Associação Brasileira de Rolfing

Rolfing Brasil – 04/2013

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Antes de começar, gostaria apenas de dizer que Rolfing é muito mais que um trabalho de posicionamento de músculosossos,todos nós sabemos disso. No meu contato com colegas, vejo diferentes abordagens de trabalho, todas com seu valor, todas eficazes nos seus objetivos. Independente da forma de abordagemsendo a nossa referencia de trabalho, caminho de acesso, sempre o corpo, acho fundamental que conheçamos seu funcionamento mecânico a fundo. O trabalho de Gaggini nos dará acesso a esse conhecimento, independente da forma que cada um queira utilizá-lo.

Em sua teoria biomecânica, Gaggini preocupou-se em determinar as regras de funcionamentos para músculosossos. Diferentemente dos outros modelos sobre padrões que conhecemos no Rolfing, na teoria de Gaggini não existe espaço para a exceção, existem as regras,existe o que é funcionalo que não é funcional.

Vou tentar aqui explicar de maneira sucinta, se é que isso é possível sem grande prejuízo para sua teoria. Seu entendimento representa um grande avanço na capacidade de compreendermos estruturalmente nossos clientes. E assim podermos ajudar, de maneira mais efetivadentro do processo de cada um, na resolução de doresproblemas biomecânicos. Essa texto não tem a intenção de ser uma explicação exaustivasim de despertar a curiosidadeo interesse sobre o trabalho, que me ajudou muito na compreensão do funcionamento do nosso corpo.

Dentro do estudo de Gaggini existe um ponto fundamental que é o reconhecimento dos padrões biomecânicos corporais como algo universaldeterminado. Dentro desses padrões existe aquilo que é funcional, aquilo que não é funcional,aquilo que é funcional mas que poderia melhorar.

Sendo assim o primeiro passo em sua teoria seria reconhecer quais são os padrões universais de funcionalidadeidentificar esses padrões nos clientes. Já o segundo passo seria a forma de tratamento desses padrões. Para identificação destes, utilizamos muito a referencia óssea, posição de ossos. Já para o tratamento, Gaggini propõe manipulação da fáscia associada às diferentes posições dos ossos. Para isso, apresenta um detalhado estudo da musculatura associada às diferentes posições ósseas,a forma de manipulação.

Neste texto vou me preocupar em apresentar resumidamente a parte de seu estudo relativa à identificação do padrãodeterminação do que é funcionaldo que não é funcional.

 

ALINHAMENTO NATURAL:

 

Segundo Gaggini, podemos reconhecer dois tipos físicos básicos: o que é naturalmente anterioro que naturalmente posterior. O natural anterior teria uma pelve mais anterioruma cintura escapular mais posterior. E o natural posterior teria uma cintura pélvica mais posterioruma cintura escapular mais anterior.

Determinamos se a pessoa é naturalmente anterior ou naturalmente posterior pela forma dos ossos. No natural anterior os ossos chatos (sacro, occipitais, ilíacos escápulas) são mais longosestreitos, determinando uma pelve mais anterior, maiores curvas na coluna, sacrooccipital mais arredondadosuma cintura escapular mais posterior ou mais “aberta”. No tipo natural posterior teríamos o oposto: ossos chatos mais largoscurtos, pelve mais posterior, coluna com curvas menos acentuadas, sacrooccipital mais chatos, cintura escapular mais anterior ou mais “fechada”.

O reconhecimento através do formato dos ossos do padrão natural da pessoa é importante, pois, como diz Gaggini, nem todo cliente é mais feliz com uma pelve anterior, nem todo cliente pode ter um peito abertoreto. E em termos de tratamento, o reconhecimentoa aproximação dessa pessoa ao seu padrão natural, traria mais conforto para o cliente, ele estaria estruturalmente mais feliz.

 

PADRÕES DE PELVE E CINTURA ESCAPULAR:

 

Dentro desse padrão de alinhamento natural, temos que o corpo é congruentemente assimétrico. Ou seja:

– Em um padrão de uma pelve mais anterior teremos SEMPRE uma cintura escapular mais posterior,em uma pelve mais posterior SEMPRE teremos uma cintura escapular mais anterior.

– Seja a pelve mais anterior ou mais posterior, temos SEMPRE um ilíaco rodado mais anterior é o outro ilíaco mais posterior.

– Da mesma forma para a cintura escapular: sendo as escápulas de maneira geral mais anteriores ou posteriores, um lado será SEMPRE mais posterior, outro mais anterior.

Dentro do que foi dito acima temos que, a partir da determinação da posição relativa dos ossos de uma cintura, podemos prever a posição funcional das outras cinturas e, como veremos mais a frente, de todos os outros ossos é do corpo,identificar aquilo que não está funcional.

É importante observar que falamos mais posterior ou mais anterior, pois toda a análise de Gaggini refere-se à posição relativa a outra cintura ou mesmo, ao outro lado da mesma cintura.

 

SHIFT E TILT:

Falamos que tanto a pelve quanto a cintura escapular são assimétricas, ou seja, um lado mais anterior a outro mais posterior. Vamos agora um pouco mais a fundo nessa questão.

Um padrão assimétrico da pelve se repete de forma cruzada na cintura escapular, ou seja, SEMPRE que temos uma pelve com o lado direito mais anterior / lado esquerdo mais posterior, a cintura escapular terá o padrão oposto, ou seja lado direito mais posterior / lado esquerdo mais anterior.

Até aqui estamos falando de pelve anteriorpelve posterior, ou ilíaco anteriorilíaco posterior. Esse padrão diz respeito a inclinação do ilíaco em relação ao eixo transverso (paralelo ao solo). Portanto cada ilíaco pode estar em inclinação anterior (Anterior Tilt-AT) ou inclinação posterior ( Posterior Tilt-PT).

Além da inclinação no eixo transverso, temos outra posição importante dos ilíacos que diz respeito a posição de cada inominado em relação ao fêmur. Cada ilíaco ou inominado pode estar em relação ao fêmur mais anterior (Shift Anterior-AS) ou mais posterior (Shift Posterior- PS).

É importante não confundir esse conceito de shift com o conceito usado por nós, para shift de pelve, que se refere mais a um deslizamento anterior ou posterior da pelve como um todo, em relação ao tórax.

Da mesma forma que a cintura pélvica, a cintura escapular também tem esses dois movimentos em relação ao eixo transverso de inclinação anterior (Anterior Tilt -AT)inclinação posterior (posterior Tilt-PT). Já em relação ao Shift, temos a posição de cada escápula em relação ao úmero. A escápula pode estar mais anterior em relação ao úmero (Anterior Shift-AS) ou mais posterior (Posterior Shift-AS). Ou seja, no shift de cintura escapular a relação que temos é de escápula com úmeros, no shift de cintura pélvica a relação é ilíacos com fêmur.

Os padrões de ShiftTilt devem também ser opostos, ou seja, sempre que temos um lado de uma das cinturas com um Tilt Anterior, o Shift desse lado deve ser posteriorvice versa. Aqui é importante notar a palavra DEVE, pois pode ser que isso não ocorra, ou seja, que tenhamos em casos altamente não funcionais tiltshift indo para o mesmo lado.

 

FUNCIONALIDADE NA PELVE E CINTURA ESCAPULAR:

 

Lembrando que:

–  SEMPRE um padrão da pelve vem acompanhado de um padrão oposto na cintura escapular .

– Na cintura pélvica os inominados SEMPRE tem padrões opostos.

– Na cintura escapular as escápulas SEMPRE tem padrão opostos.

– E que olhando as duas cinturas esse padrão é opostocruzado.

Temos que os inominadosas escápulas podem ser estar em quatro posições relativas ao Tilt Anterior (AT)Posterior

Ou

Esquerda Direita

CE AT/PS PT/AS

CP: PT/AS AT/OS

 

Dentro de um padrão funcional que é assimétrico, onde sempre um tilt anterior vem acompanhado de um shift posteriorvice-versa, existem graus diversos de assimetria. Segundo Gaggini, quanto mais próximo da simetria a pessoa estiver, mais funcional ela será, mas nunca simétrico. Existem portanto formas de tratamentoreferências musculares, para redução dos graus de assimetria.

 

NÃO FUNCIONAL:

 

Podemos ter outro padrão de alinhamento que é o que Gaggini chama de altamente disfuncional, ou padrão AAPP(Anterior tilt + Anterior shift, Posterior tilt + Posterior shift). Aqui TiltShift vão na mesma direção. Como dissemos acima, o padrão de shifttilt deveriam ser opostos no mesmo lado.

(PT)ao Shift Anterior (AS) ou Posterior (PS). Podemos ter as seguintes posições:

 

Funcional:

AT/PS: Anterior Tilt + Posterior Shift

PT/AS: Posterior Tilt + Anterior Shift

 

Não funcional:

AT/AS: Anterior Tilt + Anterior Shift

PT/AS: Posterior Tilt + Posterior Shift

 

Essas posições estão agrupadas duas a duas, pois não existe uma mistura de combinações entre esses dois grupos em uma mesma pessoa…

O Tilt Anterior DEVERIA estar acompanhado de um shift posterior. E um Tilt Posterior deveria estar acompanhado de um Shift Anterior. E ISTO É FUNCIONAL!

Sendo CP cintura pélvicaCE cintura escapular, teríamos as seguintes opções:

Esquerda Direita

CE: PT/AS AT/PS

CP: AT/PS PT/AS

Ou
Esquerda Direita
CE AT/PS PT/AS
CP: PT/AS AT/PS


Dentro de um padrão funcional que é assimétrico, onde sempre um tilt anterior vem acompanhado de um shift posteriorvice-versa, existem graus diversos de assimetria. Segundo Gaggini, quanto mais próximo da simetria a pessoa estiver, mais funcional ela será, mas nunca simétrico. Existem portanto formas de tratamentoreferências musculares, para redução dos graus de assimetria.
NÃO FUNCIONAL:

Podemos ter outro padrão de alinhamento que é o que Gaggini chama de altamente disfuncional, ou padrão AAPP(Anterior tilt + Anterior shift, Posterior tilt + Posterior shift). Aqui TiltShift vão na mesma direção. Como dissemos acima, o padrão de shifttilt deveriam ser opostos no mesmo lado.

Num padrão AAPP como segue abaixo, uma pessoa pode ser:

Esquerda Direita

CE: PT/PS AT/AS

CP: AT/AS PT/PS

Esquerda Direita

CE: AT/AS PT/PS

CP: PT/PS AT/AS

Como disse acima, não é possível que exista uma mistura dos dois grupos de padrões funcionalNão funcional acima, ou seja, se aparece um padrão não funcional, AAPP, em qualquer um dos quatro lados, os outros também terão esse padrão.

A identificação desse padrão não funcional deve ser corrigida, segundo as formas de manipulaçãotratamento do tecido miofascial. Segundo Gaggini, o aparecimento desse padrão não funcional ou AAPP, (Anterior tilt + Anterior shift, Posterior tilt + Posterior shift) é altamente prejudicial às articulaçõesportanto não funcional, responsável pelo aparecimento de doresdeterioração de articulações.

 

FUNCIONALIDADE DOS OUTROS SEGMENTOS CORPORAIS:

 

Para encerrar, vale ainda a pena dizer que a partir do reconhecimento do padrão da pelve podemos determinar a posição funcional de todos os ossos do corpo. A partir daí, podemos identificar padrões não funcionaistratar ou manipular, com o objetivo de trazer esses segmentos próximos da funcionalidade. De maneira geral, a posição dos ossos ilíacos (um lado mais anterior, outro mais posterior) determinará a posição de todos os outros ossos do corpo,esses sempre (funcionalmente falando) trabalharão com padrões opostos de rotação.

Segue um pequenoresumido exemplo do que seria um padrão funcional nos diversos segmentos corporais, lembrando que essa noção é importante para que identifiquemos aquilo que não é funcional. Para entendimento de fato, sugiro que façam o curso de Gaggini. Pois com esse texto, gostaria apenas de ter despertado a curiosidade sobre esse trabalho,dizer que Gaggini em seu curso, além do estudo detalhado de padrões, mostra muitos testes de identificação de padrõestambém as formas de tratamento.

Cintura escapular:

Escápula mais anterior (do mesmo lado que o ilíaco é mais posterior), úmero rodado medialmente, rádioulna lateralmente,assim também os ossos do punhomão.

Pescoço:

Continua acompanhando os padrões da coluna sendo que C7 está inclinadarodada para o lado do Tilt anterior.

Ossos do crânio:

Também acompanham padrões de rotaçãocontra rotação.

Padrão funcional:

Pernas:

Ilíaco anterior, fêmur rodado medialmente, tíbiafíbula lateralmente proximaldistalmente fíbula contra roda com tíbia, táluscalcâneo rodam medial,assim para todos os ossos do pé. Outro ilíaco mais posterior, fêmur roda lateralmente, tíbiafíbula medialmenteassim por diante.

Sacrocoluna:

O sacro inclina para o lado do tilt posterior,roda para o lado do tilt anterior. Todas as outras vertebras da coluna acompanham essas contra rotações, dentro de determinados padrões.

[:][:pb]Teoria Biomecânica do Alinhamento[:]

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