Associação Brasileira de Rolfing

Rolfing Brasil – Ano XI – Nº 33 – Julho/2011

Volume: 33

O livre arbítrio foi desde sempre uma das questões mais discutidas pela filosofia, pela psicologia, sem entretanto encontrar muito espaço nas neurociências. A dificuldade de medir experimentalmente a ação voluntária é provavelmente a causa dessa omissão.

 

Finalmente nas últimas décadas, neurocientistas demonstraram experimentalmente que nosso cérebro é capaz de comandar ações antes mesmo que tenhamos consciência delas. É possível detectar a atividade elétrica cerebral antes do músculo se mexer. A idéia subjacente é de que nossa consciência não é responsável por todas as nossas ações. Como conseqüência o livre arbítrio está posto em cheque.

 

Na década de 80, o neurologista Benjamin Libet fez uma série de experimentos para provar que a atividade cerebral antecede o movimento.  Alguns voluntários sentados ao redor de uma mesa foram instruídos a pressionar um botão no momento que bem escolhessem.  Em frente a eles, um relógio marcava os segundos. Cada vez que o voluntario apertasse o botão, deveria informar ao pesquisador a posição exata do ponteiro.  Libet instalou eletrodos na cabeça dos voluntários para registrar a atividade eletroencefalográfica.  O inesperado foi a constatação de que o momento em que a pessoa decidia mexer a mão acontecia 0,3 segundos antes da mão se mexer,0,7 segundos depois da atividade cerebral.

 

Essa seqüência dos eventos era a mesma em todos os voluntários. Primeiro se detectava a atividade cerebral, 0,7 segundo depois a pessoa decidia mover a mão0,3 segundo depois do ato consciente é que a mão realmente movia.

 

Uma atividade cerebral preparatória, chamada por Libet de “readiness potential”, podia ser registrada em regiões frontais do cérebro até 1 segundo antes da ação motora.  Libet concluiu que a decisão voluntária se dá sem a contribuição da consciência. Nossa consciência é meramente informada de decisões inconscientes após o fato. A realização de atos voluntários depende do papel decisivo de áreas cerebrais que não são conscientemente controladas.

 

A seqüência temporal entre o inícioo controle das ações voluntárias é constituída pela colaboração recíproca de uma série de áreas motoras internasexternas ao córtex cerebral. Estas áreas são dependentes de estruturas subcorticais muito próximas do sistema límbico, a área principal na geração de emoções, onde não há controle da consciência consciente.

 

Os resultados destas pesquisas por seu caráter revolucionáriosurpreendente, foram amplamente discutidoscriticados.

Recentemente, outros autores encontraram dados não menos surpreendentes, que mostram que se pode prever a ação de um sujeito até 10 segundos antes dela ocorrer por meio da atividade eletromagnética no córtex pré-frontalparietal.

 

Patrick Haggard, da University College em Londres, publicou na revista Nature uma revisão de uma série de estudosfenômenos ligados ao estudo do livre arbítrio.  O cientista pesquisou um potencial de prontidão que se manifesta no hemisfério contralateral à ação motoraque está mais ligado à sensação de intencionalidade do que o próprio “readiness potencial”. Mais recentemente, Haggard começou a estudar como se dá a ligação entre uma ação motora voluntáriaa conseqüência sensorial que ela produz. Em seu artigo, faz uma bela revisão acerca dos circuitos envolvidos na ação voluntáriadas patologias que ocorrem quando alguns destes circuitos são lesados. Uma das regiões mais discutidas é a área motora pré-suplementar (pré-SMA), que fica localizada entre as áreas “cognitivas” dos lobos frontaiso córtex motor primário. Esta área parece estar diretamente relacionada com a inibição de ações voluntárias. Pacientes com lesões nesta região executam automaticamente ações ditadas por estímulos do ambiente, como por ex, beber um copo d’água unicamente por ele estar lá, mesmo não estando com sede.

 

“Todos os resultados apóiam a noção de que a atividade inconsciente do cérebro vem primeiro; a experiência consciente sobrevém como resultado”, diz Patrick Haggard.  “Em geral, as pessoas pensam que têm um livre arbítrio consciente. No entanto, esse estudo mostra que as ações podem advir de padrões de atividade cerebral pré-conscientes.”

 

Outros estudos porém, apontam para a possibilidade de uma Neurociência da vontadeda ação voluntária, levando em conta que os cérebros dos humanosdos primatas “contêm muitos circuitos corticais motores distintos que contribuem para a ação voluntária. Esses circuitos convergem para o córtex motor, que executa comandos motores pela transmissão deles à corda espinhalmúsculos”.

 

Considerando as conclusões desses estudos, um filósofo podedeve se perguntar: O que resta de voluntário no homem?

 

Trabalhando com Rolfing, venho considerando a possibilidade de agir no intervalo de tempo em que o impulso para a ação já partiu do cérebro, mas ainda não se fez consciente na mente. Penso que esse procedimento possa ser um dos fundamentos da ação antecipatória.

 

Observei que na respiração – que é nosso movimento automático mais repetitivo, temos um resultado positivo ao trabalhar os iliocostaisa crura do diafragma no momento de inflexão entre a inspiraçãoa expiração. Ou seja: induzir movimentos musculares associados à expiração antes que ela ocorra na seqüência natural.

 

É um trabalho sutilque exige concentração, mas os clientes reportam grande conforto após a manobra. Fico imaginando se essa ação antecipatória, ao agir conjuntamente nos planos estruturalfuncional, não “sincronizaria” o comando cerebral com a ação propriamente dita. Proporcionando um encontro entre o conscienteinconsciente.

 

Gostaria imensamente de conhecer a opinião dos colegas sobre a matériasaber se alguém vem pesquisando na mesma direção.

 

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<a href=’http://medicinadoseculo.blogspot.com/2009/01/enquanto-hesitamos-em-tomar-uma-deciso.html’ target=’_blank’>http://medicinadoseculo.blogspot.com/2009/01/enquanto-hesitamos-em-tomar-uma-deciso.html</a>

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