixas iniciais que manifestou, na questão como ele se sente em relação ao corpo, foi que “se sente incomodado com questões posturais. Dor, desconforto”. E classificou sua relação com seu próprio corpo como “boa”, e que se sente bem do ponto de vista emocional.
Ao ser questionado se percebia relação entre o estado emocional e seu corpo, o sujeito respondeu “percebo. Acho que com o tempo fui encolhendo. Sinto-me com o corpo bem travado.”
Durante o processo ficou evidente a dificuldade que o sujeito teve em perceber as mudanças ocorridas, de maneira mais explicita. A cada sessão ele reportou sentir-se “bem melhorado”, de forma genérica, sem especificar nenhum aspecto em particular. Esse fato pode demonstrar uma não capacidade em estabelecer conexões mais profundas entre aspectos físicos e emocionais.
Porém, ficou claro durante todo o processo que houve entusiasmo e
dedicação em sua participação no trabalho, uma vez que nunca faltou ou chegou
atrasada às sessões. Tal adesão ao trabalho pode demonstrar que o sujeito sentiu as melhoras corporais esperadas, fato que o motivou a manter o compromisso inicial de comparecer semanalmente às sessões. Após o término das sessões, no Relatório do Cliente, do questionário do NAPER, o sujeito relatou que seus objetivos no início do processo foram atingidos: obter maior consciência corporal e melhora na postura. Relatou que ” me sinto mais ereta, aberta com maior percepção da minha postura”.
O fato de o sujeito declarar que passou a ter maior percepção de sua postura, nos leva a inferir que o sujeito não só obteve melhora na postura como passou a se perceber mais ereto e valorizar esses fato. Na questão: ” Você acha que o Rolfing ajudou você em outros aspectos da sua vida e de sua pessoa, além dos objetivos que você tinha ?” Respondeu: “Não necessariamente, porém ao me sentir mais ereta, parece que subjetivamente estou mais firme”. Relatou também estar “bem” emocionalmente, tanto antes, como depois do processo, e avaliou o mesmo como tendo sido “ótimo” e que “indicaria insistentemente o trabalho para pessoas de seu convívio”.
Nada mais relevante foi citado no relatório do cliente após as sessões.
4.2 – Discussão
Como discussão sobre os resultados acima apresentados, pode-se afirmar
que como constatado empiricamente, o processo de integração estrutural Rolfing
têm potencial para melhorar a postura dos indivíduos que se submetem a esse
trabalho, levando-os à um aumento da consciência corporal e conseqüente melhora
na percepção no seu nível de qualidade de vida.
Os resultados percebidos pelo sujeito após as sessões de Rolfing vão de
encontro aos resultados apresentados pelos registros fotográficos. O sujeito declara que após as sessões “me sinto mais ereta, aberta” o que é demonstrado pelas fotos e corrobora a premissa de que o Rolfing promove um melhor alinhamento vertical da estrutura corporal.
Como foi colocado anteriormente, os autores citados nesse trabalho
reconhecem a ligação entre estrutura corporal (Rolf) , forma corporal (Keleman) e
imagem corporal (Schilder) com aspectos subjetivos ligados à manifestações
emocionais e comportamentais do individuo.
Maitland e Prado também concordam quanto à possibilidade do aumento da
percepção e de consciência com as dimensões psicobiologicas por parte do sujeito,
durante o processo de Rolfing integração estrutural.
No presente trabalho, o que diz respeito às dimensões psicobiológicas, –
pode-se dizer que o processo foi de alguma valia para o sujeito, no sentido aumentar
sua percepção para as relações entre seus aspectos físicos e emocionais. Ao declarar que…” porém ao me sentir mais ereta, parece que subjetivamente estou mais firme” nota-se a percepção de conexões psicobiologicas, mesmo que de maneira aparentemente superficial.
Porém, como foi observado no relatório do rolfista, no questionário do
NAPER, ficou evidente a dificuldade do sujeito perceber mais profundamente as
mudanças e relações corporais/emocionais durante o trabalho. Ele apresentou
durante as sessões, uma atitude mais passiva no que diz respeito a participação
no processo. Houve uma atitude mais mental e racional e não um envolvimento
mais subjetivo e reflexivo.
Levando-se em conta que o sujeito atua na área de psicanálise freudiana,
área em que o mental é muito valorizado, pode-se propor que esse fato faz com que
haja uma resistência intelectual no reconhecimento de percepções psicobiologicas
mais sutis. Conexões entre os domínios físicos e psicológicos podem ser admitidos
cognitivamente, mas pode haver uma dificuldade na percepção da vivência as
mesmas.
Como Maitland (1992) propôs, ao trazer esta taxonomia para o universo do
Rolfing, e como Prado esclarece, a abordagem psicobiológica estabelece uma
relação entre processos físicos e psicológicos do individuo. Isso faz com se possa
estabelecer uma conexão entre nesses dois domínios.
Tal fato confirma a premissa de que o Rolfing propõe que um corpo melhor
organizado verticalmente em relação ao campo gravitacional irá funcionar de
maneira mais adequada e isso fará com que o sujeito tenha uma melhora também
em aspectos psicológicos/emocionais , além dos ganhos físicos.
Como verificado em estudos anteriores,
Os resultados observados confirmam com o que salienta como valor e
poder da relação da Gravidade com o sistema psíquico do indivíduo. A
experiência de equilíbrio, que inclui a força da gravidade é, portanto, básica
para a construção de sistemas afetivos, construção de dinâmicas do eu e do
self, e as respostas aos questionários analisadas apontam para esta direção
( PRADO, 2006, p.428)
Outro dado que deve ser discutido é o que diz respeito ao domínio
Relacionamento social, obtidos nos resultados do WHOQOL, o qual está
diretamente ligado à área comportamental do individuo.
O sujeito apresentou uma melhora também no nível de percepção do
domínio relacionamento social. Assim, verifica-se que ao haver uma melhora nos
domínios psicobiogicos do individuo, seu comportamento é afetado, havendo
também um aumento no nível do domínio de relacionamento social.
Comportamento foi definido como sendo o conjunto de atitudes e reações do
indivíduo em face do meio social. E pode-se afirmar que atitudes e reações de um
individuo são suas manifestações físicas e emocionais frente às situações
vivenciadas em seu contexto social. Tanto Schilder (1994) como Keleman ( 1999) destacam a estreita relação entre subjetividade com seu o meio social na formação da identidade do sujeito. .
Ambos propõe que um corpo só sabe de si, ou seja, só se reconhece como
individuo, se for em relação aos outros corpos que o cercam no convívio social.
Assim, perceber o outro corporalmente, bem como a expressão de seus
sentimentos é tão básico quanto perceber a si mesmo e suas próprias emoções. E
esse processo de auto reconhecimento é dinâmico e perdura por toda existência.
Fica evidenciado neste estudo de caso, assim como em trabalhos anteriores,
como o de Prado (2010) que o indivíduo ao passar pelas sessões de Rolfing, é
afetado positivamente em vários aspectos de sua subjetividade, mesmo quando tem
por objetivo apenas melhoras no domínio físico.
Esse fato revela-se ser importante para a constatação de que o Rolfing é um
tipo de trabalho corporal com potencial para levar o indivíduo a um maior grau de
autoconhecimento. Ao se conhecer melhor, ele terá mais recursos para atuar e
interagir no meio em vive de forma mais equilibrada, estabelecendo uma relação
com os outros indivíduos de maneira mais íntegra e adequada.
CAPÍTULO 5 ± CONCLUSÃO
Os resultados e analises apresentados sugerem que, como foi proposto
inicialmente, o Rolfing pode ser considerado um agente integrador entre postura
corporal , comportamento e qualidade de vida percebida pelo sujeito.
Verificou-se neste estudo de caso que o sujeito, ao passar pelo processo de
13 sessões integração estrutural Rolfing, obteve melhora na postura e aumento da
consciência e percepção corporal. Sua estrutura corporal ficou mais organizada e os
seus movimentos mais fluidos. Com isso, houve uma maior integração e
congruência entre os aspectos posturais e comportamentais do sujeito, fazendo
com que a sua projeção no mundo se tornasse mais harmônica, sua percepção de si
mesma e de sua qualidade de vida melhorada.
Como demonstrado, o processo de integração estrutural Rolfing mostrou-se
eficaz no tocante à organização e integração vertical da estrutura corporal em
relação ao campo gravitacional. Evidenciou-se também a relação entre a
organização postural e o aumento da consciência corporal. Assim, ratifica-se a
premissa de que o sujeito, ao perceber-se mais organizado corporalmente, passou a
perceber melhor o meio que em que vive, e apresentar um comportamento mais
congruente em seu ambiente social, e com isso, seu nível de qualidade de vida
aumentado.
Como consideração final, pode-se sugerir que, para a melhor exploração da
hipótese proposta, o presente estudo seja ampliado, com uma pesquisa feita com
uma amostragem maior, com sujeitos que sejam de áreas de atuação distintas.
Assim será possível avaliar de maneira mais acurada a efetiva contribuição
do método de integração estrutural Rolfing para a verificação da relação entre
melhora da postura e o aumento da consciência corporal, com adequação do
comportamento e ganhos nos níveis de qualidade de vida percebida pelo sujeito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Paulo: Atlas, 2007.
PENNA, L. Corpo sofrido e mal amado. São Paulo: Summus, 1990.
PRADO, P. Contribuições do pensamento e obra de Ida P. Rolf para o
trabalho com postura em Psicologia. 1982. Dissertação (Mestrado em
Psicologia), Universidade de São Paulo, São Paulo.
SCHULTZ, L. e FEITIS, R. The Endless Web. Berkeley: North Atlantic Books,
1996.
TAVARES, M. O Dinamismo da Imagem Corporal, São Paulo, Phorte, 2007
ANEXO A ± QUESTIONARIO WHOQOL-100
OBS: Não é possível fazer uma copia eletrônica deste questionário, pois o mesmo é
gravado em PDF e protegido. Assim ele será reproduzido somente na versão
impressa deste trabalho
ANEXO B ± QUESTIONARIO NAPER
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