António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:de]António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

?Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
?Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:fr]António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

?Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
?Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:es]António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

?Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
?Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:ja]António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

?Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
?Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:it]António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

?Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
?Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:pb]António Damásio completa sua trilogia com o livro recém-lançado Em busca de Espinosa, sobre os avanços da neurociência na compreensão dos sentimentosemoções. Qual o papel dos sentimentosdas emoções na vida humana?

Nesta revisitação de Espinosa, Damásio constatou que o filósofo intuiu a mesma coisa que os neurocientistas só agora estão descobrindo: que mentecorpo são manifestações de uma mesma substância,que os sentimentos são alicerces da mente. Damásio (2004:91) afirma que

“o sentimento de uma emoção é a percepção do corpo funcionando de uma certa maneira.”

Se os sentimentos são percepções, são comparáveis a outras percepções,também operam através de sinais sensoriais mapeados no cérebro. A diferença é que o objeto de dá origem a essas sensações está dentro do corponão fora dele, faz parte do organismo vivo que sente.

O sentimento de emoções tem, nessa linha de pensamento, uma base fisiológica comparável à de outros sentidos, como a visão ou a audição.

Os experimentoso pensamento de Damásio estão derrubando os últimos baluartes de resistência do meio científico em aceitar essa base neurobiológica dos sentimentos, em aceitar que o sistema somatossensitivo possa ser o substrato crítico para os sentimentos.

Em grande parte, as emoções são modificações do mundo interior e, por isso, os sinais sensitivos que constituem a base principal dos sentimentos de emoção são sobretudo interoceptivos. As origens principais desses sinais são as vísceraso meio interior, mas há também sinais que provêm do sistema músculo-esqueléticodo sistema vestibular.

Damásio relata que a mesma região cerebral responsável pelos sentimentos de emoção, está também ligada à recepção de sinais que representam o conteúdo dos sentimentos, tais como temperatura do corpo, estados de dor, corar ou empalidecer da pele, arrepios, comichão, sensações visceraisgenitais, alterações da musculatura lisa, pH local,outros. Este é o sentido interoceptivo, ou seja, o sentido do interior do corpo, que constitui a base principal dos sentimentos de emoção.

Damásio cita o pensamento de William James (apud Damásio(1998:158)), que pensava que sentir uma emoção depende da percepção de estados corporais:

“É-me muito difícil, senão mesmo impossível, pensar que espécie de emoção de medo restaria se não se verificasse a sensação de aceleração do ritmo cardíaco, de respiração suspensa, de tremura dos lábiosde pernas enfraquecidas, de pele arrepiadade aperto no estômago. Poderá alguém imaginar o estado de raivanão ver o peito em ebulição, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerradoso impulso para a ação vigorosa, mas, ao contrário, músculos flácidos, respiração calmaum rosto plácido?”

Ou na descrição de como o orgulho afeta a postura humana proposta por Damásio (2004:104):

“Como é possível imaginar uma postura corporal mais distinta do que aquela da pessoa que está radiante de orgulho? Aquilo que irradia são os olhos, bem abertos, bem focados no ato de incorporar o universo que os rodeia, um ato de incorporação ajudado pela elevação do queixo, pela expansão do peito que se enche de ar sem qualquer timidez, pelo andar firmesolidamente plantado no chão, apenas algumas das alterações do corpo que podemos facilmente observar. Que retrato bem diferente da pessoa que acaba de ser humilhada.”

Quando trabalhamos com o Rolfing® estamos lidando com esta matéria interoceptiva,fatalmente vamos esbarrar no sentimento de emoções. Apesar disso, é usual tratar o corpo como matéria exclusivamente biomecânica. Sempre que surge uma emoção, um sentimento, ao se manipular um tecido do corpo, isso é acompanhado de surpresa genuína, já que não se está tratando do objeto causal ou, pelo menos, catalizador, da emoção originaltemporalmente congruente. Na percepção do sujeito, a emoção fica descolada do seu agente. Aquele tecido carregado de conteúdos antigos, ao sair do estado de congelamento, libera uma carga de sentimento que surpreende o sujeito.

Como sabemos, as conseqüências psicológicas das doenças do corpo (as doenças ditas reais) são normalmente ignoradas ou levadas em conta muito mais tarde. O contrário, os efeitos dos conflitos psicológicos no corpo, são ainda mais negligenciados. Damásio observa que quando o organismo luta para alcançar o equilíbrio, quando sua organização está caótica, isso é traduzido num sentimento de ausência de prazerpor variedades de dor. Ao final do processo de Rolfing®, quando conseguimos alcançar o ideal de fluidez de movimentofacilidade de comunicação, isto é, quando a regulação da vida se torna mais eficiente, há também um sentimento de prazer, de ausência de dor.

Segundo Damásio, os mapas ligados à alegria significam estados de equilíbrio para o organismo. Refletem uma coordenação fisiológica com bem-estarsão também caracterizados por uma maior capacidade de agir.

Os mapas relacionados com a mágoa (Damásio empresta de Espinosa uma definição de mágoa que inclui angústia, medo, culpa, desespero) estão associados a estados de desequilíbrio funcional, onde a facilidade de ação reduz-se, com a presença de dor, sinais de doença ou de desacordo fisiológico, indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida, seguem-se a doençaa morte.

Devemos distinguir pelo menos dois componentes na dorno prazer. No primeiro, o cérebro organiza a representação da alteração de um estado local do corpo. Trata-se de uma percepção somatossensorial na verdadeira acepção. O segundo componente resulta de uma alteração mais genérica no estado do corpo, na verdade proveniente de uma emoção. Por exemplo, aquilo que designamos por dor ou prazer é o nome dado ao conceito de uma determinada paisagem corporal que nossos cérebros estão percebendo. A percepção dessa paisagem é modulada no interior do cérebro por neurotransmissoresneuromoduladores, os quais afetam a transmissão da informaçãoo funcionamento de setores do cérebro intervenientes na representação do corpo.

O Rolfing® pode se tornar extremamente transformador quando é possível investigar como se processam no cliente os aspectos de representação da imagem corporalos aspectos perceptuais, isto é, quando a mudança na postura corporal se efetiva através de uma mudança da sensação-sentida desta paisagem corporal.

De acordo com Damásio, portanto, os sentimentos são as testemunhas do estado da vida, são sentinelas que permitem ao nosso self tomar conhecimento desses estados. Os sentimentos são as manifestações mentais do equilíbrioda harmonia, ou, ao contrário, da desarmoniado desacordo que acontecem no interior do corpo. Não se referem necessariamente aos objetosàs situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também possam se referir a eles. Os sentimentos prevaleceram como fenômeno importante dos seres vivos complexos precisamente porque são capazes de dar testemunho da vida à medida que ocorrem na mente.

Bibliografia

Damásio, A. (1998). O Erro de Descartes: emoção, razãoo cérebro humano. Companhia das Letras, São Paulo.
Damásio, A. (2004). Em busca de Espinosa: prazerdor na ciência dos sentimentos. Companhia das Letras, São Paulo.[:]Das Emoções

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