PANO DE FUNDO
Há vários anos viemos desenvolvendo uma técnica de liberação miofascial, hoje denominada Reposicionamento Muscular (RM), que tem se caracterizado por ser particularmente precisaeconômica. No RM a aplicação de forças ocorre de forma muito especifica: imprime-se inicialmente torção dos tecidos molesentão pressão tangencial, aliadas de forma a atingir uma consistência particular, firme, que denominamos de ?eixo?. Nesta situação, a estrutura óssea parece ?armada?, exibindo maior expansão (palintonicidade) entre suas extremidades, efeito este que pode ser tanto visto pelo terapeuta como sentido pelo cliente. A hipótese que usamos para explicar este tipo de fenômeno envolveu, até agora, mecanismos passivos de tensões nos tecidos molespressão nos ossos (como ?armar a barraca?, para usar a analogia da Ida Rolf).
HIPÓTESE
Trabalhando no ?eixo? durante um tipo de manobra dirigida à região do occipital, começamos a notar uma atividade muscular de extensão nos eretores cervicais, como se o cliente estivesse empurrando a cabeça para trás. Em alguns casos esta atividade era tão forte que se expandia pelo corpo a ponto de levar o cliente a sentar-se sobre a mesa, espontaneamente. Além disso, maismais frequentemente observamos também a ocorrência de nistagmo (movimento de vai-e-vem dos olhos) durante esta manobra. Tais fatos sugeriam que este tipo de toque pode estimular a ocorrência de reflexos neurológicos, pois tais movimentos são involuntários.
TESTANDO A HIPÓTESE
Curiosos com tais observações, iniciamos, recentemente, um projeto-piloto na tentativa de medir esta possível atividade muscular. Em oito pessoas normais, eletrodos foram colocados bilateralmente sobre a musculatura paravertebral cervical, aproximadamente na altura de C3. Conforme supúnhamos, depois de um tempo variável do início da manobra cervical, observamos atividade tônica da musculatura, com o cliente totalmente relaxado. Isto sugere que o que chamamos de ?eixo? não se trata apenas de um tensionamento passivo entre tecido moleosso, mas está associado à ocorrência de reflexos tônicos.
Prosseguindo nosso estudo piloto, procuramos medir atividade da musculatura abdominal durante uma manobra na face lateral do tórax. Os eletrodos foram colocados na face antero-lateral do abdome, no espaço entre o arco costala pelvea manobra foi realizada na região do serrátil anterior. Mais uma vez medimos atividade tônica deste grupo muscular. Além disso, tal atividade mostrou-se muito semelhante àquela exibida com o sujeito em pé, sugerindo estar relacionada à atividade tônica postural fisiológica.
Se aliarmos as observações acima descritas aos efeitos clínicos observados, (como expansão axial, sensação de união das partes num todo, maior estabilidadeequilíbrio) sugerem que, de algum modo, este trabalho pode estar otimizando a função de reflexos tônico-posturais. Efeito semelhante pode estar ocorrendo com os reflexos de orientação do olhar, como o reflexo vestíbulo-ocular (VOR)o reflexo cervico-ocular (COR), pois há referência à ocorrência de nistagmo em estudos voltados a tais reflexos. Assim, é possível que sua ocorrência durante o trabalho de RM represente um mecanismo de reorganização na orientação espacial.
Tais hipóteses, caso mostrem-se verdadeiras, envolvem uma série de desdobramentos muito importantes para a prática das terapias manuais, como se segue:
UMA ABORDAGEM MAIS OBJETIVA?
O número de variáveis envolvidas na execução de uma dada abordagem manual é tamanho que, por mais que se tente traduzi-la em instruções, dificilmente será reproduzida por diferentes terapeutas. Se cada relação terapêutica já cria, por si só, um ambiente único, o que dizer das infinitas possibilidades que um determinado tipo de toque pode adotar a cada momento? Estas talvez sejam algumas das razões que tornam tão difíceis o ensinoa pesquisa de técnicas manuais. No entanto, se houver um marcador, algo que possa ser usado para balizar o efeito de uma dada técnica manual, estaremos diante da possibilidade de alguma objetividade num campo onde a subjetividade é onipresente. Se uma técnica produz um efeito fisiológico mensurável, este poderia ser usado para avaliar a adequação da sua aplicação. Este parece ser uma potencial aplicação a partir das observações acima descritas. O objetivo de uma determinada manobra poderia ser considerado como atingido desde que certo efeito fisiológico ocorresse. Assim, podemos imaginar clientes conectados a dispositivos de eletromiografia enquanto alunos aprendem a técnica ou profissionais pesquisam seus efeitos.
UMA ABORDAGEM MAIS FISIOLÓGICA E INTEGRATIVA?
A prática clínica do RM tem mostrado que o cliente, ao levantar da mesa de trabalho, frequentemente já exibe maior unicidadeestabilidade motora, além de maior confortoqualidade de movimento, isto é, apresenta maior nível de integração. Esta observação, aliada aos recentes achados acima descritos, corrobora com a idéia de que esta abordagem pode afetar diretamente mecanismos neurofisiológicos do controle motor, resultando num toque que já é integrativo per se. De fato, parece haver um reconhecimento, pelo sistema do cliente, daquele estímulo como algo apropriado. . Tal ocorrência de reflexos pode ser assim considerada uma espécie de endosso, de reconhecimento do sistema do cliente que se coloca na condição de favorecer a liberação de restrições que, de algum modo, percebe como perniciosas.
Do outro lado o terapeuta, via de regra, também experimenta um toque gostoso, que ?faz sentido?. Costumamos dizer que o terapeuta, através do toque, relaciona seu próprio eixo com o eixo do clienteque, nesta situação, ambos podem beneficiar-se, elevando assim o nível de integração de cada um.
Poderíamos ir alémpensar que estamos apenas estimulando um possível mecanismo social de cuidado mútuo, como o comportamento de tratar da pelagem dos companheiros, observado em vários animais, principalmente nos primatas.
POR QUE O TOQUE SE TORNA CIRÚRGICO
Durante uma cirurgia, a chamada divulsão romba é usada para separar estruturas (como, por exemplo, dois músculos vizinhos) com um instrumento rombo (não cortante), frequentemente os próprios dedos do cirurgião. Esta separação, para que ocorra no local desejadopara não traumatize os tecidos envolvidos, deve ser feita em direções muito precisas.
Durante as manobras de RM é possível sentir o movimento relativo dos compartimentos, o que provavelmente representa a própria divulsão romba dos planos de clivagem entre as fáscias (hipótese muitas vezes corroborada pela experiência dos vários clientes-cirurgiões que tratamos).
A firmeza produzida pelo toque ancorado no ?eixo? parece ser a referência, a bússola capaz de direcionar as forças de cisalhamento precisamente às interfaces cujas restrições têm relevância funcional, isto é, são aderências que estão efetivamente impedindo a função motora normal.
Ademais, o ancoramento no eixo oferece a contrapressão que torna possível a liberação de restrições estruturais virtualmente em qualquer região do organismo.
CONCLUSÃO
A complexidade de organização do sistema no qual estamos envolvidos é inimaginável,provavelmente nunca seremos capazes de abarcar sua imensidão. No entanto, alguns fragmentos nos são revelados. Estamos diante de novidades que nos entusiasmam muito,esperamos compartilhar deste entusiasmo com os colegas que vêem sentido nesta área de investigação.
Um abraço a todos,
Fernando Bertolucci
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Venus de Willendorf – Áustria
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