Estudo de Pacientes com Síndrome Fibromiálgica Tratados pelo Método Rolfing de Integração Estrutural
Paula Stal de Campos Maia
Estudo de pacientes com síndrome fibromiálgica
tratados pelo método Rolfing® de Integração Estrutural
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Ciências
Área de concentração: Neurologia
Orientador: Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira
São Paulo
2009
ii
DEDICATÓRIA
À querida Cacilda Campos Scaff,
que orientou e iluminou meu caminho profissional.
iii
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira, a todos os participantes
do Centro de Dor da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, aos doentes,
meus familiares e aos amigos que contribuíram para a realização
deste trabalho.
iv
SUMÁRIO
Lista de abreviaturas
Lista de tabelas
Lista de gráficos
Resumo
Summary
1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………… 01
2. OBJETIVOS………………………………………………………………………………. 04
3. REVISÃO DA LITERATURA…………………………………………………………06
3.1 Histórico do método Rolfing de Integração Estrutural………………………..07
3.2 Dor crônica e síndrome fibromiálgica………………………………………………12
3.3 Síndrome fibromiálgica e movimento………………………………………………20
3.4 Síndrome fibromiálgica e sono……………………………………………………….20
3.5 Tratamento da síndrome fibromiálgica…………………………………………….21
4. MÉTODOS………………………………………………………………………………….23
4.1 Casuística……………………………………………………………………………………24
4.2 Métodos………………………………………………………………………………………25
4.2.1 Critérios de inclusão…………………………………………………………………..25
4.2.2 Instrumentos de avaliação…………………………………………………………..25
4.2.3 Aplicação do método Rolfing de Integração Estrutural…………………….28
4.2.4 Estatística………………………………………………………………………………….30
5. RESULTADOS……………………………………………………………………………..31
6. DISCUSSÃO………………………………………………………………………………..43
7. CONCLUSÕES…………………………………………………………………………….65
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………67
9. ANEXOS ……………………………………………………………………………………..69
10. REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………..77
v
LISTA DAS ABREVIATURAS
ACR – Colégio Americano de Reumatologia
AMERT – Afecções musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho
BAI – Inventário de Ansiedade Beck
BDI – Inventário de Depressão Beck
CDCN – Centro de Dor da Divisão da Clínica Neurológica
DP – Desvio-padrão
EUA – Estados Unidos da América
HCFMUSP – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo
IASP – Associação Internacional para o Estudo da Dor
N – Números absolutos
OMS – Organização Mundial de Saúde
P – Nível de significância
SDM – Síndrome dolorosa miofascial
SFM – Síndrome fibromiálgica
SNC – Sistema nervoso central
vi
LISTA DAS TABELAS
Tabela 1 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto ao estado civil, cor da pele e
escolaridade……………………………………………………………………….. 24
Tabela 2 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à intensidade da dor, de acordo com a
Escala Analógica Numérica Verbal de Dor, antes, ao término e três
meses após o tratamento……………………………………………………… 32
Tabela 3 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à representação do Sintoma na Figura de
acordo com a ausência de dor, dor fraca, dor moderada ou dor
insuportável, antes, ao término e três meses após o
tratamento………………………………………………………………………….. 33
Tabela 4 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto ao grau de ansiedade de acordo com o
Inventário de Ansiedade Beck (BAI), antes, ao término e três
meses após o tratamento……………………………………………………… 34
Tabela 5 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto ao grau de depressão de acordo com o
Inventário de Depressão Beck (BDI), antes, ao término e três
meses após o tratamento……………………………………………………… 35
Tabela 6 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à qualidade do sono de acordo com a
questão 16 do BDI, antes, ao término e três meses após o
tratamento………………………………………………………………………….. 36
Tabela 7 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à disposição para atividades diárias e
fadiga de acordo com a questão 17 do BDI, antes, ao término e
três meses após o tratamento……………………………………………….. 37
Tabela 8 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto às limitações físicas de acordo com a
questão 15 do BDI, antes, ao término e três meses após o
tratamento………………………………………………………………………….. 38
vii
Tabela 9 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à análise da Apreciação do Próprio Corpo
como: ótima, boa, média ou baixa, antes, ao término e três meses
após o tratamento……………………………………………………………….. 39
Tabela 10 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à autoimagem de acordo com a questão
14 do BDI, antes, ao término e três meses após o tratamento…… 40
Tabela 11 – Médias, desvios-padrão (DP), medianas, valores mínimos e
máximos, número de doentes (N) e grau de significância do teste
de Friedman (P) para aferir as modificações quanto à avaliação da
Intensidade da Dor de acordo com a Escala Analógica Numérica
Verbal de Dor, Limitação Física, Qualidade do Sono, Fadiga e
Disposição, Depressão, Ansiedade, Apreciação do Próprio Corpo e
Gráficos do Sintoma e da Autoimagem, antes, ao término e três
meses após o tratamento…………………………………………………….. 41
Tabela 12 – Comparações múltiplas para avaliar ocorrência das diferenças
entre os valores observados na Escala Analógica Numérica Verbal
de Dor, Limitação Física, Qualidade do Sono, Fadiga e Disposição,
Depressão, Ansiedade, Apreciação do Próprio Corpo e Gráficos do
Sintoma e da Autoimagem, avaliados antes e ao término, antes e
três meses após o término e ao final e três meses após o término
do tratamento, em valores de distribuição da probabilidade normal
padrão (Z) e seu significado estatístico (P)……………………………… 42
viii
LISTA DOS GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) agrupados como: sem dor, dor fraca, dor
moderada, dor intensa ou dor insuportável, de acordo com a
Escala Analógica Numérica Verbal de Dor, avaliados antes, ao
término e três meses após o tratamento………………………………. 32
Gráfico 2 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) de acordo com a representação do Sintoma na
Figura, avaliados antes, ao término e três meses após o
tratamento……………………………………………………………………….. 33
Gráfico3 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto aos resultados da aplicação do
Inventário de Ansiedade Beck (BAI), agrupados como: mínima,
fraca, média ou grave, avaliados antes, ao término e três meses
após o tratamento……………………………………………………………… 34
Gráfico 4 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto aos resultados da aplicação do
Inventário de Depressão Beck (BDI), agrupados como: mínima,
fraca, média ou grave, avaliados antes, ao término e três meses
após o tratamento…………………………………………………………….. 35
Gráfico 5 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à qualidade do sono, agrupados de
acordo com a questão 16 do BDI como: dorme bem, dificuldade
para adormecer, despertar precoce ou insônia, antes, ao término
e três meses após o tratamento………………………………………….. 36
Gráfico 6 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à disposição para atividades diárias e
fadiga, agrupados de acordo com a questão 17 do BDI como:
sem cansaço, cansaço fraco, cansaço médio ou cansaço grave,
antes, ao término e três meses após o tratamento………………… 37
Gráfico 7 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto às limitações físicas, agrupados de
acordo com a questão 15 do BDI como: sem limitação, limitação
fraca, limitação média ou limitação grave, antes, ao término e três
meses após o tratamento…………………………………………………… 38
ix
Gráfico 8 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à Apreciação do Próprio Corpo
classificada como: baixa, média, boa ou ótima, antes, ao término
e três meses após o tratamento………………………………………….. 39
Gráfico 9 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em
percentagem (%) quanto à análise da autoimagem, agrupados de
acordo com a questão 14 do BDI e avaliados como: ótima, boa,
média ou baixa, antes, ao término e três meses após o
tratamento……………………………………………………………………….. 40
x
RESUMO
Maia, PSC. Estudo de pacientes com síndrome fibromiálgica tratados pelo
método Rolfing® de Integração Estrutural [dissertação]. São Paulo:
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2009.
Introdução: o método Rolfing® de Integração Estrutural é procedimento de
integração da estrutura corporal humana, que considera os aspectos físicos,
emocionais, mentais, espirituais e sociais do indivíduo. Consiste em dez
intervenções manuais profundas (liberação miofascial) aplicadas na
estrutura elástica do tecido conjuntivo frouxo (miofáscia) e em reeducação
dos movimentos. Objetivos: verificar o efeito do método Rolfing® no
tratamento de doentes fibromiálgicos quanto às modificações nas diversas
partes da estrutura física e a sua eficácia no alívio da dor e do cansaço, na
disposição para executar atividades diárias durante períodos prolongados,
qualidade do sono, estados de ansiedade e de depressão, e
autoconhecimento por meio da identificação das sensações e da
modificação da imagem corporal. Casuística e métodos: trinta pacientes do
Centro de Dor da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo foram submetidos a dez sessões
de Rolfing® e mantiveram o tratamento ambulatorial de rotina. Todos foram
avaliados de acordo com a Escala Analógica Numérica Verbal de Dor, o
Inventário de Depressão Beck, o Inventário de Ansiedade Beck, o Gráfico de
Apreciação do Próprio Corpo, o Gráfico de Sintomas e o Questionário
Experimental, aplicados durante a entrevista inicial, na última sessão e três
meses após o término da aplicação do método. Foram quantificadas a
intensidade e a frequência da ocorrência de dor, a disposição, as limitações
físicas, a qualidade do sono e o resultado do tratamento. Conclusão: a
maioria dos doentes tratados apresentou melhora da condição inicial e esta
correlacionou-se com a intervenção do método Rolfing®.
Descritores: Fibromialgia, Rolfing®, Dor.xi
SUMMARY
Maia, PSC. Study of fibromyalgic patients treated by the Structural
Integration Rolfing® method [dissertation]. São Paulo: “Faculdade de
Medicina, Universidade de São Paulo”; 2009.
Introduction: The Structural Integration Rolfing® is a method which considers
the physical, emotional, mental, spiritual and social aspects of the individual.
It consists of a series of ten sessions of deep manual therapy (myofascial
release) applied to the elastic structure of the loose connective tissue
(myofascial) of the body and also of a reeducation of movements. Objectives:
to verify the impact of the Rolfing® method in the modification of the different
parts of the physical structure of fibromyalgic patients and the treatment of
pain, and improvement of fatigue, disposition to carry out prolonged daily
tasks, sleep, stress levels, depression and self-awareness. Patients and
methods: thirty patients were treated with ten sessions of Rolfing® at the Pain
Center of the Neurological Clinic of the Hospital das Clínicas of the Faculty of
Medicine of the University of São Paulo while maintaining their previous
routine ambulatory treatment. Verbal Numerical Analogic Pain Scale, Beck
Depression Inventory, Beck Anxiety Inventory, Graphic for Appreciation of
the Own Body, Graphic of Symptoms and Experimental Questionnaire were
all used for the evaluation of the patients, before, at the end of and three
months after the end of the treatment. The intensity and frequency of pain
episodes, disposition, physical limitations, quality of sleep, anxiety and
depression were analysed. Conclusions: the Structural Integration Rolfing®
method improved the clinical condition and the quality of life of the majority of
the patients treated.
Descriptors: Fibromyalgia, Rolfing®, Pain.
1. INTRODUÇÃO
Apesar dos recentes avanços, o tratamento da dor crônica ainda não
proporciona resultados satisfatórios na maioria dos doentes, sobretudo
quando sua natureza é musculoesquelética ou neuropática.
As intervenções terapêuticas percebidas como mais eficazes para o
tratamento da síndrome fibromiálgica (SFM), condição pertencente ao
espectro da dor crônica, são representadas pelo uso de medicamentos
antidepressivos e analgésicos, repouso, sono, relaxamento, calor, reza e
massagem (Bennet et al. 2007) e devem ser ajustadas às condições
nosológicas, etiológicas e topográficas da dor e também ao grau de
comprometimento funcional, ao sofrimento e a outras questões individuais
do doente.
Field et al. (2002) observaram que a massagem pode ser útil para
tratar doentes fibromiálgicos pois proporcionou melhora dos transtornos do
sono, dos sintomas psíquicos, como ansiedade e depressão, e da dor. O
método Rolfing de Integração Estrutural busca o equilíbrio do corpo humano
no campo gravitacional com uso da prática manipulativa e com orientação e
aperfeiçoamento para a execução dos movimentos, a fim de diminuir as
limitações físicas com relaxamento muscular, proporcionar melhora da
qualidade do sono e mostrar aos doentes que é possível encontrar outros
modos de comunicar-se com eles mesmos e com os outros que não seja
pela dor.
Considerando-se que o mecanismo de adaptação fascial age pela
contração, o tecido fascial sob tensão encurta-se, espessa-se, enrijece-se e
vincula-se às estruturas vizinhas e o osso a ele conectado é tracionado; com
isso, seu ponto natural de equilíbrio é alterado. Uma vez que nos movemos
por inteiro, cada restrição do movimento, em breve, atinge sua totalidade, de
modo que os movimentos deixam de ser eficazes e ocorre consumo
excessivo de energia, pois grupos musculares adjacentes são ativados
quando deveriam permanecer em repouso (Rolf, 1999).
O método Rolfing surgiu como alternativa para inverter esse processo,
pois objetiva melhorar as funções do organismo modificando sua estrutura. À medida que se conquista um corpo mais leve e solto, pode-se permitir o
desaparecimento dos padrões pouco eficazes. O corpo humano tem
predileção natural pela verticalidade, conforto e facilidade, de modo a
permitir que a força da gravidade flua afinada com a força da pessoa (Rolf,
1999). Ida Rolf, criadora deste método, acreditava que um corpo equilibrado
torna o ser humano melhor.
É possível que este método seja útil como tratamento adjuvante de
doentes com SFM, pois pode torná-los mais aptos a aliviar sua própria dor e
a melhorar sua imagem corporal, o que justifica a presente pesquisa.
2. OBJETIVOS
A presente pesquisa visou verificar o efeito do tratamento de doentes
com SFM pelo método Rolfing® de Integração Estrutural quanto a:
1. Intensidade da dor;
2. Disposição para execução das atividades diárias;
3. Fadiga;
4. Limitações físicas;
5. Qualidade do sono;
6. Estados de ansiedade e de depressão;
7. Modificação da autoimagem.
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Histórico do método Rolfing de Integração Estrutural
“Quando o corpo começa a funcionar de modo apropriado, a força da
gravidade pode fluir através dele e espontaneamente ele se cura”.
(Ida Rolf)
Ida Pauline Rolf, criadora do método Rolfing de Integração Estrutural,
nasceu em 1896, na cidade de Nova Iorque. Em 1916, recebeu o título de
bacharel em Química e, em 1920, tornou-se Ph.D. em Bioquímica e
Fisiologia pela Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de
Columbia, Nova Iorque, Estados Unidos da América (EUA). Na década de
1950, formulou seu método que foi divulgado na década de 1960 a partir de
Esalen, Califórnia (EUA). Este método passou a ser utilizado no Brasil desde
1980 (Feitis, 1986; Prado, 1992).
De acordo com Feitis (1986), ainda moça, Ida Rolf acidentou-se e
apresentou dificuldade para respirar. Os sintomas tornaram-se mais
frequentes e complexos, o que implicou sua internação em um hospital de
Montana (EUA). Após a alta, continuou o tratamento em Nova Iorque, sob os
cuidados do Dr. Morrison, renomado médico osteopata da época e de quem
se tornou amiga. A seguir, desenvolveu sua teoria, segundo a qual a
estrutura determina a função. Assim, começou-se a consolidar a noção de
que, ao mudar-se a organização estrutural do corpo (postura), podem
alterar-se as relações ósseas das articulações e melhorar as disfunções
musculoesqueléticas.
Na década de 1920, em Genebra, Suíça, a Sra. Rolf conheceu o Dr.
Schmidt, com quem estudou Medicina Homeopática. A visão de saúde
desses profissionais e sua metodologia favoreciam o tratamento do doente,
possivelmente por induzir no organismo em desequilíbrio a produção normal
de seus próprios recursos bioquímicos. Sob este ponto de vista, doença
crônica era entendida, ao longo do tempo, como acúmulo de processos mal
resolvidos que se manifestavam de modo duradouro e resistentes aos
tratamentos.
Ida praticou exercícios de Hatha-Ioga e adotou as posturas
padronizadas pelo método durante muitos anos, buscando, inicialmente, seu
bem-estar. Com o passar do tempo, reuniu-se com um grupo de pessoas
orientadas por Pierre Bernard, seu professor, para estudar a teoria e os
princípios dessa prática. Durante as atividades em grupo desenvolveu a
ideia baseada no conceito: “um corpo equilibrado torna o ser humano
melhor”, que mais tarde se consolidou como o fruto de seu trabalho.
O Hatha-Ioga pressupõe que o ser humano necessita alongar seus
músculos. O alongamento pode ser induzido com a adoção de posturas
apropriadas. Essa prática é antiga e fundamenta-se no fato de que, para
criar-se um ser mais harmônico sob o ponto de vista emocional e espiritual,
deve trabalhar-se também seu corpo. Entretanto, Rolf percebeu que, muitas
vezes, as posturas não atingem o objetivo de alongar e liberar as
articulações pois, em grande número de casos, ocorria contração das
superfícies articulares, o que levou ao desenvolvimento de outras medidas
adicionais (Feitis, 1986).
A mesma autora narrou que, ao final da década de 1920, Ida deixou o
Rockfeller Institute, passou os 20 anos subsequentes afastada da vida
profissional e dedicou-se a vivenciar e a estudar outros métodos de
educação, saúde e alimentação. Já tinha em mente o objetivo de sua
técnica: melhorar as funções modificando a estrutura.
A partir de 1940, Rolf atendeu doentes que apresentavam
comprometimento de algumas funções motoras. Com eles, tentou transpor
os exercícios do Ioga e aliá-los aos métodos manipulativos; usou instruções
verbais para a execução dos movimentos a fim de que, com o alongamento
muscular, as articulações adquirissem mais liberdade. Imaginou que as
estruturas fasciais reajustadas possibilitariam nova organização do corpo
humano (Feitis, 1986).
Interessou-se pelo fato de o tecido conjuntivo, em termos
embrionários, derivar do mesoderma que, ainda indiferenciado, exercia
atividade protetora e que, após sua diferenciação, passava a adquirir
também a função de sustentação. Percebeu que, quando aplicava pressão
manipulativa, o tecido conjuntivo podia ajustar-se, transportando consigo
seus conteúdos e possibilitando o apoio do corpo de modo diferente, como
consequência de suas propriedades viscoelásticas. Concluiu, então, que os
ossos e o conjunto miofascial tinham, entre outras, a função de sustentar o
organismo nas diferentes posições. Contudo, verificou que, para contemplar
essa finalidade, os músculos deveriam ser alongados e direcionados
apropriadamente para que as modificações pudessem persistir.
Os tecidos moles ajustados atuam nas estruturas ósseas e articulares
de modo que, quando o tono do tecido muscular entra em equilíbrio, o
conjunto apresenta menos resistência. Ao estimular-se o tecido para
responder pronta e facilmente a determinadas situações e para a
manutenção da capacidade de repouso quando não é solicitado para
executar a ação ocorre mudança física. Em consequência da sua
elasticidade e plasticidade, é capaz de manter a forma e de ser, ao mesmo
tempo, maleável. Rolf via o corpo humano com suas partes agrupadas e
sustentadas pela ação do tecido conjuntivo. Acreditava que a ação
manipulativa atingia todo o corpo de modo que poderia reorganizá-lo. Foi
nessa fase que iniciou a elaboração dos princípios do método Rolfing.
Rolf começou a ensinar seu método sistematicamente em 1950.
Buscou formular seu trabalho com técnica bem estabelecida e com
princípios próprios; não estava interessada propriamente em curar sintomas,
mas tinha um objetivo maior: visou tornar os seres humanos melhores. À
medida que os organismos se equilibrassem, os males curar-se-iam por si
mesmos e os sintomas desapareceriam. Tinha, porém, o desafio de
entender como cada pessoa se movimenta de maneira particular e se
desalinha da verticalidade. Ainda mais complexa seria a tarefa de equilibrar
os enrijecimentos que respondiam pela forma de cada indivíduo (Feitis,
1986).
De acordo com Feitis (1986), nos anos subsequentes, ajudando
pessoas que a procuravam, ouviu relatos que transcendiam a questão do
rearranjo físico. Além do bem-estar, do alívio das tensões e do
desaparecimento de sintomas crônicos, observou que ocorriam mudanças
emocionais e de consciência corporal. Rolf percebeu que estava aplicando
os princípios aprendidos na sua trajetória intelectual. Foram essas as
origens teóricas do seu trabalho.
Todavia, necessitava de explicações científicas para apoiar e
desenvolver o que vinha constatando. Estabeleceu suas ideias no primeiro
artigo publicado sobre o tema em junho de 1963, onde narrou a complexa
relação das massas corporais com a gravidade e defendeu a ideia de que,
quando o arranjo estrutural humano é organizado em torno da linha
gravitacional (linha vertical em relação ao solo), a distribuição da massa do
corpo torna-se simétrica, balanceando, assim, sua ação. Em 1969, em
Esalen, organizou projeto de pesquisa sobre os efeitos do método Rolfing
em um hospital e, em 1971, pôde finalmente concluir que esse método
aproxima o organismo de sua natureza e torna mais eficiente o uso de sua
energia (Feitis, 1986).
Para que esse método e sua prática fossem aplicados a todas as
pessoas, organizou-o em dez sessões ou etapas. Durante dez anos, ensinou
e apresentou conferências sobre o tema nos EUA e na Inglaterra. Na década
de 1960, encontrou campo fecundo para divulgar seu trabalho. Nessa época,
os enfoques psicoterapêuticos estavam sendo revistos, como, por exemplo,
a questão psicossomática, suas abordagens e técnicas. Esalen era a sede
dos movimentos de psicologia humanística. Nesse ambiente experimental e
aberto, o método Rolfing encontrou espaço para reflexão e aprimoramento.
Diversos profissionais destacados da época como Fritz Pearls, em In and
Out the Garbage Can, Will Shuttz, em Joy, Ken Ditchland, em Body Mind,
Hector Prestera, em Body Language, e outros autores desenvolveram
projetos e publicaram suas experiências com o método.
Durante o período de 1970 a 1976, boa parte da divulgação do
método Rolfing resultou de entrevistas, palestras e artigos escritos. Muitos
desses artigos pretenderam comparar as técnicas de terapias corporais da
época (Feitis, 1986).
Feitis (1986) concluiu que uma importante contribuição de Rolf foi o
significado que deu à estrutura humana. Segundo a autora, “o
reconhecimento abrangente da estrutura humana inclui tanto a pessoa física
como seus aspectos psicológicos – comportamento, atitudes e capacidades”
(Rolf, 1999). Enfatizou que a estrutura humana não devia ser sinônimo de
postura e defendeu a ideia de que referir-se a essa estrutura significava
olhar para o ser humano em suas relações consigo mesmo e com o
ambiente em que vive.
Em 1979, momento em que havia aproximadamente 250 praticantes
de Integração Estrutural, Ida Rolf faleceu. Com a morte de sua criadora, o
método continuou sendo praticado pelos profissionais da época, alguns
oriundos do meio acadêmico. Em 1980, foi fundado o “Aspen Research
Center” para atender, de modo independente, às necessidades das
pesquisas ligadas ao método Rolfing (Feitis, 1986).
A fim de sistematizar o ensino dessa técnica, Jeff Maitland e Jan
Sultan, dois de seus alunos, publicaram um artigo, em 1992, em que
formalizaram a definição do método Rolfing e esclareceram seus princípios
(Feitis, 1986).
Esses princípios são regras fundamentais que permitem o processo
de elaboração de estratégias e a tomada de decisões clínicas, e derivam de
um princípio maior, o holismo, que se baseia no fato de o corpo humano ser
um todo, onde nenhuma parte é mais importante para a organização do todo
do que o todo em si. Assim como o corpo é uma unidade, a disfunção
somática também o é, e está refletida em todos os aspectos do ser humano.
Compreender áreas locais de disfunção depende de compreender o estado
geral e sua relação com o ambiente. Corpos vivos são sistemas autoorganizadores e autorreguladores (Maitland e Sultan, 1992).
O desenvolvimento desse método percorreu caminhos indutivos e
empíricos, em que sua criadora integrou vivências pessoais, estudos
gerados por interesses em novas possibilidades para solucionar problemas
clássicos, além de trabalho, coragem e intuição, esta entendida como a
habilidade de penetrar-se em outras realidades. Quarenta anos de pesquisa
fortaleceram Ida Rolf e proporcionaram-lhe visão diferenciada, produto do
tempo e da experiência, que lhe permitiu criar essa técnica que pôde
contribuir não só para o desenvolvimento da intuição de seus praticantes
como também para colocá-la a serviço de outros (Feitis, 1986).
3.2 Dor Crônica e Síndrome Fibromiálgica
De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor
(IASP), “dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável
decorrente ou descrita em termos de lesões teciduais, reais ou potenciais”
(IASP, 1996).
A dor é sintoma de muitas doenças somáticas musculoesqueléticas,
viscerais ou neurológicas e pode ser componente de certas doenças
psiquiátricas. Pode decorrer de processos infecciosos, inflamatórios,
traumáticos, neoplásicos ou degenerativos, dentre outros, mas pode instalarse, também, sem causa evidente (Helfensteins, 1997).
Frutuoso e Cruz (2004) consideraram a dor como fenômeno sensitivo
(intensidade, localização), emocional (sofrimento, medos) e cognitivo
(avaliação do próprio doente sobre a dor em seu momento atual). O doente
com dor crônica frequentemente organiza sua vida em função dela pois,
quando esta se torna motivo de preocupação constante e diária, provoca
relação de ambivalência e dependência com familiares e profissionais. O
doente geralmente é passivo e reage inadequadamente no manejo da raiva
e da hostilidade, usa sua dor como meio simbólico de comunicação, tem
baixa autoestima e pouca tolerância ao estresse, tende a vitimizar-se e não
demonstra prazer em viver.
A avaliação da dor depende da adaptação do doente a seu ambiente
e da experiência dolorosa no contexto da sua vida. A dor psicogênica e a dor
somática coexistem, pois fatores psicológicos alteram na expressão da dor e
esta causa impacto no bem-estar psíquico dos indivíduos. Deve-se estar
atento aos relacionamentos interpessoais e da família junto ao doente pois,
muitas vezes, a família incentiva-o a manter e a magnificar a dor com a
adoção de cuidados exagerados e infantiliza-o, condições que reforçam sua
desadaptação (Figueiró, 1999).
A síndrome dolorosa miofascial (SDM) e a SFM são bastante comuns
(Kadi e Thomell, 1998; Uveges et al., 1990). Nos EUA, cinco milhões de
adultos, ou seja, aproximadamente 2% da população, manifesta sintomas
fibromiálgicos. A SFM ocorre mais em mulheres do que em homens e
acarreta alto custo social em virtude da resultante incapacitação para o
trabalho e para outras atividades e suas repercussões (Wolfe et al., 1995).
Fischer (1997) conceituou a SDM como disfunção primária, insidiosa
ou não, manifesta em ambos os sexos e instalada em músculos específicos.
Pode ser desencadeada por lesões musculoesqueléticas agudas localizadas
que ocorrem, por exemplo, após traumatismos, adoção de posturas
inadequadas, vivência de estresses emocionais, desuso prolongado e
limitação dos movimentos confinados aos músculos afetados (Kadi e
Thomell, 1998; Uveges et al., 1990). A amplitude do movimento pode
reduzir-se em virtude do acomentimento muscular. A sensibilidade à pressão
e à dor é geralmente mais expressiva em um dos lados, porém, geralmente
é bilateral (Wolfe et al., 1995).
O nome fibromialgia deriva da junção de três termos, ou seja, termo
do latim fibra (ou tecido fibroso), do prefixo grego mio, que diz respeito aos
músculos e do termo grego algos (algia), que significa dor. A SFM é
reconhecida desde meados do século XIX. Yunus et al. (1981) sugeriram o
termo fibromialgia como substituição a fibrosite pois, em casos de SFM, não
há inflamação tecidual mas apenas dor muscular difusa relacionada a outras
anormalidades do sistema nervoso central (Yunus, 1994).
A SFM é doença crônica caracterizada como dor musculoesquelética
generalizada, difusa e persistente, frequentemente associada a rigidez
matinal, fadiga, anormalidades sensitivas, neurovegetativas, cognitivas e do
sono, cefaléia, hipersensibilidade ao frio, hiperemia cutânea, dismenorréia,
bexiga ou intestino irritável, ansiedade, depressão, irritabilidade e/ou déficit
de memória (Bennett, 1999). Os sintomas de depressão traduzem-se como
fadiga, desânimo, falta de energia, anormalidades do sono e dor crônica.
Não ocorre fraqueza muscular significativa; esta, quando presente, deve-se
geralmente à dor e ao desuso (Fassbender et al., 1997; Hales e Clonginger,
1994; Moldofsky et al., 1975).
O diagnóstico da SFM é clínico pois não há evidências de
anormalidades laboratoriais nem radiológicas nos doentes que dela
padecem (Wolfe et al., 1995). O Colégio Americano de Reumatologia (ACR)
sugeriu os seguintes critérios diagnósticos para SFM: histórico de dor
generalizada localizada nos hemicorpos direito e esquerdo, rostral e
caudalmente à cintura, nas extremidades e no eixo axial (regiões das
colunas vertebrais cervical, dorsal e/ou lombar e face anterior do tórax) e
com duração de, pelo menos, três meses. O exame físico deve evidenciar
dor à pressão digital bilateralmente nas áreas denominadas de pontos
dolorosos, por sua vez localizados em 11 ou mais dos seguintes 18 pontos:
. inserção dos músculos suboccipitais na nuca;
. ligamentos dos processos transversos da quinta à sétima vértebras
cervicais;
. segmento rostral do trapézio;
. músculo supra-espinhoso;
. junção do músculo peitoral com a articulação costocondral da segunda
costela;
. área situada dois centímetros proximal ou distalmente ao epicôndilo lateral
do cotovelo;
. quadrante súpero-lateral da região glútea e distal à espinha ilíaca;
. inserções musculares no trocânter femoral;
. região situada dois centímetros rostralmente à linha articular do côndilo
medial do fêmur.
A dor é a principal manifestação da SFM. É descrita como peso,
formigamento, queimor, ardor, pontada, etc. Sua intensidade varia de
discreta a insuportável; pode iniciar-se em uma região e generalizar-se sem
razão aparente (Menses, 1993). O corpo todo dói, doem sobretudo os
músculos, as articulações e os tecidos moles, como tendões, ligamentos e
fáscias musculares. É comum haver cansaço desproporcional ao esforço
desenvolvido. Há tendência de os sintomas agravarem-se com o passar do
tempo.
A SFM manifesta-se como episódios intermitentes de melhora e piora.
A dor torna-se intensa durante alguns meses e ulteriormente estabiliza-se,
do que decorrem graus variados de incapacidade física (Fransen e Russel,
1996). O diagnóstico diferencial da SFM inclui, dentre outros, a SDM, as
poliartrites, o hipotireoidismo, as polineuropatias periféricas e a polimialgia
reumática (Fischer, 1997).
Doentes com SDM apresentam dor e fraqueza regionalizada, ao
passo que doentes com SFM apresentam dor e fadiga generalizadas. À
medida que a dor se cronifica, alguns doentes com SDM podem desenvolver
SFM. A ocorrência desta não depende da idade, nível cultural ou sócioeconômico do doente. Doentes com tendinopatia ou afecções
musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho (AMERT) podem também
apresentar SFM. No Centro de Dor da Clínica Neurológica (CDCN) do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (HCFMUSP), 25% a 32% dos doentes com AMERT apresentam SFM
(Lin et al., 1997). Atividades prolongadas e repetidas mantidas na mesma
posição e execução de tarefas estressantes não são bem toleradas por
doentes com SFM. Ocupações em que as atividades são mais variadas e
menos sedentárias e que permitem mudança de posição são mais toleradas
(Lin et al., 1997).
A SFM parece decorrer, sobretudo, de anormalidades funcionais do
sistema nervoso central (SNC). A dor experienciada pelos doentes pode
resultar das anormalidades do processamento sensitivo devidas à
deficiência do controle inibitório da nocicepção e da inadequação da
modulação da sensibilidade dolorosa; ambas reduzem a tolerabilidade à dor
(Bennett, 1999; Lautenbacher e Rolman, 1997). É possível que
anormalidades periféricas possam desempenhar algum papel na patogênese
da síndrome. Os nociceptores são ativados por estímulos mecânicos,
térmicos e/ou químicos teciduais e/ou pela inflamação gerada pela ação de
neurotransmissores liberados retrogradamente, do que resultam aumento da
atividade motora e instalação da SFM (Menses, 1993).
De acordo com Menses (1993), no mecanismo de hiperalgesia
observada nos tecidos profundos de doentes com SFM participa a
sensibilização dos neurônios do SNC, pois há aumento da atividade de
neurotransmissores excitatórios e deficiência da atividade dos
neurotransmissores inibitórios, do que resulta percepção alterada dos
estímulos nociceptivos. Há também possíveis fatores neuro-endócrinos
relacionados ao mecanismo que origina e processa a nocicepção no SNC.
Acredita-se que haja, adicionalmente, desbalanço químico causado pelas
alterações hormonais nessa comunicação e que este desencadeie outros
sintomas.
Doentes fibromiálgicos geralmente relatam sono não-reparador e
fadiga, e apresentam alterações do humor. A liberação do hormônio do
crescimento ocorre principalmente nos estágios 3 e 4 do sono não-REM, ou
seja, é possível que a secreção inadequada deste hormônio decorra da
disfunção desta fase do sono em doentes com SFM (Menses, 1993).
Bennett et al. (1992) observaram que a alteração na secreção do hormônio
do crescimento, molécula relacionada à homeostase muscular, poderia
contribuir para a recuperação insatisfatória dos indivíduos frente aos
microtraumatismos musculares e também para a ocorrência de dor
musculoesquelética em doentes com SFM.
Nesses doentes ocorre hiperatividade do sistema nervoso vegetativo
simpático (Bennett, 1999). Tais evidências sugerem que as anormalidades
do sistema modulatório sejam produto da disfunção primária do SNC
associada a mecanismos que geram estresse (Menses, 1993). Nos doentes
com dor crônica, tal como ocorre em casos de SFM, as sensações
corpóreas amplificam-se e resultam em amplo quadro de sintomas
somáticos (Menses, 1993; Bennett, 1992). A SFM pode também
correlacionar-se a alterações musculares decorrentes de contraturas e de
transtornos metabólicos. Entretanto, possíveis anormalidades e diferenças
biológicas observadas na composição muscular de doentes fibromiálgicos
parecem não ser a causa mas o resultado da sua condição original.
A dor e a fadiga são agravantes dos estresses. A resposta ao
estresse persistente talvez ocasione anormalidades no eixo neuroendócrino, nas unidades serotoninérgicas do SNC e no sistema nervoso
neurovegetativo simpático (Bennett, 1999).
A SFM constitui-se de sintomas próprios da reação às tensões
emocionais com transtornos psicossomáticos. As dores físicas geralmente
agravam-se quando há incompreensão dos outros. Além do sofrimento, o
doente compromete sua qualidade de vida. As dores e os demais sintomas
limitam os contatos sociais e podem romper laços afetivos. Os doentes com
SFM queixam-se de desconfiança e de falta de credibilidade de seus
familiares, colegas e profissionais da saúde (Atra, 1993). A atividade mental
do indivíduo influencia a sensação dolorosa desagradável, o que significa
que a atividade cortical pré-frontal (pensamentos positivos ou negativos)
pode modificar a percepção da dor. Esta é a base funcional da somatização
e da eficácia da terapia cognitivo-comportamental em doentes com SFM
(Bennett, 1999).
A maioria dos estudos revela que há anormalidades
psicocomportamentais em doentes com SFM. Um terço dos fibromiálgicos
atendidos em clínicas reumatológicas apresenta anormalidades psicológicas
caracterizadas como estresse mental e ansiedade significativos (Turk et al.,
1996). A dor crônica é condição estressante e interfere na capacidade de
atenção, concentração e memória, ou seja, no funcionamento cognitivo e no
processamento das informações. A SFM tem origem indeterminada, sua
cura é incerta e gera sentimentos de vulnerabilidade e desamparo. Talvez,
por isso, muitos fibromiálgicos interpretem sua condição como muito mais
grave do que realmente é (Portnoi, 1999). Turk et al. (1996) notaram relação
entre dor e anormalidades psicossociais e comportamentais além da
incapacidade para lidar com ela e com o funcionamento físico em 87% dos
doentes com SFM. Como estes doentes sofrem modificação da
funcionalidade na ausência de alterações fisiológicas específicas, atribuiu-se
a origem da SFM também a fatores psicológicos que influenciam os
sistemas de percepção e de modulação da dor.
Em casos de dor crônica, o comportamento fundamenta-se em
estratégias inadequadas de enfrentamento, o que pode resultar não apenas
em agravar a incapacidade funcional mas também em magnificar o
desconforto em decorrência do descondicionamento físico. A dor crônica
presente nos doentes com SFM causa não somente ansiedade e depressão,
como também sentimentos de desesperança, hipocondríase, raiva, negação
e dependência. Pode ser desencadeada por um estresse ou por fatores
psicológicos que contribuem para o início, manutenção e piora da dor e que
influenciam os mecanismos de sua modulação e percepção (Portnói, 1999).
A experiência dos doentes com SFM é dissociativa pois, embora a dor
seja contínua, a afecção não é progressiva nem degenerativa e não ameaça
a sobrevivência, mas causa danos e prejuízos físicos concretos (Aaron et al.,
1996). O estresse psicológico pode causar transtornos psíquicos, uma vez
que, como tentativa de evitar ou mesmo de suportar a dor, os fibromiálgicos
reagem frente às situações estressantes com dor neuromuscular (Portnói,
1999).
Utilizando técnicas e testes variados, foram observadas alterações
psiquiátricas, incluindo-se a depressão, em mais de 80% dos doentes com
SFM (Fassbender et al., 1997). McCain (1994) constatou que 71% dos
doentes com SFM apresentava depressão e 26%, transtorno de ansiedade.
Entretanto, a depressão não é significativamente mais expressiva nos
doentes com SFM do que naqueles com outras dores crônicas (Fassbender
et al., 1997). A SFM não é comum em doentes com depressão maior, uma
vez que muitos indivíduos deprimidos que se queixam de dor difusa não
apresentam os numerosos pontos dolorosos no corpo característicos da
SFM (Fassbender et al., 1997).
Em doentes com SFM, a dor pode ser manifestação somática de um
transtorno psiquiátrico que inicialmente pode ter base orgânica, mas que,
com frequência, é magnificado ou perpetuado por fatores não-orgânicos, o
que induz à incapacidade desproporcional aos sintomas. É provável que as
anormalidades psicológicas sejam consequência da condição de dor crônica
e que a condição psicológica alterada não seja requisito para o
desenvolvimento da SFM (Helfenstein, 1997; Mc Cain,1994; Weiner e Goetz,
2003).
A fadiga agrava-se por causa das alterações do sono e dos fatores
psicológicos; relaciona-se ao descondicionamento físico, à escassez de
estratégias de enfrentamento e às disfunções neuro-endócrinas (Helfenstein,
1997; Mc Cain,1994; Weiner e Goetz, 2003).
O mecanismo responsável pela dor é incerto. A dor pode
desencadear espasmo muscular reflexo protetor que, por sua vez, pode
causar mais dor e resultar em limitação progressiva dos movimentos, rigidez,
outras dores localizadas e/ou adoção de posturas inadequadas (Helfenstein,
1997). A dor musculoesquelética pode melhorar com o repouso e com o uso
de medicamentos anti-inflamatórios, analgésicos simples, opioides,
relaxantes musculares e antidepressivos, principalmente na fase aguda
(Bennett et al.,1997). Segundo McCain (1994), apenas 50% dos doentes
com SFM melhora após a aplicação das intervenções atualmente
disponíveis.
Poderia o movimento contribuir para o alívio da dor?
3.3 Síndrome Fibromiálgica e Movimento
Bigelow (2000) formulou a seguinte questão: “alguém já lhe ensinou
como usar o movimento para aliviar a dor?” Enfatizou que, com movimentos
inadequados, a dor tende a aumentar porque o funcionamento muscular
desorganiza-se devido a seu mau uso, aumento de peso, sobrecarga e
inatividade. A “chave” para o tratamento da SFM seria a manutenção do
corpo em constante movimento, que idealmente deve ser executado de
maneira suave, fácil e confortável, sem sobrecarga. Enfatizou a importância
de o sono ser reparador para promover o descanso. A partir disso,
incentivou os doentes a deixarem a vida sedentária e a executarem
atividades moderadas, inicialmente durante curtos períodos de tempo, mas
várias vezes ao dia. Pouco a pouco, propôs que iniciassem a execução de
exercícios aeróbicos leves e alongamento para fortalecerem gradualmente
sua musculatura e orientou-os a exercitarem-se com as atividades diárias e
a realizarem condicionamento físico adequado, equilibrando esforço e nãoesforço, buscando flexibilidade.
3.4 Síndrome Fibromiálgica e Sono
De acordo com Bigelow (2000), fibromiálgicos comumente acordam
cansados, sem ânimo e sem energia, pois a insuficiência do sono reparador
não recupera o tecido das fissuras e lesões musculares naturalmente
causadas pelas atividades do dia-a-dia. O sono relatado pelos doentes
geralmente é mais cansativo do que relaxante: “parece que carreguei pedras
durante a noite toda” ou “acordo como se tivesse sido atropelada”.
Pensamentos recorrentes e obsessivos também impedem o sono. A
sensação é de estarem dormindo e acordados ao mesmo tempo. É comum
terem sonhos com conteúdo de pavor e de angústia. A insônia presente em doentes com SFM manifesta-se tanto como dificuldade para iniciar o sono (geralmente relacionada à intensidade da dor),
quanto para mantê-lo profundo. Como consequência, o sono não é
restaurador, há despertares frequentes e instalam-se sensações de
irritabilidade e de cansaço. Cria-se círculo vicioso onde o sono insatisfatório
não é capaz de recuperar as condições dos tecidos, fenômeno que pode
causar dor. O doente sedentário tem sono ineficaz e tende a reagir à dor
com enrijecimento muscular, o que aumenta a dor (Bigelow, 2000).
A mesma autora ainda acrescentou que o movimento adequado pode
ajudar o doente a reorganizar seu aparelho locomotor, mas a recuperação
da qualidade do sono é condição essencial para que ocorra o processo
natural de equilíbrio fisiológico.
Portanto, o tratamento da SFM deveria incluir o controle da dor e da
fadiga, a melhora do padrão do sono, das anormalidades do humor e da
funcionalidade, a reintegração psicossocial, a prevenção da recorrência dos
sintomas e a manutenção da qualidade de vida (Bigelow, 2000).
3.5 Tratamento da Síndrome Fibromiálgica
De acordo com Bennet et al. (2007), as intervenções terapêuticas
percebidas como mais eficazes para a melhora da SFM são: medicamentos
antidepressivos e analgésicos, repouso, sono, relaxamento, calor, reza e
massagem.
Field et al. (2002) mostraram que a massagem pode ser útil para
tratar doentes fibromiálgicos pois proporciona melhora dos transtornos do
sono, dos sintomas psíquicos, como ansiedade e depressão, e da
intensidade da dor.
O método Rolfing busca o equilíbrio do corpo humano no campo
gravitacional via prática manipulativa, orientação e aperfeiçoamento dos
movimentos (Rolf,1999). A fim de diminuir as limitações físicas com o
relaxamento muscular e proporcionar melhora da qualidade do sono, revela
aos doentes que é possível encontrar outros modos de comunicar-se com si
mesmos e com os outros que não seja pela dor. Assim sendo, este método
surge como possibilidade de tratamento adjuvante para a SFM de modo a
tornar os doentes mais aptos a aliviar a própria dor e a melhorar sua
autoimagem.
4. MÉTODOS
4.1 Casuística
Trinta doentes do sexo feminino e com idades variando de 28 a 62
anos, diagnosticadas de acordo com os critérios médicos propostos pelo
Colégio Americano de Reumatologia (ACR), como sofredores de SFM, foram
avaliadas e submetidas a dez sessões do método Rolfing durante o período
compreendido de setembro de 2004 a agosto de 2006 no CDCN-HCFMUSP.
Todos os doentes participaram voluntariamente da pesquisa, assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido (anexo II) e dispuseram-se a
atender às propostas do protocolo da pesquisa que foi registrada com o
número 305/04 e aprovada pela Comissão de Ética (Anexo A) para a Análise
de Projetos de Pesquisa da Diretoria Clínica do HCFMUSP em 27 de maio
de 2004.
Tabela 1 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto ao estado civil, cor da pele e escolaridade.
Variável N %
Estado Civil
Solteira 8 26,7
Casada 16 53,3
Divorciada 3 10,0
Viúva 3 10,0
Cor da Pele
Branca 23 76,7
Parda 7 23,3
Escolaridade (anos de estudo)
Fundamental (até 8 anos) 20 66,7
Médio (até 11 anos) 5 16,7
Superior (acima de 11 anos) 5 16,7
4.2 Métodos
4.2.1 Critérios de inclusão
Foram incluídos, randomicamente, doentes capazes de compreender
e responder aos quesitos dos testes propostos ao início, término e três
meses após o tratamento. Todos foram submetidos a dez sessões do
método Rolfing e mantiveram o tratamento rotineiro previamente executado
no CDCN-HCFMUSP. Foram analisados os seguintes parâmetros:
– Intensidade da Dor;
– Nível de Ansiedade e de Depressão;
– Qualidade do Sono;
– Sensações de Fadiga, Disposição e Limitações Físicas ;
– Apreciação do Próprio Corpo e Autoimagem.
4.2.2 Instrumentos de avaliação
– Escala Analógica Numérica Verbal de Dor;
– Inventário de Depressão Beck |BDI| (1992) adaptado para a língua
portuguesa (Cunha, 2001);
– Inventário de Ansiedade Beck |BAI| (1992) adaptado para a língua
portuguesa (Cunha, 2001);
– Gráfico de Apreciação do Próprio Corpo (Anexo V) para avaliar a
representação da Imagem Corporal;
– Gráfico de Sintomas (Anexo IV) para avaliar a representação da
intensidade da dor.
A Escala Analógica Numérica Verbal de Dor consistiu em se mensurar
a dor numa escala de zero a dez: os doentes foram instruídos a verbalizar o
ponto correspondente à magnitude de sua dor entre os extremos, zero, ou
seja, “sem dor” e dez, ou seja, “dor insuportável”. Os resultados da avaliação
da magnitude da dor foram subdivididos em cinco categorias, a saber: zero =
sem dor; 1 ou 2 = dor fraca; 3, 4 ou 5 = dor moderada; 6 ou 7 = dor intensa;
8, 9 ou 10 = dor insuportável.
O BDI teve como objetivo mensurar a intensidade da depressão. Os
ítens foram selecionados com base na observação e relato das atitudes mais
frequentes em doentes psiquiátricos com transtornos depressivos e
referiram-se a: 1) Tristeza; 2) Pessimismo; 3) Sentimento de fracasso; 4)
Insatisfação; 5) Culpa; 6) Punição; 7) Autoaversão; 8) Autoacusações; 9)
Ideias suicidas; 10) Choro; 11) Irritabilidade; 12) Retraimento social; 13)
Indecisão; 14) Mudança da autoimagem; 15) Dificuldade de trabalhar; 16)
Insônia; 17) Fatigabilidade; 18) Perda de apetite; 19) Perda de peso; 20)
Preocupações somáticas; 21) Perda da libido.
O BAI teve como objetivo mensurar a intensidade dos sintomas de
ansiedade com o uso de escala de autorrelato (Beck e Steer,1993ª). É
constituído de 21 ítens, que são “afirmações descritivas de sintomas da
ansiedade” (Beck e Steer,1993a
, p.2), e que devem ser avaliados pelo
sujeito com referência a si mesmo numa escala de quatro pontos. Os ítens
são: 1) Dormência ou formigamento; 2) Sensação de calor; 3) Tremor nas
pernas; 4) Incapacidade de relaxar; 5) Medo de que aconteça o pior; 6)
Atordoado ou tonto; 7) Palpitação ou aceleração do coração; 8)
Desequilíbrio; 9) Terror; 10) Nervosismo; 11) Sensação de sufocação; 12)
Tremor nas mãos; 13) Tremor; 14) Medo de perder o controle; 15)
Dificuldade de respirar; 16) Medo de morrer; 17) Sensação de estar
assustado; 18) Indigestão ou desconforto no abdome; 19) Sensação de
desmaio; 20) Rosto afogueado; 21) Suor (não devido ao calor).
A qualidade do sono foi avaliada de acordo com a resposta da
questão 16 do BDI que o classifica como: 0 = dorme bem; 1 = dificuldade
para adormecer; 2 = despertar precoce; 3 = insônia.
As sensações de fadiga e de disposição para execução das
atividades diárias foram avaliadas de acordo com a resposta da questão 17
do BDI que as classifica como: 0 = não fico mais cansado do que o habitual;
1 = fico cansado mais facilmente do que costumava; 2 = fico cansado ao
fazer qualquer coisa; 3 = estou cansado demais para fazer alguma coisa.
A sensação de limitações físicas foi avaliada de acordo com a
resposta da questão 15 do BDI que a classifica como: 0 = posso trabalhar
tão bem quanto antes; 1 = é preciso algum esforço extra para fazer alguma
coisa; 2 = tenho que me esforçar muito para fazer alguma coisa; 3 = não
consigo mais fazer qualquer trabalho.
Com a finalidade de facilitar e permitir a autoavaliação dos principais
aspectos da representação psicológica do corpo feminino foram utilizados o
Gráfico da Apreciação do Próprio Corpo e o Gráfico de Sintomas, baseados
na figura do Roteiro para Autoavaliação da Imagem Corporal (Penna, 1989),
adaptados por psicólogo.
Solicitou-se que os doentes pintassem no desenho do corpo humano
as regiões onde sentiam dor (Anexo IV) para representar o Sintoma na
Figura. As respostas foram classificadas como: não tendo pintado nada na
figura = sem dor; pintado menos de 1/3 da figura = dor fraca; pintado de 1/3
a 2/3 da figura = dor moderada; pintado mais de 2/3 da figura = dor
insuportável.
Solicitou-se, a seguir, que os doentes pintassem na figura (Anexo V)
as regiões do corpo de que não gostavam, para analisar a representação da
autoimagem. As respostas foram classificadas como: não tendo pintado
nada = autoimagem ótima; pintado menos de 1/3 = autoimagem boa; pintado
de 1/3 a 2/3 = autoimagem média; pintado mais de 2/3 = autoimagem baixa.
A autoimagem foi também avaliada de acordo com a resposta da
questão 14 do BDI que a classifica como: 0 = não acho que de qualquer
modo pareço pior do que antes; 1 = estou preocupada em estar parecendo
velha ou sem atrativo; 2 = acho que há mudanças permanentes que me
fazem parecer velha ou sem atrativo; 3 = acredito que pareço feia.
Foi também realizada entrevista aberta e elaborada por psicólogo com
o objetivo de coletarem-se dados sobre o estado do doente e sobre a
evolução do tratamento nos três momentos da avaliação (Anexo III).
4.2.3 Aplicação do método Rolfing de Integração Estrutural
O processo foi aplicado em dez sessões e apresentou objetivos gerais
comuns e particulares. Os doentes que participaram desta pesquisa foram
atendidos individualmente a fim de que pudessem receber o tratamento da
maneira mais eficaz possível.
Na primeira sessão, trabalhou-se com a liberação miofascial dos pés
e das regiões lombar e occipital. Estimulou-se a liberdade respiratória do
diafragma e apontou-se que o eixo vertical apresenta duas direções (cabeça
rostralmente e pés caudalmente). Nas sessões seguintes, foram sempre
relembrados os pontos trabalhados nas sessões anteriores tanto com a
manipulação e movimentos quanto com as sensações obtidas.
Na segunda sessão, o foco foi o suporte para auxiliar o doente a
perceber e a fortalecer o contato dos pés com o solo, a flexibilidade dos
joelhos e seu equilíbrio. A liberação miofascial também focalizou-se nos pés
e nas pernas.
Na terceira sessão, iniciou-se o aprimoramento dos movimentos
contralaterais. Para auxiliar a pelve a alinhar-se com o tórax, a liberação
miofascial concentrou-se nas cinturas escapular e pélvica.
Na quarta sessão, ajustou-se a pelve com a manipulação dos
músculos abdutores e adutores das coxas, unindo-os ao suporte disponível.
Na quinta sessão, enfatizou-se a respiração, estimulando-se a
movimentação dos braços e o suporte das pernas com leveza e flexibilidade.
Na sexta sessão, trabalharam-se os músculos isquiotibiais e
paravertebrais. O foco foi a percepção da coluna vertebral, o alongamento
da cadeia muscular posterior e o contato com o solo via pernas e pés.
Na sétima sessão, buscou-se o equilíbrio da cabeça em relação ao
pescoço e ao eixo como um todo. Para isso, a manipulação visou diferenciar
cabeça e pescoço enfatizando, através dos movimentos e das sensações,
nova orientação espacial.
Nas três sessões subsequentes, reajustou-se o que não ficou claro. O
objetivo foi apropriação dos novos movimentos e sua incorporação ao
cotidiano. A liberação miofascial foi refeita nas áreas mais solicitadas e o
movimento livre foi reforçado, a fim de que o doente pudesse encontrar o
que há de mais confortável dentro de si.
Em termos funcionais, através da manipulação dos tecidos, estimulouse a resposta respiratória que indicasse relaxamento e alívio das tensões. À
medida que o doente sentiu essa relação, reforçou-se a exploração de
experiências, como a de expandir o tórax com a inspiração e a de contrai-lo
com a expiração. Reforçou-se também a percepção do eixo através do
suporte que o solo lhe oferecia pelo contato dos pés e das pernas e pelo
espaço disponível ao movimento.
4.2.4 Estatística
Todas as variáveis foram avaliadas descritivamente. Foram
calculados os valores mínimos e máximos, as medianas, as médias e os
desvios-padrão das variáveis quantitativas referentes. Uma vez que os
resultados são escores e, portanto, não possuem distribuição normal, foram
utilizadas análises não-paramétricas para a comparação das escalas entre
os momentos de avaliação e a análise apropriada para essa comparação é a
análise de Friedman (Neter, et. al., 1996). Para avaliar o resultado do
tratamento, foi comparado cada parâmetro de interesse entre os três
momentos da observação, a fim de se conferirem as alterações ocorridas.
Quando foram constatadas diferenças entre os parâmetros nos momentos
da observação, foram realizadas comparações múltiplas não-paramétricas
para dados em blocos (Neter, et. al., 1996) para verificar-se entre quais
momentos elas ocorreram. O programa de computação utilizado foi o
Statistical Package for Social Science versão 13.0 (SPSS 13.0). Considerouse como nível de significância dos testes o valor de 5%.
5. RESULTADOS
5.1 Análise da Intensidade da Dor de acordo com a Escala Analógica
Numérica Verbal de Dor
Após o tratamento, houve redução do número de doentes que
classificaram a dor como insuportável. As categorias sem dor, dor leve ou
dor moderada, que não existiam antes do tratamento, surgiram após as dez
sessões de Rolfing e permaneceram inalteradas três meses após o
tratamento. Os resultados da avaliação quanto à ausência de dor, dor fraca,
moderada, intensa ou insuportável estão apresentados na Tabela 2 e no
Gráfico 1.
Tabela 2 – Distribiução dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à intensidade da dor, de acordo com a Escala Analógica Numérica Verbal
de Dor, antes, ao término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Intensidade da
Dor
N % N % N %
Sem dor 0 0 5 16,7 4 13,3
Dor fraca 0 0 6 20 8 26,7
Dor moderada 0 0 13 43,3 13 43,3
Dor intensa 4 13,3 6 20 4 13,3
Dor insuportável 26 86,7 0 0 1 3,3
Gráfico 1 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%),
agrupados como: sem dor, dor fraca, dor moderada, dor intensa ou dor
insuportável, de acordo com a Escala Analógica Numérica Verbal de Dor,
avaliados antes, ao término e três meses após o tratamento.
0
5
4
0
6
8
0
13 13
26
0
1
4
6
4
0
5
10
15
20
25
30
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
INTENSIDADE DA DOR
N
Sem dor
Fraca
Moderada
Intensa
Insuportável
86,7%
16,7% 20% 43,3% 20%
13,3% 26,7% 43,3% 13,3% 3,3%
13
5.2 Análise da Representação do Sintoma na Figura
A análise da representação do Sintoma na Figura revelou que ocorreu
redução do número de doentes que representavam os sintomas como dor
insuportável e aumento dos que representavam como dor fraca ou sem dor
após o término do tratamento. Três meses após o tratamento, houve discreto
aumento da representação do sintoma como insuportável em relação ao
observado no final. Os resultados da representação do Sintoma na Figura
estão apresentados na Tabela 3 e no Gráfico 2.
Tabela 3 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à representação do Sintoma na Figura de acordo com a ausência de
dor, dor fraca, dor moderada ou dor insuportável, antes, ao término e três
meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Intensidade da
Dor
N % N % N %
Sem dor 0 0 5 16,7 3 10
Dor fraca 1 3,3 19 63,3 18 60
Dor moderada 5 16,7 6 20 6 20
Dor insuportável 24 80 0 0 3 10
Gráfico 2 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem
(%) de acordo com a representação do Sintoma na Figura, avaliados
antes, ao término e três meses após o tratamento.
0
5
3
1
19
18
5
6 6
24
0
3
0
5
10
15
20
25
30
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
INTENSIDADE DA DOR
N
Sem Dor
Fraca
Moderada
Insuportável
16,7% 80%
16,7% 63,3% 20% 10% 60% 20% 10%
3,3%
5.3 Análise do Inventário de Ansiedade Beck (BAI)
Observou-se redução dos doentes com índice de ansiedade média e
grave, e aumento do índice de ansiedade mínima e fraca ao término do
tratamento. Três meses após seu final, o número de doentes com ansiedade
mínima aumentou e houve redução do número daqueles com ansiedade
fraca e média, enquanto o número daqueles com ansiedade grave mantevese semelhante ao observado ao término do tratamento. Os resultados da
aplicação do BAI estão apresentados na Tabela 4 e no Gráfico 3.
Tabela 4 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto ao grau de ansiedade de acordo com o Inventário de Ansiedade Beck
(BAI), antes, ao término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Grau de
Ansiedade
N % N % N %
Mínima 0 0 12 40 21 70
Fraca 2 6,7 12 40 5 16,7
Média 8 26,7 5 16,7 3 10
Grave 20 66,7 1 3,3 1 3,3
Gráfico 3 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto aos resultados da aplicação do Inventário de Ansiedade Beck (BAI),
agrupados como: mínima, fraca, média ou grave, avaliados antes, ao término e
três meses após o tratamento.
0
12
21
2
12
5
8
5
3
20
1 1
0
5
10
15
20
25
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
GRAU DE ANSIEDADE
N
Minima
Fraca
Média
Grave
6,7% 26,7% 66,7% 3,3% 40% 40% 16,7% 3,3% 70% 16,7% 10%
5.4 Análise do Inventário de Depressão Beck (BDI)
De acordo com os resultados do BDI, observou-se o desaparecimento
de doentes com depressão grave, a redução do número de casos de
depressão média e, consequentemente, o aumento de casos de depressão
mínima ou fraca logo após o término do tratamento. O número de casos com
depressão fraca ou média reduziu-se no terceiro mês em relação ao
observado ao término do tratamento; nesse momento, não se identificaram
doentes com depressão grave. Os resultados da aplicação do BDI estão
apresentados na Tabela 5 e no Gráfico 4.
Tabela 5 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto ao grau de depressão de acordo com o Inventário de Depressão Beck
(BDI), antes, ao término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Grau de
Depressão
N % N % N %
Mínima 3 10 17 56,7 23 76,7
Fraca 4 13,3 6 20 5 16,7
Média 14 46,7 7 23,3 2 6,7
Grave 9 30 0 0 0 0
Gráfico 4 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto aos resultados da aplicação do Inventário de Depressão Beck (BDI),
agrupados como: mínima, fraca, média e grave, avaliados antes, ao término e
três meses após o tratamento.
3
17
23
4
6
5
14
7
2
9
0 0 0
5
10
15
20
25
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
5.5 Análise da Qualidade do Sono
Todos os doentes responderam que não dormiam bem antes do
tratamento e que frequentemente apresentavam insônia, pesadelo, dor, sono
leve e/ou interrompido. Após as dez sessões de tratamento, ocorreu melhora
na qualidade do sono, pois a maioria (66,7%) relatou que passou a dormir
bem e mais tranquila e a acordar mais descansada. Ocorreu também
redução dos casos com dificuldade para adormecer e de insônia. Três
meses após o tratamento, reduziu-se ainda mais o número de casos de
despertar precoce e nenhum doente referiu insônia. Os resultados do
questionário sobre a qualidade do sono, de acordo com a questão 16 do
BDI, estão apresentados no na Tabela 6 e Gráfico 5.
Tabela 6 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à qualidade do sono de acordo com a questão 16 do BDI, antes, ao
término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Qualidade do
Sono
N % N % N %
Dorme bem 0 0 20 66,7 23 76,7
Dificuldade para
adormecer 7 23,3 5 16,7 6 20
Despertar precoce 6 20 2 6,7 1 3,3
Insônia 17 56,7 3 10 0 0
Gráfico 5 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à qualidade do sono, agrupados de acordo com a questão 16 do
BDI como: dorme bem, dificuldade para adormecer, despertar precoce ou
insônia, antes, ao término e três meses após o tratamento.
0
20
23
7
5
6 6
2
1
17
3
0 0
5
10
15
20
25
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
QUALIDADE DO SONO
N
Dorme bem
Dificuldade p/ adormecer
Despertar precoce
Insônia
23,3% 20% 56,7% 66,7% 16,7% 6,7% 10%
76,7% 20% 3,3%
5.6 Análise da Disposição para Atividades Diárias e Fadiga
Observou-se que os doentes se sentiram menos cansados e mais
dispostos ao término e três meses após o tratamento. Ocorreu redução do
número de casos de cansaço ou de indisposição de média intensidade e
ausência de casos com sintomas graves logo após o término do tratamento,
melhora que se manteve no terceiro mês de acompanhamento, apesar de
um doente ter apresentado recidiva, recorrendo para o grau grave na última
avaliação. Os resultados do questionário sobre a sensação de cansaço e de
disposição, de acordo com a questão 17 do BDI, estão apresentados na
Tabela 7 e no Gráfico 6.
Tabela 7 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à disposição para atividades diárias e fadiga de acordo com a questão
17 do BDI, antes, ao término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Disposição para
Atividades
Diárias e Fadiga
N % N % N %
Sem cansaço 1 3,3 16 53,3 14 46,7
Cansaço fraco 8 26,7 9 30 13 43,3
Cansaço médio 9 30 5 16,7 2 6,7
Cansaço grave 12 40 0 0 1 3,3
Gráfico 6 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à disposição para atividades diárias e fadiga, agrupados de acordo com
a questão 17 do BDI como: sem cansaço, cansaço fraco, cansaço médio ou
cansaço grave, antes, ao término e três meses após o tratamento.
1
16
14
8
9
13
9
5
2
12
0
1
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
DISPOSIÇÃO PARA ATIVIDADES DIÁRIAS E FADIGA
N
Sem Cansaço
Fraco
Médio
Grave
3,3% 26,7% 30% 40% 53,3% 30% 16,7% 46,7% 43,3% 6,7% 3,3%
RESULTADOS – 38
5.7 Análise das Limitações Físicas
Todos, exceto um (3,3%) doente, afirmaram que antes do tratamento
sentiam limitações físicas para executar as tarefas diárias. As queixas mais
frequentes foram: subir e descer escadas, carregar peso ou pendurar
roupas. Ao término do tratamento, apenas um doente sentia limitações
físicas graves e a maioria não apresentava essa queixa. Três meses após o
tratamento, nenhum doente referiu limitação física grave e a maioria não a
apresentava. Os resultados sobre limitações físicas, de acordo com a
questão 15 do BDI, estão apresentados na Tabela 8 e no Gráfico 7.
Tabela 8 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto às limitações físicas de acordo com a questão 15 do BDI, antes, ao
término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Gravidade das
Limitações
Físicas
N % N % N %
Sem limitação 1 3,3 14 46,7 17 56,7
Limitação fraca 8 26,7 13 43,3 8 26,7
Limitação média 12 40 2 6,7 5 16,7
Limitação grave 9 30 1 3,3 0 0
Gráfico 7 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto às limitações físicas, agrupados de acordo com a questão 15 do BDI
como: sem limitação, limitação fraca, limitação média ou limitação grave, antes,
ao término e três meses após o tratamento.
1
14
17
8
13
8
12
2
5
9
1
0 0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
GRAVIDADE DAS LIMITAÇÕES FÍSICAS
N
Sem Limitação
Fraca
Média
Grave
3,3% 46,7% 43,3% 6,7% 3,3% 56,7% 26,7% 16,7% 26,7% 40% 30%
RESULTADOS – 39
5.8 Análise da Representação da Apreciação do Próprio Corpo na
Figura
A análise da Apreciação do Próprio Corpo na Figura revelou que houve
diminuição do número de doentes com autoimagem baixa ou média e
aumento do número de doentes com autoimagem ótima ou boa ao final do
tratamento e três meses após, o que indica ter havido melhora da
autoapreciação. Os resultados da avaliação da Apreciação do Próprio Corpo
estão apresentados na Tabela 9 e no Gráfico 8.
Tabela 9 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à análise da Apreciação do Próprio Corpo como: ótima, boa, média ou
baixa, antes, ao término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses
após
o término do
tratamento
Apreciação do
Próprio Corpo
N % N % N %
Ótima 5 16,7 8 26,7 9 30
Boa 6 20 13 43,3 13 43,3
Média 12 40 7 23,3 6 20
Baixa 7 23,3 2 6,7 2 6,7
Gráfico 8 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem (%)
quanto à Apreciação do Próprio Corpo classificada como: baixa, média, boa ou
ótima, antes, ao término e três meses após o tratamento.
5
8
9
6
13 13
12
7
6
7
2 2
0
2
4
6
8
10
12
14
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
APRECIAÇÃO DO PRÓPRIO CORPO
N
Otima
Boa
Média
Baixa
16,7% 20% 40% 23,3%
26,7% 43,3% 23,3% 6,7%
30% 43,3% 20% 6,7
5.9 Análise da Representação da Autoimagem
Ocorreu melhora da Autoimagem na maioria dos doentes ao término do
tratamento, resultado que se manteve, pelo menos, até o terceiro mês de
acompanhamento. Os resultados do questionário sobre a Autoimagem, de
acordo com a questão 14 do BDI, estão apresentados na Tabela 10 e no
Gráfico 9.
Tabela 10 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem
(%) quanto à Autoimagem, de acordo com a questão 14 do BDI, antes,
ao término e três meses após o tratamento.
Antes do
tratamento
Ao término do
tratamento
Três meses após
o término do
tratamento Autoimagem
N % N % N %
Ótima 9 30 18 60 21 70
Boa 8 26,7 8 26,7 3 10
Média 7 23,3 2 6,7 4 13,3
Baixa 6 20 2 6,7 2 6,7
Gráfico 9 – Distribuição dos doentes em números absolutos (N) e em percentagem
(%) quanto a análise da Autoimagem, agrupados de acordo com a
questão 14 do BDI e avaliados como: ótima, boa, média ou baixa, antes,
ao término e três meses após o tratamento.
9
18
21
8 8
3
7
2
4
6
2 2
0
5
10
15
20
25
Antes do tratamento Ao término do tratamento Três meses após o término do tratamento
AUTOIMAGEM
N
Otima
Boa
Média
Baixa
60% 26,7% 6,7% 6,7% 70% 10% 13,3% 6,7% 30% 26,7% 23,3% 20%
Observou-se que todos os parâmetros avaliados sofreram
modificações estatisticamente significativas entre os momentos de
observação, ou seja, o tratamento influenciou-os, tal como está apresentado
na Tabela 11.
Tabela 11 – Médias, desvios-padrão (DP), medianas, valores mínimos e máximos, número
de doentes (N) e grau de significância do teste de Friedman (P) para aferir as
modificações quanto à avaliação da Intensidade da Dor de acordo com a Escala
Analógica Numérica Verbal de Dor, Limitação Física, Qualidade do Sono,
Fadiga e Disposição, Depressão, Ansiedade, Apreciação do Próprio Corpo e
Gráficos do Sintoma e da Autoimagem, antes, ao término e três meses após o
tratamento.
Variável Momento Média DP Mediana Mínimo Máximo N P
Início 9,07 1,14 10,0 7 10 30
Fim do tratamento 2,80 1,79 3,0 0 5 30
Escala Analógica
Numérica Verbal de
Dor Três meses após 3,07 2,02 3,0 0 9 30
<0,001
Início 1,97 0,85 2,0 0 3 30
Limitações Física Fim do tratamento 0,67 0,76 1,0 0 3 30
Três meses após 0,60 0,77 0,0 0 2 30
<0,001
Início 2,33 0,84 3,0 1 3 30
Qualidade do Sono Fim do tratamento 0,60 1,00 0,0 0 3 30
Três meses após 0,27 0,52 0,0 0 2 30
<0,001
Início 2,07 0,91 2,0 0 3 30
Fadiga e Disposição Fim do tratamento 0,63 0,76 0,0 0 2 30
Três meses após 0,67 0,76 1,0 0 3 30
<0,001
Início 29,80 11,41 30,5 10 53 30
Depressão Fim do tratamento 11,43 9,27 8,5 0 31 30
Três meses após 8,13 6,43 8,0 0 27 30
<0,001
Início 37,30 12,75 36,5 13 58 30
Ansiedade Fim do tratamento 13,87 10,01 11,5 1 53 30
Três meses após 10,53 9,58 7,0 0 44 30
<0,001
Início 1,70 1,02 2,0 0 3 30
Fim do tratamento 1,10 0,88 1,0 0 3 30 Gráfico da Apreciação
do Próprio Corpo
Três meses após 1,03 0,89 1,0 0 3 30
<0,001
Início 2,77 0,50 3,0 1 3 30
Gráfico do Sintoma Fim do tratamento 1,03 0,61 1,0 0 2 30
Três meses após 1,30 0,79 1,0 0 3 30 <0,001
Início 1,33 1,12 1,0 0 3 30
Autoimagem Fim do tratamento 0,60 0,89 0,0 0 3 30
Três meses após 0,57 0,97 0,0 0 3 30 0,002
Como pode ser observado na Tabela 12, a avaliação da dor, das
limitações físicas, do sono, da fadiga e disposição, da depressão, da
apreciação do próprio corpo, da representação dos sintomas de dor e a
autoimagem melhorou com impacto estatístico significativo entre o momento
inicial e o final do tratamento. Não houve, entretanto, diferença
estatisticamente significativa dos valores entre o momento final do
tratamento e três meses após seu término destes parâmetros, exceto quanto
à ansiedade que sofreu melhora adicional três meses após (p = 0,028) o
término do tratamento.
Tabela 12 – Comparações múltiplas para avaliar ocorrência das diferenças entre os valores
observados na Escala Analógica Numérica Verbal de Dor, Limitação Física,
Qualidade do Sono, Fadiga e Disposição, Depressão, Ansiedade, Apreciação
do Próprio Corpo e Gráficos do Sintoma e da Autoimagem, avaliados antes e
ao término, antes e três meses após o término e ao final e três meses após o
término do tratamento, em valores de distribuição da probabilidade normal
padrão (Z) e seu significado estatístico (P).
Variável Comparação Valor Z p
Início vs fim do tratamento 8,03 <0,001
Início vs três meses após 8,12 <0,001 Escala Analógica
Numérica Verbal de Dor
Fim do tratamento vs três meses após 0,09 0,927
Início vs fim do tratamento 6,39 <0,001
Limitações Físicas Início vs três meses após 7,03 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após 0,64 0,523
Início vs fim do tratamento 6,57 <0,001
Qualidade do Sono Início vs três meses após 7,94 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após 1,37 0,171
Início vs fim do tratamento 6,39 <0,001
Fadiga e Disposição Início vs três meses após 6,21 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após -0,18 0,855
Início vs fim do tratamento 7,30 <0,001
Depressão Início vs três meses após 8,85 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após 1,55 0,121
Início vs fim do tratamento 7,12 <0,001
Ansiedade Início vs três meses após 9,31 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após 2,19 0,028
Início vs fim do tratamento 3,10 0,002
Início vs três meses após 3,47 0,001 Gráfico da Apreciação do
Próprio Corpo
Fim do tratamento vs três meses após 0,37 0,715
Início vs fim do tratamento 8,22 <0,001
Gráfico do Sintoma Início vs três meses após 6,85 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após -1,37 0,171
Início vs fim do tratamento 3,10 0,002
Autoimagem Início vs três meses após 3,74 <0,001
Fim do tratamento vs três meses após 0,64 0,523
vs=versus
6. DISCUSSÃO
Dor é “experiência sensitiva e emocional desagradável decorrente de
lesão real ou potencial dos tecidos. É subjetiva e sua expressão varia de
indivíduo para indivíduo” (IASP, 1986). A dor, por sua relevância, é
considerada por alguns como o quinto “sinal vital”; deve, portanto, ser
avaliada rotineiramente durante a consulta médica juntamente com as
frequências respiratória e cardíaca, a temperatura corpórea e a pressão
arterial. É sintoma de alerta para o indivíduo de que algo não está bem
(Teixeira, 2006).
Em seus registros sobre o “Senso de Coerência”, indicador
psicossocial de saúde que busca explicar fatores que promovem saúde, a
dor deve ser compreendida, mensurada e significada (Moraes, 2006).
Em doentes com SFM, a dor é física e, portanto, real. Os mecanismos
envolvidos na transmissão e na percepção dos estímulos dolorosos estão
comprometidos nesses casos (Teixeira, 2006). Os componentes afetivos e
emocionais da expressão dolorosa também são importantes na expressão
da dor; o doente deve ser ouvido, especialmente porque a origem da
síndrome pode remetê-lo a tempos precedentes às manifestações dolorosas
(Lin et al., 1997). “O não-reconhecimento da interação físico-emocional pode
comprometer a eficácia do tratamento”, conceito que está de acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), que define saúde como “bem-estar
físico, psíquico e social”.
A dor tem perspectiva que transcende o estímulo nociceptivo, tem
rede de significados, que é individual e permite sua elaboração consciente
ou inconsciente. Dar significado à dor também é modo de modulá-la,
elevando seu limiar para representar e solucionar conflitos. Portanto, a
maneira de o doente se relacionar com a dor pode ter influência positiva em
sua qualidade de vida.
Para Rolf (1999), a dor está dentro da pele, está no homem. É com
Asclépios que nasce a Ars curandi, a arte de curar ou de tratar. Asclépios, o
Deus da Medicina, estimulava sua prática como consolação e escuta do
doente que, em sua solidão, precisa ser reconduzido ao conforto do convívio
humano. Uma de suas filhas, Higéia, é a personificação da saúde. “A doença
levanta apenas, de modo mais agudo, um problema de todo ser humano: a
oportuna e necessária dialética entre a aceitação e a recusa do corpo para
autoidentificação. A compreensão dessa dialética, que pode ser chamada de
“distanciamento”, é fundamental para o médico entender como sua
colaboração é importante para que o doente se reconcilie com seu corpo e
não o veja como território estranho que passa a odiar” (Ismael, 2002). Ao se
falar de amor do médico pelo doente, fala-se da compaixão e da prestação
de um conforto incondicional que quer eliminar a dicotomia entre “tenho um
corpo” e “sou o meu próprio corpo”, o que salienta a diferença entre curar o
corpo e curar através dele (Ismael, 2002; Prado, 2006).
A SFM acomete geralmente mulheres e é incomum em homens
(Bennet et al, 2007; Verbunt et al, 2008). Nos homens, os sintomas
costumam ser mais intensos, ou seja, há comprometimento mais acentuado
das funções físicas e da qualidade de vida do que nas mulheres. Para os
homens, a doença é interpretada como mais grave do que para as mulheres
(Burskila et al., 2000). Para a realização da presente pesquisa, foram
incluídos apenas doentes adultos do sexo feminino, com 28 a 62 anos de
idade, o que, de antemão, não possibilitou extrapolar os resultados para
ambos os sexos ou outras faixas de idade.
Na entrevista inicial realizada na primeira consulta, os doentes
descreveram a dor como generalizada, em todo o corpo e, muitas vezes,
insuportável. Alguns referiram que apresentavam queimor, formigamento,
agulhadas ou choques, outros não conseguiram especificar suas sensações.
Os doentes queixavam-se de dor nas articulações, nos braços, nos dedos,
nas mãos, nos quadris, nas pernas, nos joelhos e/ou nos pés. Também
houve casos de queixas de dor nas costelas, que impedia os movimentos
respiratórios, e de dor na cabeça ou irradiada para a região de toda a coluna
vertebral.
De acordo com Geenen (2001), a SFM é um problema multifacetado.
O autor propôs que, ao invés de tratamentos monoterápicos, combinem-se
tratamentos farmacológicos e não-farmacológicos para tratar, além da dor,
do sono, do estresse e dos transtornos do humor.
A terapia cognitivo-comportamental adequada e com treinamento
específico para cada doente pode ser útil para tratar doentes com SFM (van
Koulil et al., 2008). Deale et al. (2001) também consideraram que esta
modalidade terapêutica pode beneficiar muitos doentes, mas não curá-los.
A SFM é desafio para os clínicos em virtude da falta de opção de
tratamentos eficazes (van Koulil et al., 2008). O tratamento com o método
Rolfing como terapia individualizada, que age tanto no padrão individual
quanto no estrutural de cada um, pode possibilitar melhora pois abrange
aspectos que transcendem a dor (Rolf, 1999). Ao atuar no plano sintomático
profundo, pode reduzir outros sintomas envolvidos na avaliação da
qualidade de vida sem, todavia, ser paliativo (Schmidt, 2004).
O método Rolfing tem como proposta integrar as estruturas físicas, e
as funções neuromotoras; para isso, estimular e diferenciar os músculos,
aliviar as tensões e reconquistar a liberdade dos movimentos nas regiões
comprimidas, rígidas e com pouca mobilidade, e assim, possibilitar o
desenvolvimento da percepção corporal e melhorar a comunicação das
estruturas musculoesqueléticas com o sistema nervoso (Rolf, 1999). Rolf
(1999) considerou que o que impedia o movimento, idealmente livre e
natural, devia relacionar-se à percepção, à coordenação neuromotora, ao
tecido miofascial e/ou ao significado emocional.
Ocorreu redução mediana de sete pontos na Escala Numérica Verbal
de Dor (p<0,001) após o término do tratamento nos doentes incluídos na
presente pesquisa, melhora que se manteve, pelo menos, durante os três
meses subsequentes de acompanhamento. Antes do tratamento, 86,7% dos
doentes queixavam-se de dor insuportável e 13,3%, de dor intensa. Três
meses após o término do tratamento, um doente (3,3%) apresentou recidiva
dos sintomas dolorosos. Bennet et al. (2007) sugeriram que doentes que
apresentam piora dos sintomas ou ausência de melhora podem ter sofrido
crise ou vivenciado evento emocional. Ao final do tratamento, 13,3% dos
doentes classificaram a dor como intensa; 43,3% como moderada; 26,7%
como fraca; e 13,3% estavam sem dor.
Para Rolf (1999), o desalinhamento postural decorrente dos maus
hábitos da postura e da movimentação, dos estresses físicos e emocionais
e/ou das sobrecargas de peso e forças causa desconforto físico, vícios dos
movimento e das expressões corpóreas e compromete o funcionamento do
aparelho locomotor e do sistema nervoso. Ao retomar sua harmonia natural
e equilíbrio, o organismo consome menos energia para executar suas
funções e adquire maneiras mais eficientes de se mover com flexibilidade e
integração. Segundo Prado (2006), o resultado é progressivo e seus
benefícios são físicos e emocionais.
A melhora observada após as sessões de Rolfing manifestou-se não
somente quanto à intensidade da dor propriamente dita mas também quanto
à relação dos próprios doentes com a dor. Esta, embora permanecesse, na
maioria dos casos tornou-se mais localizada e perceptível; o próprio corpo
tornou-se mais definido, as limitações físicas diminuíram, o sono ficou mais
reparador e a sensação de cansaço não esteve tão presente; partes do
corpo, onde inicialmente havia desconforto, passaram a incomodar menos
ou a não mais incomodar.
É importante que cada pessoa descubra sua maneira de relaxar e de
enfrentar seus próprios conflitos. Deve observar como executa os
movimentos que, quando inadequados, podem tornar-se fonte considerável
de dor com o passar do tempo (Rolf, 1999). Uma vez que nos movemos por
inteiro, cada restrição, em breve atinge a totalidade e os movimentos não
são mais eficazes pois as partes adjacentes são ativadas quando deveriam
estar em repouso. Com isso, consome-se excessiva energia para executarse a simples tarefa de viver (Rolf, 1999).
O método Rolfing surge como alternativa para inverter esse processo.
À medida que se conquista um corpo mais leve e solto, pode-se induzir o
desaparecimento dos padrões antigos. Quando a confiança na capacidade
de mudar aumenta, os indivíduos tornam-se mais vigorosos. Corpos
humanos têm predileção natural pela verticalidade, conforto e facilidade.
Nesse contexto, a força da gravidade pode fluir afinada com a força da
pessoa. Em relação à gravidade, os seres humanos não diferem de outros
corpos materiais: as massas devem estar em equilíbrio para serem estáveis
(Feitis, 1986).
O toque promove sensação que mostra o limite corporal e o tato é um
sentido também de autopercepção. Esta percepção bem desenvolvida pode
induzir segurança, sensação de estar em casa e despertar sentimento de
confiança em si e no mundo. Através do toque pode-se estabelecer contato
com outra pessoa e obter a percepção da própria individualidade.
(Montagu,1988).
O método Rolfing não trabalha com um toque específico para obter
resultados específicos. Baseia-se na resposta geral do organismo
(homeostase) e contempla a continuidade do tecido conectivo. Objetiva que,
via intervenção pontual, é possível atingir todo o organismo, de modo que
ocorram mudanças em regiões distantes daquelas manipuladas. O toque
permite sentir e perceber a própria experiência corporal e objetiva estimular
e desenvolver os recursos funcionais do doente, desde que este participe
ativamente do seu processo. Isto significa que se trabalha com o doente e
não no doente. Talvez, com pés e pernas mais funcionais, o doente possa
perceber, de uma nova maneira, o seu peito, as suas emoções e atitudes ali
contidas; ao explorar a respiração, possa observar os efeitos do alívio e da
sobrecarga que esta exerce em sua postura (Prado, 2006).
Tocar é uma linguagem. A comunicação que se estabelece por meio
do toque constitui poderoso modo de criar relações humanas. A percepção
de si mesmo é, em grande medida, uma questão de experiências táteis. O
significado que se dá a essas experiências é fundamental para o
desenvolvimento do comportamento humano. O toque parece legitimar a
existência de quem tocou e de quem foi tocado. É antiga a crença na magia
do toque de pessoas poderosas e sagradas, seja para o bem ou para o mal
(Montagu, 1988).
A sensação básica do tato como estímulo é vital para a sobrevivência
física do organismo. A pele daqueles submetidos a carências táteis torna-se
“desligada”. Nessas condições, o indivíduo pode estar tão tenso a nível
cutâneo que não se percebe mais e se “desconecta” de si mesmo (Montagu,
1988). Um toque humano com efeito curativo pode intensificar as habilidades
terapêuticas e a potencialidade da recuperação do doente (Prado, 2006).
A relação terapêutica desenvolvida entre o doente e o terapeuta
também deve ser considerada pois permite a ampliação do resultado do
tratamento para além do aspecto físico. Com essa relação, eventos
ocorridos no passado podem adquirir novo significado quanto à importância
em relação à doença; a relação é única e pessoal, porém essencial para a
eficácia de qualquer estratégia ou técnica, em qualquer momento do
tratamento, e para o tratamento em si (Prado, 2006).
De acordo com Prado (2006), há grande diferença entre trabalhar na
estrutura anatômica do doente e trabalhar através dessa estrutura. Uma vez
compreendido o padrão corporal de cada indivíduo que, por sua vez, contém
manifestações tanto físicas quanto funcionais, e estabelecida a relação de
confiança, o terapeuta pode atingir níveis mais profundos desse padrão. O
mesmo autor refere que este processo possa ocorrer de modo mais ou
menos consciente, mas permite ao doente explorar e relaxar padrões
antigos e conquistar novas possibilidades (Prado, 2006; Rolf, 1999).
O equilíbrio corporal também compõe o quadro do bem-estar. Por
meio dele estabelece-se harmonia com as forças do meio ambiente e
adquire-se orientação espacial e ajuda para sentir-se situado no mundo. O
bom equilíbrio dá segurança e traz sensação de tranquilidade. Quando há
segurança interior, pode-se repousar o corpo, como acontece com os
equilibristas. Uma pessoa com bom alinhamento postural e flexibilidade pode
superar mais facilmente a instabilidade provocada pelos movimentos.
Quanto mais livre a motricidade mais eficaz é a manutenção e a adaptação
das forças dos equilíbrios corporal e emocional (Rolf, 1999).
A redução mediana obtida após o término do tratamento foi de dois
pontos na escala (p<0,001) da Representação do Sintoma na Figura e
manteve-se assim até o terceiro mês subsequente de acompanhamento. No
início do tratamento, 80% dos doentes representaram sua dor na figura como insuportável e, 3,3%, como leve. Três meses após o término do tratamento, 10% classificaram a dor como insuportável e, 60%, como leve.
De acordo com Bennet et al. (2007), os conflitos familiares
comprometem o desempenho dos doentes com SFM. Relatou vivenciarem
algum tipo de conflito familiar 43,3% das doentes incluídas na presente
pesquisa, achado que parece relacionar-se com a dor e com o
comprometimento da qualidade de vida (Bennet et al., 2007).
A dor associada à SFM relaciona-se à história de vida de cada
indivíduo e ao estresse desencadeado por eventos mínimos, mas que
causam incapacidade funcional e cuja intensidade geralmente é
magnificada. Há indícios de que esses doentes sejam mais sensíveis aos
estressores psicológicos e menos aptos a lidar com os problemas do
cotidiano (Dailey et al., 1990). O estresse emocional é fator desencadeante e
agravante muito comum da dor em doentes com SFM. Na presente
pesquisa, 66,7% dos doentes relataram ocorrência de algum estresse, o que
talvez tenha causado impacto desfavorável e considerável em sua qualidade
de vida, resultado que está de acordo com o de outros estudos (Bennet et
al., 2007; Verbunt et al., 2008).
Van Middendorp et al. (2008) observaram que transtornos emocionais
contribuem para os sintomas físicos e psicológicos em fibromiálgicos.
Durante a primeira avaliação, as doentes incluídas no presente estudo
relataram que almejavam tranquilidade e equilíbrio, diminuição da
ansiedade, perda do medo, recuperação da independência e das atividades
diárias, bem como a retomada das amizades. Após o tratamento, 86,7% das
doentes afirmaram que estavam mais tranquilas, decididas, comunicativas,
seguras, ativas, dispostas, otimistas e bem-humoradas. Algumas
acrescentaram que estavam menos gulosas e briguentas. Durante os três
meses de observação do tratamento, passaram a participar de atividades
como viajar, dançar, trabalhar e não se cansavam com tanta facilidade; as
dores recorrentes passaram a ser percebidas como mais superficiais.
É comum que fibromiálgicos expressem anormalidades afetivas
traduzidas como depressão, como sensação de perdas e danos e
DISCUSSÂO – 51
ansiedade, como sensação de ameaça (Figueiró,1999). De acordo com
Figueiró (1999), algumas dessas alterações podem ser observadas tanto na
prática clínica quanto nas pesquisas: dificuldade para relaxar, aceitar a
dependência emocional e receber ajuda, mudanças nos estados de ânimo e
humor, relações de ressentimento com o passado, incluindo-se o corpo
saudável perdido, tendência a ruminação e a fantasias de onipotência. Como
não é fácil conscientizar-se da dor emocional, a percepção dolorosa
estabelece-se no físico de quem a sofre. Sua relação é com um corpo
doente, estragado e inválido, que só lhe oferece restrições e dores sem
ambiente para o prazer, mas com espaço apenas para sofrimento e para
sensações referidas como vazio profundo.
A confluência adequada entre uma pessoa e o meio em que vive é
adquirida quando a pessoa está apta a, ao relacionar-se, preservar sua
identidade sem se isolar e, ao mesmo tempo, sem se entregar totalmente ao
mundo (Bandura, 1977). O estresse é produto da má confluência nesse
sentido. Os conflitos são fatores muito estressantes. Tais fatores podem ser
únicos ou múltiplos, recorrentes ou contínuos, e influenciam os estados
físico e mental, o humor, a alimentação, o sono e as relações interpessoais e
sociais dos indivíduos (Figueiró,1999).
Afetividade é um conjunto de fenômenos e funções psíquicas
necessários à sobrevivência e manifestados como emoções, sentimentos e
paixões, acompanhados da impressão de dor ou prazer, de agrado ou
desagrado, de alegria ou tristeza. As anormalidades afetivas geralmente são
derivadas das reações de luta ou fuga e das chamadas emoções de
contenção, como raiva ou medo, frente a eventos percebidos como
ameaçadores ao equilíbrio e ao fluxo da vida e capazes de comprometer a
homeostase (Dorsch, 2001).
Antes do tratamento, 66,7% dos doentes apresentavam ansiedade
grave e nenhum apresentava ansiedade mínima, de acordo com o BAI (Beck
et al. 1988). Três meses após o término do tratamento, 3,3% ainda
apresentavam ansiedade grave e, 70% nível mínimo de ansiedade. Ocorreu
redução mediana de 25 pontos na escala da ansiedade após o término do
DISCUSSÂO – 52
tratamento (p<0,001). Houve, também, progressiva melhora da ansiedade
entre o término do tratamento até o terceiro mês de acompanhamento, ou
seja, redução de 4,5 pontos na escala de ansiedade, modificação também
estatisticamente significativa ao término do tratamento (p=0,028).
Ansiedade e medo são emoções naturais relacionadas à presença de
uma ameaça. Quando persistentes e exagerados, podem tornar-se doentios
ao alterar as estratégias defensivas e os mecanismos homeostáticos do
organismo, transformando-se em transtornos de ansiedade, pânico e/ou
depressão (Figueiró, 1999).
O transtorno de ansiedade é um conjunto de sentimentos de tensão e
de apreensão que representa uma alteração emocional e estimula a
atividade do sistema nervoso neurovegetativo, tornando o indivíduo
hipervigilante. Está associado ao medo antecipatório da dor e às suas
consequências. O doente avalia superestimadamente o perigo e subestima
as próprias habilidades de como lidar com ele. São comuns a sensação de
vazio interno e a falta de atenção ao que o foco aponta como algo
ameaçador. Pode induzir preocupação excessiva e persistente, inquietação,
fadiga e tensão muscular e alterar o sono, ou seja, cria condições que
agravam o quadro fibromiálgico (Bennet et al, 2007).
A ansiedade foi o único sintoma que, após a suspensão do
tratamento, não apenas se manteve menos expressiva como também
apresentou melhora progressiva e estatisticamente significativa, pelo menos
até o terceiro mês de acompanhamento. Pode-se, portanto, postular que a
ansiedade é retroalimentada por sintomas físicos e que estabelece um ciclo
vicioso. Interrompendo-se este ciclo, ou seja, diminuindo a intensidade da
dor, pode ocorrer melhora da qualidade do sono, mais disposição e melhora
da autoestima. Isto significa que a ansiedade perde motivos para manter-se
ou agravar-se, e melhora.
Antes do tratamento, 30% dos doentes incluídos na presente
casuística apresentavam depressão grave e 10%, depressão mínima. Três
meses após o término do tratamento, nenhum doente apresentava
DISCUSSÂO – 53
depressão grave e 76,7% apresentavam depressão mínima, o que sugere
que o método Rolfing pode ser eficaz para tratar esta condição.
A depressão é um estado caracterizado por sentimentos de
inadequação, rebaixamento da atividade e pessimismo sobre o futuro, e
induz ao processamento incorreto das informações e à observação e
interpretação dos fatos distorcidos da realidade (Dorsch, 2001). A depressão
pode também resultar de respostas pouco satisfatórias para os eventos da
vida, sendo que, quanto mais difícil for a adaptação à realidade mais grave
ela será (Rossini, 2002).
De acordo com Rolf (1999), a dor bloqueia os músculos e todas as
forças contidas neles, o doente passa a negar o próprio corpo e a perder a
força de superação e de transformação da dor. Feldenkrais (1997) afirmou
suscintamente: “A força que não é convertida em movimento não
desaparece simplesmente mas é dissipada causando danos às articulações,
músculos e outras partes do corpo”. Os fibromiálgicos, ao longo de suas
respectivas biografias, podem sentir a ausência da sua força de vontade e a
perda do poder de relação com o mundo. O contato com si mesmos é feito
pelo corpo, através da dor. Desestruturados e sem recursos para lidar com
isso, deprimem-se, aprisionados na própria dor.
Após o término do tratamento, ocorreu redução mediana de 22 pontos
da depressão (p<0,001), de acordo com o BDI (Beck et al., 1961), melhora
que se manteve no terceiro mês de acompanhamento. Mesmo os 83,4% dos
doentes que faziam uso crônico de antidepressivos apresentaram
decréscimo significativo nos índices de depressão com o tratamento.
As queixas de depressão observadas no início do tratamento
manifestaram-se, em alguns casos, desde a adolescência. Os quadros
depressivos mostraram-se agravados com fatores traumáticos, tais como:
perda de parentes próximos, abusos, acidentes (atropelamentos ou fraturas)
ou cirurgias a que foram submetidas. Estas mulheres tinham em comum a
sensação de que ninguém mais acreditava na sua dor ou de haver perdido a
própria identidade. Manifestavam, também, a sensação de serem inúteis ou
imprestáveis; de estarem sozinhas por não poderem mais contar com seus
DISCUSSÂO – 54
maridos, filhos e/ou parentes; de terem perdido o interesse pelos amigos; e o
receio de saírem desacompanhadas. Revelaram que as sensações de culpa
e de vergonha e os medos também estavam presentes. Algumas sentiam-se
muito velhas pois não tinham disposição para nada e preferiam nem sair da
cama; outras admitiram que se tornaram nervosas e agressivas. Diante da
possibilidade de melhora com o tratamento pelo método Rolfing, esperavam
qualquer solução que aliviasse suas dores.
É certo que medicamentos antidepressivos, analgésicos e hipnóticos
auxiliam o tratamento de doentes com SFM (Bennet et al. 2007).
Recomendam-se futuros estudos para avaliar a eficácia da associação de
diferentes fármacos com a intervenção concomitante ao método Rolfing e
verificar se há possibilidade de redução da quantidade e da duração da
manutenção desses medicamentos.
O doente com depressão teme mudanças. Com dor, paralisa-se
dentro de si e tudo piora, perde seu livre-arbítrio e a criatividade, isto é, a
capacidade humana de produzir algo novo. Os doentes tratados com o
método Rolfing obtiveram algo novo na percepção de si, assim como na
percepção da dor. A nova relação com o corpo e com a vida deu-lhes a
possibilidade de transformação e de atuação no cotidiano (Rolf,1999).
Quando as fibromiálgicas tornaram-se menos ansiosas e deprimidas,
seus conflitos também tornaram-se mais suportáveis. Além de afastarem os
medos, intensificaram a produtividade, passaram a controlar melhor a
agressividade, o ciúme e a impulsividade, aprenderam a ter mais a respeito
por si mesmas e pelo próprio corpo e sentiram-se vitoriosas ao conseguir
dominar a dor e controlar suas tensões.
Antes do tratamento, 56,7% dos doentes queixavam-se de insônia e,
43,3%, apresentavam outras alterações do sono. Sucessivas noites
maldormidas podem resultar em dor, uma vez que os músculos precisam de
repouso para recompor-se e as células do SNC necessitam de
reestruturação funcional. De acordo com Maldofsky (1995), o sono nãoreparador, a dor, a fadiga e as anormalidades cognitivas e do humor
presentes em doentes com SFM relacionam-se às alterações do eixo neuro-
DISCUSSÂO – 55
imuno-endócrino. De acordo com Rossini et al. (2005), doentes com dores
constantes e insônia crônica sofrem prejuízo do dinamismo psíquico e da
avaliação do equilíbrio adaptativo.
Nas doentes incluídas na presente casuística, houve redução de três
pontos da mediana da qualidade do sono após o término do tratamento, de
acordo com a escala utilizada (p<0,001). A melhora manteve-se, pelo
menos, até o terceiro mês após o término do tratamento, momento em que
76,7% dos doentes passaram a dormir bem apesar de 23,3% ainda
mantiveram alguma alteração de sono. Estes resultados sugerem que o
método Rolfing pode ser eficaz para melhorar a qualidade do sono.
Antes de iniciar o tratamento com o método Rolfing, 23,3% dos
doentes da presente casuística apresentavam baixa apreciação do seu
corpo, e apenas 16,7%, apreciação muito boa. Três meses após seu
término, apenas 6,7% dos doentes mantiveram a sensação de baixa
apreciação e 30% passaram a ter apreciação muito boa de si mesmo.
Segundo Schilder (1999), o movimento modifica a tensão muscular e
melhora as orientações física e espacial. Ao mesmo tempo, também seria
modo de exterminar ou diminuir a rigidez do modelo postural e conduzir a
atitudes psíquicas mais genuínas e adequadas, o que influenciaria a imagem
corporal. Este autor acrescentou que toda mudança da atitude psíquica
evoca mudança na situação dinâmica como um todo e é experimentada
como alteração da tensão muscular. A percepção do corpo depende do tono
muscular, enquanto o conhecimento de nós mesmos depende da nossa
ação e os processos emocionais intervêm nos processos de construção da
imagem corporal que, por sua vez, é intimamente relacionada às
experiências de cada um (Schilder, 1999).
Na presente pesquisa, observou-se que, ao final do tratamento,
ocorreu redução mediana de um ponto na escala (p<0,001) quanto à
extensão da área corporal não apreciada pelo doente, resultado que se
manteve três meses após seu término.
A autoavaliação da imagem corporal realiza levantamento dos pontos
sensíveis à dinâmica inconsciente e permite observar as atitudes adotadas pelo doente ao lidar com suas próprias somatizações. Pode contribuir para o esclarecimento dos conflitos inconscientes nos ritmos biológicos e na autoexpressão. Com isso, o doente tem a oportunidade de tornar mais
conhecidas a mensuração da dor e a representação psicológica que faz de
si mesmo (Penna, 1990).
A imagem corporal seria a maneira de o corpo apresentar-se para
nós. Pode ser muito subjetiva à medida que se estabelece a partir do que se
vivencia e se manifesta (Schilder, 1999). O doente com dor crônica faz
representação de suas partes do corpo e de suas realidades internas e
externas de modo prejudicado. É comum o desinteresse pelo mundo, uma
vez que sua atenção se volta para seus estados dolorosos, silenciosos,
constantes e infindáveis. Com isso, surgem sentimentos de inferioridade e
de baixa autoestima, que se agravam com a dor (Figueiró, 1999).
Questões fisiológicas, psíquicas e sociais relacionam- se entre si e
constituem o que se denomina “Imagem Corporal”. Os três aspectos da
imagem corporal descritos por Paul Schilder (1999) são tão intimamente
interligados que a referência a um deles implica a existência dos outros. O
que define “dentro e fora” do corpo por meio de nossa percepção são “os
espaços interno e externo da imagem corporal”; a imagem corporal incorpora
objetos ou propaga-se no espaço e o limite que nos separa do mundo é
tênue, altamente permeável e muito instável.
Antes do tratamento, 30% dos doentes da presente casuística
apresentavam autoimagem muito boa e 20%, autoimagem baixa, de acordo
com o teste utilizado. Três meses após o término do tratamento, 70% dos
doentes passaram a apresentar autoimagem muito boa e, 6,7%,
autoimagem baixa. A redução mediana observada após o término do
tratamento quanto à autoimagem foi de um ponto na escala (p<0,001),
achado que se manteve ao final de três meses de acompanhamento. Estes
resultados enfatizam que o método Rolfing, que se propõe a atuar na
totalidade do corpo a partir da manipulação de suas partes, interfere
favoravelmente na imagem corporal como representação integral desse
indivíduo.
DISCUSSÂO – 57
De acordo com Schilder (1999), quando se sente dor, a estrutura
psíquica do modelo corporal modifica-se como um ato contínuo. Nesse
momento, toda atenção direciona-se para a região acometida. “Quando o
corpo é invadido pela dor, tentamos livrar-nos dele”. Toda sensação contribui
para a construção da imagem corporal, que não é rígida mas passível de
transformações. Tanto a dor quanto o controle motor dos movimentos têm
participação especial na criação dessa imagem. Assim sendo, quando o
corpo dói, o modelo postural pode distorcer-se. Por esta razão, a dor precisa
ser identificada e então conectada adequadamente à imagem corporal. O
mesmo autor complementou: “Quando as tendências destrutivas
prevalecem, o corpo dispersa-se pelo mundo”.
Damásio (1996), por sua vez, afirmou que os seres humanos têm
organismo complexo, comportamento próprio e produzem imagens como
respostas internas. Acrescentou que, através desses sinais, a parceria
mente/corpo interage com o ambiente e cria “respostas espontâneas ou
reativas que, no seu conjunto, são conhecidas como comportamento” e que,
ao serem elaboradas, “são internamente ordenadas num processo chamado
pensamento”. Como esses aspectos estão fortemente conectados entre si, a
imagem corporal determina a identidade corporal.
Após receberem as dez sessões de Rolfing, 40% das doentes
fibromiálgicas incluídas no presente estudo admitiram dispor de mais tempo
para cuidar de si mesmas e mostraram mais vaidade e preocupação com
sua aparência. Passaram a dizer “não” e a conhecer seus próprios limites.
Também aprenderam a detectar seu cansaço, a descansar, a respirar com
mais flexibilidade e, em decorrência, obtiveram alívio das dores e sentiramse mais dispostas.
A aplicação do método Rolfing mobilizou os doentes fibromiálgicos, o
que sugere que o corpo pode significar realidade concreta de sensação de
vitória, superação de si mesmo e dos próprios “obstáculos” corporais.
Quando percebem que vale a pena dedicar algum tempo a si mesmos,
fortalecem seus corpos e novas conquistas repercutem no campo
emocional. A autoimagem, anteriormente repleta de impossibilidades,
DISCUSSÂO – 58
insegurança e pessimismo, agora se modifica. Embora alguns doentes
permanecessem insatisfeitos com certas partes do corpo, o que também
pode ser atribuído a valores culturais pré-estabelecidos e não à doença em
si, outros tomaram a iniciativa de procurar um cirurgião plástico, de iniciar
programa dietético ou, simplesmente, tiveram sua insatisfação reduzida à
aceitação mais conformada.
De acordo com Bacharelard (2001), Goethe, em sua época, fez
registros a respeito do movimento muscular. Percebeu que, ao caminhar,
ficava mais criativo e novas ideias apareciam-lhe. Concluiu que as ideias
provinham do movimento e a vontade era levada para o pensamento e, ao
fazer analogias criativas, dominava e fortalecia seu pensar vivo
(Bacharelard, 2001).
Alguns exemplos para ilustrar a relação entre o movimento e o pensar
criativo foram observados ao longo da História. Aristóteles dava aulas
caminhando, surgindo daí a chamada “escola peripatética” (Encyclopedia
Britânica,1963); Beethoven buscava inspiração para compor suas obras
durante longas caminhadas pelos bosques de Viena, na Áustria
(Encyclopedia Britânica,1963); os monges meditavam caminhando no
claustro (Encyclopedia Britânica,1963); e até o tio Patinhas tinha sua “sala
de preocupações”, onde andava até encontrar solução para seus problemas!
(revista Tio Patinhas, no. 76 – nov/1971).
Atividades estrenuantes desencadeiam SFM (Bennet et al., 2007).
Aproximadamente 70% das doentes incluídas nesta pesquisa relataram que
executavam atividades áridas que lhes exigiam esforços extremos e
sentiam-se sobrecarregadas, o que possivelmente causou impacto
desfavorável em sua qualidade de vida, achado que está de acordo com o já
observado previamente por Bennet et al. (2007).
O tratamento pelo método Rolfing favorece o alinhamento postural, o
alongamento da musculatura e o alívio das tensões via conscientização
corporal e aprendizagem dos movimentos que diminuem a sobrecarga, a
contração muscular e, por consequência, a dor. Pretende contribuir com
sono de melhor qualidade, coordenação motora mais eficiente para a
DISCUSSÂO – 59
execução das atividades diárias e redução da depressão e da ansiedade.
“No nível de problemas diários, o equilíbrio e a estabilidade emocional
podem ser melhorados por qualquer sistema capaz de criar ou de restaurar
a resposta fisiológica vital” (Rolf, 1999).
Antes do tratamento, 30% dos doentes apresentavam limitações
físicas graves e apenas 3,3%, não sentiam limitações. Três meses após o
término do tratamento, nenhum doente apresentava limitações físicas graves
e, 56,7%, não apresentavam limitações físicas. Após o término do
tratamento, ocorreu redução mediana de um ponto na escala de Limitações
Físicas dos doentes incluídos na presente casuística (p<0,001), melhora que
se manteve, pelo menos, até o terceiro mês de acompanhamento.
De acordo com as expectativas de Rolf (1999), ao modificar gestos,
pensamentos e o modo de lidar com o cotidiano, os fibromiálgicos podem ter
desenvolvido mecanismos para controlar seus sintomas, adotado posturas
mais positivas frente à doença e evitado que a dor dominasse sua vida (Rolf,
1999). Assim, os doentes puderam recuperar sua autoestima e sua
qualidade de vida ao conquistarem melhor adequação social no que diz
respeito ao trabalho, lazer, relações familiares e sócio-econômicas.
O presente estudo indicou que o método Rolfing de Integração
Estrutural teve efeito positivo, uma vez que criou condições para o doente
modificar seus movimentos e posturas, respeitar suas limitações funcionais e
a dor, atitudes importantes para o tratamento da SFM (Jones, 2006). Esta
técnica pode também ajudar a refinar os mecanismos de enfrentamento do
estresse, facilitando a resolução dos problemas gerados pela cronicidade da
doença (Rolf, 1999).
As mulheres que participaram desta pesquisa relataram que, com o
tratamento, suas posturas corporais melhoraram. Aprenderam que era
possível relaxar e que os movimentos podiam ser realizados com menos
sobrecarga. Sentiram-se mais “encaixadas” e firmes, andavam com mais
suavidade, contavam com o apoio do solo, não mais caíam nem tropeçavam
facilmente, e que suas tonturas também melhoraram. Ocorreu diminuição
considerável do nível de ansiedade pois, após o tratamento, essas doentes
DISCUSSÂO – 60
passaram a expressar sua própria opinião e não precisaram mais ficar tão
caladas ou passivas pois podiam falar sem se envergonhar. Contavam que
estavam menos reprimidas e passaram a planejar o futuro, como mudar de
casa ou de trabalho, e parar de fumar. Notaram também que seu
relacionamento com familiares e amigos havia melhorado, o que lhes
favoreceu a reintegração social.
Antes do tratamento, 40% das doentes apresentavam cansaço e
indisposição grave e apenas 3,3% estavam descansadas e dispostas. Três
meses após seu término, uma doente (3,3%) apresentou recidiva no estado
grave e 46,7% passaram a sentir-se descansadas e dispostas. A redução
mediana obtida após o término do tratamento nos doentes da presente
casuística quanto à fadiga e disposição foi de dois pontos na escala
(p<0,001).
Os exercícios aeróbicos com intensidade apropriada, automodificados
e limitados pelo sintoma, reduzem a expressão da SFM (Jones et al., 2006;
Moss-Morris et al., 2005). Com o método Rolfing é possível orientar e
modificar os movimentos, respeitando-se os limites e as possibilidades do
doente (Rolf,1999), o que colabora com a execução apropriada dos
exercícios aeróbicos de acordo com o indicado como terapêutica da SFM
por Jones et al., (2006) e também por Moss-Morris et al., (2005).
As relações no trabalho e na atividade profissional são fatores
desencadeantes e agravantes da SFM (Bennet et al., 2007; Deale et al,
2001). 16,7% das doentes incluídas na presente pesquisa relataram que
sofriam conflitos no trabalho. Antes do início do tratamento, 40% das
doentes estavam afastadas do trabalho e, após o tratamento, 66,7%
retornaram às atividades laborais. A insatisfação profissional, o fato de estar
ou não empregada e a sobrecarga no trabalho influenciam os sintomas dos
doentes com SFM (Bennet et al., 2007). Estes achados sugerem haver
necessidade de pesquisas futuras que visem à avaliação dos benefícios
econômicos proporcionados pelo método Rolfing.
A melhora geral dos sintomas avaliados manteve-se entre o término
do tratamento até o terceiro mês de suspensão, período em que não houve
DISCUSSÂO – 61
contato do terapeuta com o doente. Esta observação evidencia que o efeito
do tratamento não dependeu da presença do terapeuta, ou seja, o elemento
responsável pela melhora dos sintomas foi o próprio tratamento, tendo o
terapeuta exercido papel de guia para um novo caminho que se direcionou à
cura. Com o tratamento, as doentes referiram que, mediante estresses
conhecidos, não sentiam dor tão intensa e aprenderam a reagir e a olhar
para a própria vida e para si de modo diferente, apesar de o contexto
continuar praticamente o mesmo. Passaram a ser mais comunicativas e
interessadas e a ter opinião própria. Reconheceram terem aprendido a
enfrentar a dor com mais coragem e passaram a acreditar que tinham força
para vencê-la. Sentiam-se mais equilibradas física e emocionalmente e
podiam, finalmente, vivenciar o prazer e a liberdade.
Com a consciência de si mais assertiva e fortalecida, o doente pode
lidar melhor consigo mesmo, o que lhe proporciona estado de equilíbrio mais
coerente e adequado (Rolf,1999). À medida que a identidade se associa ao
corpo e à vitalidade ocorrem a autoaceitação e a autointegração. O doente
pode olhar-se sem repulsa, pois o que modela a imagem do corpo é a
reverência ao próprio corpo. É essa integração que permite ao ser humano
expressar-se com liberdade sem sentir-se aprisionado (Rolf, 1999;
Feldenkrais,1994).
Mesmo que a doença não tenha sido resolvida totalmente, os doentes
incluídos na presente casuística foram capazes de desenvolver novas
habilidades que, provavelmente, são possibilidades iniciais de cura. É o
princípio da salutogênese, da transformação e do autodesenvolvimento
(Moraes, 2006). Segundo o mesmo autor, o enfoque central da saúde é a
sabedoria prática, necessária para que o indivíduo elabore para si um
programa de qualidade de vida.
Este trabalho corporal pode não se tornar somente paliativo desde
que o objetivo seja, através da técnica, não suprimir o sintoma e sim trazer
ao doente a possibilidade de desenvolvimento, aliviando-lhe a dor através do
toque, estimulando-lhe os movimentos e conscientizando-o, através destes, de que a origem e a terapêutica da doença podem estar relacionadas ao contato com a sua percepção interior (Rolf, 1999).
Convém ressaltar que este não é somente um processo paliativo que
pode melhorar a dor, pois, sem mudanças profundas do doente, mostrou-se
não ser terapêutica supressiva de sintomas. Por supressão de sintomas
entende-se o fato de haver melhora sem alterar os fatores intrínsecos e
profundos que a provocam (Schmidt, 2004). “Se você trabalha apenas no
sintoma, ele piora. Você deve também trabalhar a raiz do sintoma”, dizia Ida P. Rolf (1999).
Durante o tratamento, os doentes apresentaram, além da melhora do
sintoma físico, mudanças mais amplas dos sintomas emocionais (ansiedade,
tristeza e falta de confiança, dentre outros) e fisiológicos (sono, cansaço,
apetite, sensação de bem-estar etc). Através do toque físico e de novas
possibilidades de movimento, foram despertadas para uma nova consciência
e realidade deles mesmos, o que os estimulou a buscarem mudança de
vida, em direção a um novo estado de saúde.
A expressão dos sentimentos e da vitalidade manifesta-se no mundo
através da ação. O veículo para isso são os músculos e a vontade de
colocar-se (e de relacionar-se) no mundo. Quando a ação ocorre a partir de
um referencial externo que não interage com a vontade interior, forma-se um
ciclo de frustração e de negação crônica de volição que, por sua vez, geram
a sensação de perda da autoconfiança, da capacidade de
autotransformação e do poder de atuação no mundo (Feldenkrais, 1997; Rolf, 1999).
A força de vida que motiva e mobiliza o indivíduo sadio a encarar sua
existência de modo prazeroso, considerando-se motivação como a força
anímica, ou de vitalidade, que pode permear o somático e adquirir grande
poder para mudar situações desfavoráveis, parece não se manifestar
suficientemente em indivíduos com dor crônica (Rolf,1999).
Nesse estágio, a doença crônica não tende à autocura e sim, cada
vez mais, à piora. Esses doentes precisam de trabalho de transformação,
autoconhecimento e educação, vista como caminho para desabrochar os
potenciais internos do indivíduo (Feldenkrais,1994). A SFM pode também
ser a expressão da vitalidade paralisada, como fim de um processo.
A sensação, a emoção e o pensar sobre o que se sente devem gerar
fluxo natural e livre, porque a vida flui através de nós por um processo
dinâmico. O organismo vivo e delimitado pela pele torna-se uno (Damásio,
1996). A dor é alerta de disfunção neste fluxo e na vitalidade; é fator
essencial que permite à pessoa pensar sobre si mesma e poder, então, criar
novas possibilidades. Suprimir um sintoma sem fazer essa reflexão
interrompe o fluxo vital e, do mesmo modo, provoca perda da sensação
subjetiva de bem-estar (Schmidt, 2004).
O método Rolfing atua de modo que o doente desperte novo interesse
por si mesmo e pelo ambiente em que vive, ao descobrir que é possível
aprender outras maneiras de se movimentar e de se relacionar com a dor,
adquire equilíbrio dinâmico de bem-estar (Rolf, 1999). Diminuindo a
intensidade da dor e agindo sobre o estresse psicológico, este método pode
melhorar as duas faces da mesma moeda (Rolf, 1999).
Quando o movimento é um ato da vontade decorrente da intenção, a
sua natureza voluntária deve ser livre, ou seja, gestos restritos são nocivos a
essa natureza. Para o movimento aprendido transformar-se em aptidão é
necessário ocorrer sua repetição não-automática, até tornar-se inconsciente.
A superação das dificuldades motoras traz sensação de liberdade (Konig,
2000). A volição é qualidade que se manifesta via motricidade e ambas
dependem da percepção do mundo externo (Feldenkrais, 1994). Pessoas
que não se movimentam tendem ao enrijecimento do corpo. Estimulando-se
novos movimentos, elas podem superar suas restrições e dificuldades e, a
cada nova conquista, sentir alegria (Rolf,1999).
Há muito tempo intuiu-se, tanto em Filosofia quanto em Medicina, que
“a parte representa o todo e o todo representa cada parte”. Desde a época
do Naturalismo Grego, quando a “phisis universal” englobava o “físico” do
ser humano, até hoje, de acordo com a Teoria dos Fractais da física
moderna, esse princípio é aplicado com diferentes modos e atitudes
terapêuticas (Guerrini, 2006). Assim ocorre com o método Rolfing que por
meio da intervenção no físico do doente, pode atuar de modo mais
abrangente e profundo.
O objetivo é que o doente se aceite e se integre com seu próprio
corpo. O método Rolfing visa à integração da estrutura humana no ambiente
e no contexto gravitacional. É método que utiliza estruturas somáticas, que
se vale da plasticidade da estrutura humana e que, via tecidos miofasciais,
pode tornar o arranjo estrutural algo adaptável e passível de modificações. O
processo de reorganização da estrutura coincide com o da transformação. O
método Rolfing, reconhecido mundialmente como tratamento complementar,
não substitui os tratamentos convencionais, mas pode fazer parte de um
amplo e novo caminho de vida para os doentes com dor (Rolf, 1999).
Cabe também enfatizar-se a importância do tratamento
multidisciplinar para os doentes com SFM, a fim de que possam obter mais
condições de cura.
Assim sendo, pode-se atribuir às terapias do aparelho locomotor, da
postura e da coordenação dos movimentos, a perspectiva profilática para
lidar com a prevenção dos desequilíbrios psíquicos. Desse modo, o fluxo
emocional beneficia-se tanto com o alívio das tensões musculares quanto
com a percepção do ambiente e de si mesmo como relação contínua.
7. CONCLUSÕES
O método Rolfing® de Integração Estrutural proporcionou melhora
estatisticamente significativa em doentes com SFM quanto a:
1. Intensidade da dor;
2. Disposição para execução das atividades diárias;
3. Fadiga;
4. Limitações físicas;
5. Qualidade do sono;
6. Estados de ansiedade e de depressão;
7. Modificação da autoimagem.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Método Rolfing® de Integração Estrutural ainda não foi intensamente
pesquisado e divulgado cientificamente. Por esta razão, há a perspectiva de
aprofundamento e ampliação deste estudo para, através de pesquisa futura,
com introdução de grupo-controle e de momentos de avaliação com
intervalos de tempo prolongados, obter dados mais abrangentes quanto à
eficácia deste método no tratamento da SFM.
9. ANEXOS
Anexo I
ANEXOS – 71
Anexo II
HOSPITAL DAS CLÍNICAS
DA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Instruções para preenchimento no verso)
_____________________________________________________________________________________
I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LEGAL
1.NOME DO PACIENTE .:………………………………………………………………….. …………………………………………………..
DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº : …………………………………. SEXO : M F
DATA NASCIMENTO: ……../……../……
ENDEREÇO ……………………………………………………………………… Nº ……………………… APTO: ………………
BAIRRO: ……………………………………………………………… CIDADE …………………………………………………….
CEP:………………………………….. TELEFONE: DDD (…………) …………………………………………………………….
2.RESPONSÁVEL LEGAL ………………………………………………………………………………………………………………
NATUREZA (grau de parentesco, tutor, curador etc.) ……………………………………………………………………….
DOCUMENTO DE IDENTIDADE :………………………………SEXO: M F
DATA NASCIMENTO.: ……/……./……
ENDEREÇO: ………………………………………………………………………………… Nº ………………. APTO: ………………………..
BAIRRO: …………………………………………………………………….. CIDADE: ……………………………………………………………
CEP: ………………………………………. TELEFONE: DDD (…………)……………………………………………………………………….
______________________________________________________________________________________________
II – DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA
1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: Estudo do Efeito do Tratamento pelo Método Rolfing de Integração
Estrutural em Pacientes com Diagnóstico de Fibromialgia.
PESQUISADOR: Paula Stal de Campos Maia
CARGO/FUNÇÃO: Psicóloga INSCRIÇÃO CONSELHO REGIONAL Nº: 06/73245
UNIDADE DO HCFMUSP: Departamento de Neurologia
3. AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA:
SEM RISCO RISCO MÍNIMO x RISCO MÉDIO
RISCO BAIXO RISCO MAIOR
(probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como consequência imediata ou tardia do estudo)
4.DURAÇÃO DA PESQUISA : 2 anos
ANEXOS – 72
III – REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU REPRESENTANTE LEGAL
SOBRE A PESQUISA CONSIGNANDO:
1. justificativa e os objetivos da pesquisa; 2. procedimentos que serão utilizados e propósitos, incluindo a identificação
dos procedimentos que são experimentais; 3. desconfortos e riscos esperados; 4. benefícios que poderão ser
obtidos; 5. procedimentos alternativos que possam ser vantajosos para o indivíduo.
O objetivo deste estudo é verificar o efeito do tratamento pelos métodos Rolfing® de
Integração Estrutural na recuperação de pacientes com diagnóstico de fibromialgia. Estes
pacientes caracterizam-se por apresentar frequentes dores musculares e cansaço.
Este método consiste em orientar o paciente através da manipulação e a estimulação do movimento de forma que ele
possa, ao adquir consciência de sua postura, organizar o sistema do corpo humano e melhorar sua função
neuromotora.
Os procedimentos utilizados serão de liberação miofascial; mensuração da dor (avaliada antes, durante e depois
do tratamento); questionário experimental; teste de imagem corporal.
O desconforto é inexistente; o risco é de o tratamento não corresponder às expectativas do paciente e não atingir o
efeito esperado.
Os beneficios que poderão ser atingidos são: alívio da dor; melhora na qualidade do sono, cansaço e autoestima;
aumento da disposição para atividades diárias e físicas.
Acompanhamento psicológico pode ser vantajoso para o tratamento.
_____________________________________________________________________________________
IV – ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SUJEITO DA PESQUISA
CONSIGNANDO:
1. acesso, a qualquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa,
inclusive para dirimir eventuais dúvidas; 2. liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de
deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência; 3. salvaguarda da
confidencialidade, sigilo e privacidade; 4. disponibilidade de assistência no HCFMUSP, por eventuais danos à
saúde, decorrentes da pesquisa; 5. viabilidade de indenização por eventuais danos à saúde decorrentes da
pesquisa.
O Sr.(a) irá participar de uma pesquisa cujo objetivo é verificar se é possível manter o alívio das dores e a disposição
dos pacientes para atividade diárias por períodos mais prolongados através do método Rolfing® de integração
estrutural. Este método consiste em orientar o paciente através da manipulação e a estimulação do movimento de
forma que ele possa, ao adquir consciência de sua postura, organizar o sistema do corpo humano e melhoar sua
função neuromotora.
O Sr.(a) terá acesso, a qualquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à
pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas; terá liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e
de deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência; terá salvaguarda da
conficencialidade, sigilo e privacidade, além de disponibilidade de assistência no HC-FMUSP, por eventuais danos à
saúde.
V. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS PELO ACOMPANHAMENTO
DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E REAÇÕES ADVERSAS.
Dr. Manoel Jacobsen Teixeira Tel: (11) 3069-6401
Psicol. Paula Stal de Campos Maia Tel: (11) 8331-7331
_____________________________________________________________________________________
VI. OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES:
_____________________________________________________________________________________
VII – CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em
participar do presente Protocolo de Pesquisa
São Paulo, de de 200 .
______________________________________ _______________________________________
assinatura do sujeito da pesquisa ou responsável legal assinatura do pesquisador
(carimbo ou nome Legível)
Anexo III
ENTREVISTA Data:____/____/____
Doente:__________________________________________________________
Idade:__________ Estado Civil:__________ Sexo: F Tel:_______________
Ocupação:_____________ Grau de Instrução:___________Cor:____________
Fale como tem sido sua dor:
Em escala numérica de 0 a 10, como avalia a intensidade da sua dor?
Sente limitação física por causa da dor?
Como é o seu sono?
Qual é seu tratamento de rotina no ambulatório? Já sentiu melhora?
Medicamentos (e há quanto tempo):
Há algo importante que queira relatar a seu respeito ou da sua saúde?
O que espera do tratamento comigo? O que obteve do tratamento?
Anexo IV
GRÁFICO DE SINTOMAS
Frequentemente as pessoas queixam-se de dores que reaparecem nas
mesmas regiões do corpo. Se você tiver dor, mostre nesta figura, pintando
as áreas correspondentes.
Anexo V
GRÁFICO DE APRECIAÇÃO DO PRÓPRIO CORPO
Determinadas áreas em você podem ser menos apreciadas do que outras.
Se houver regiões em seu corpo de que não goste, pinte no desenho abaixo
as áreas correspondentes.
10. REFERÊNCIAS
Aaron LA, Bradley LA, Alarcon GS, Alexander RW, Triana-Alexander M.
Psychiatric diagnosin patients with fibromyalgia are related to health careseeking behavior rather than to illness. Arth Rheum. 1996; 39:436.
Ameida, AT, Adda C, Reimão R. Fibromyalgia, Insomnia and Depression.
Neurobiologia. Rev Neurol Psiquiat Neurocir.1998; 61: 71-7.
Atra E, Pollak DF, Martinez JE. Fibromialgia: etopatogenia e terapêutica. Rev
Bras Reumatol .1993; 33: 61-4.
Bacharelard G. O ar e os sonhos: ensaio sobre a imaginação do movimento.
São Paulo: Martins Fontes; 2001. p. 6.
Bandura A. Self-efficacy: toward a unifying theory of behavioral change.
Psychol Rev. 1977; 84, 191-215.
Bennett RM. Chronic Widespread Pain and the Fibromyalgia Construct. SIG
on Rheum Pain Newsletter – January; 1999. p. 2-7.
Bennett RM, Clark SR, Campbell SM. Low levels of somato-medicine C in
patients with fibromyalgia syndrome: A possible link between sleep and
muscle pain. Arthr Rheum. 1992; 35: 113-6.
Bennett RM, Jones J, Turk DC, Russell IJ, Matallana L – An internet survey of
2,596 people with fibromyalgia. BMC Musculoskeletal Dis. 2007 8:27.
Bienfait M. As bases da fisiologia da terapia manual. São Paulo: Summus;
2000. p.21-41.
Bigelow MASL. Fibromyalgia: simple relief through movement. New York:
Wiley; 2000. p. 21-93.
Burskila D, Neumann L, Alhoashle A, Abu-Shakra M. Fibromyalgia syndrome
in men. Sem Arth Rheum. 2000; 30: 47-51.
Cunha JA. Manual da versão em português das escalas Beck. São Paulo:
Casa do Psicólogo; 2001. p. 11-5.
Cerqueira-Leite AC, Pereira MEC. Sofrimento e dor no feminino.
Fibromialgia: uma síndrome dolorosa. Psyché. 2003; 7: 97-106.
Dailey PA, Bishop GD, Russerl IJ, Fletcher EM. Psychological stress and the
fibrositis / fibromyalgia syndrome. J Rheum. 1990; 17: 1380-5.
Damásio A. O erro de Descartes. São Paulo: Cia das Letras; 1996. p. 112-16.
Deale A, Husain K, Chalder T, Wessely S. Long-term outcome of cognitive
behavior therapy versus relaxation therapy for chronic fatigue syndrome: a 5- year follow-up study. Am J Psychiatry. 2001; 158: 2038-42.
Dorsch F, Häcker H, Kurt-Hermann S. Dicionário de psicologia Dorsch.
Petrópolis: Vozes; 2001. p. 49-50; 235-6.
Encyclo pedia Britannica. Chicago: Benton W Publisher; 1963. v.3 p. 382-84;v.5 p. 938; v.17 p. 524.
Fassbender K, Samborsky W, Kellner M, Muller W, Lautenbacher S. Tender
Points, depressive and functional symptoms: comparison between
fibromyalgia and mayor depression. Clin Rheumatol. 1997; 16: 76-9.
Fischer AA. New development in diagnosis of myofascial pain and
fibromyalgia. Phys Med Rehabil. 1997; 8: 1-21.
Feitis R. Ida Rolf fala sobre Rolfing® e realidade física. São Paulo: Summus; 1986. p. 15-40.
Feldenkrais M. Consciência pelo movimento. São Paulo: Summus; 1977. p. 55-61.
Feldenkrais M. O poder da autotransformação. São Paulo: Summus; 1994. p. 45-52; 65-72; 93-8; 142-4.
Field T, Diego M, Cullen C, Hernandez-Reif M, Sunshine W, Douglas S.
Fibromyalgia pain and substance P decrease and sleep improves after massage therapy. J Clin Rheumatol. 2002; 8: 72-76.
Figueiró JAB. Saúde mental em dor crônica. In: Reimão R, Gagliardi RJ,
Spina-frança A, organizadores, Temas de neurologia. São Paulo: Frôntis Editorial; 1999. p. 81-6.
Figueiró JAB. Aspectos psicológicos e psiquiátricos da experiência dolorosa.
In: Figueiró JAB, organizador, Dor: um estudo multidisciplinar. São Paulo, Summus.1999, p.140-58.
Fransen J, Russel IJ. What is fibromyalgia? In: The fibromyalgia help book, Saint Paul: Smith House; 1996. p. 7-15.
Frutuoso JT, Cruz RM. Relato verbal na avaliação psicológica da dor. Avaliação psicológica; 2004. v.3, N.2, p.107-14.
Guerrini IA. Novos instrumentos para a saúde. J UNESP. São Paulo: Universidade Estadual Paulista; 2006; 208: p. 2.
Geenen R, Jacobs JW. Fibromyalgia: diagnosis, pathogenesis, and treatment. Curr Opin Anaesthesiol. 2001; 14: 533-9.
Hales RE, Clonginger CRBJF. Somatiform disorder. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV). Washington: American Psychiatric Association; 1994. p. 445.
Helfenstein M Jr. Prevalência da síndrome da fibromialgia em doentes diagnosticados como portadores de lesões por esforços repetitivos (LER) [Tese]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 1997. p. 184.
IASP. Classification of chronic pain: descriptions of chronic pain syndromes and definitions of pain terms. Pain. 1986; 2: S1 – S226.
Ismael JC. O médico e o paciente: breve história de uma relação delicada. São Paulo: TA Queiroz; 2002. p. 17-23.
Jones KD, Adams D, Winters-Stone K, Burckhardt CS. A comprehensive review of 46 exercise treatment studies in fibromyalgia (1988-2005). Health Qual Life Outcomes. 2006; 4:67.
Kadi F, Thornell L. Work-related fibromyalgia: pathological mechanisms. J Musculoskeletal Pain. 1998; (suppl 2): 1.
Konig K. O desenvolvimento dos sentidos e a experiência corporal. São Paulo: ABMA; 2000. p. 5-38.
Lautenbacher S, Rolman GB – Possible deficiencies of pain modulation in fibromyalgia. Clin J Pain. 1997; 13: 189-99.
Lin TY, Teixeira MJ, Fischer AA, Barbosa HFG, Imamura ST, Mattar Jr R.
Work-related musculoskeletal disorders. Phys Med Rehabil Clin North Am.1997;83: 113-18.
Maitland J, Sultan J. Definition and principles of Rolfing®. In: Rolf Lines, Spring: Rolf Institute Press; 1992. p.16-20.
McCain GA. Fibromyalgia and myofascial pain syndromes. In: Wall PD,
Melzack R, Textbook of Pain, 3rd ed, New York: Chruchill Livingstone; 1994. p.475-93.
Mendes A, Menegatti JA. Rolfing® como agente preventivo de lesões em atletas. Mundo Saúde; 1998. p. 22.
Menses S. Pheripheral mechanisms of muscle nocciception and local muscle pain. J Musculoskeletal Pain. 1993; 1: 133-70.
Menses S. Nociception from skeletal muscle pain in relation to clinical muscle pain. Pain. 1993; 54: 241-89.
REFERÊNCIAS – 82
Moldofsky H. Sleep, neuroimmune and neuroendocrine functions in fibromyalgia and chronic fatigue syndrome. Adv Neuroimmunol. 1995; 5: 39-56.
Moldofsky H, Scarisbrick P, England R, Smythe HA. Musculoskeletal symptoms and non REM deep sleep disturbance in patients with fibrositis syndrome and healthy subjects. Phys Med. 1975; 37: 341-51.
Montagu A. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo: Summus; 1988. p. 194-218.
Moraes WA. Salutogênese e autocultivo: uma abordagem interdisciplinar – sanidade, educação e qualidade de vida. Rio de Janeiro: Instituto Gaia; 2006. p. 9-30.
Moss-Morris R, Sharon C, Tobin R, Baldi JC. A randomized controlled graded exercise trial for chronic fatigue syndrome: outcomes and mechanisms of change. J Health Psychol. 2005; 10; 245-59.
Myers TW. Trilhos anatômicos: meridianos miofasciais para terapeutas manuais e do movimento. Barueri: Manole; 2003. p. 221-44.
Motta RC. Avaliação da imagem corporal durante o processo de Rolfing®. [Dissertação], Campinas: UNICAMP; 2003. p. 35-80.
Neter J, Kutner MH, Nachtsheim CJ, Wasserman W. Applied Linear Statistical Models. 4th ed. llinois: Richard D. Irwing; 1996. p.1408.
Penna L. Corpo sofrido e mal amado; as experiências da mulher com o próprio corpo. São Paulo: Summus; 1990. p. 29-44; 221-22.
Portnói AG. Dor, stress e coping: grupos operativos em doentes com síndrome de fibromialgia. [Tese] São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; 1999. p. 251.
Prado P. Contribuições do pensamento e obra de Ida P. Rolf para o trabalho com postura em psicologia. [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1992. p. 30-88.
Prado P. Estudo exploratório da dimensão psicobiológica do Método Rolfing® de Integração Estrutural: criação, desenvolvimento e avaliação de questionários. [Tese] São Paulo: Pontifícia Universidade Católica; 2006. p. 15-23.
Rao SG, Gendreau JF, Kranzier JD. Understanding the fibromyalgia syndrome. Psychopharmacol Bull. 2007; 40: 24-67.
Reimão R. Insônia na classificação internacional dos distúrbios do sono. In: Reimão R, organizador, Sono, sonhos e seus distúrbios. São Paulo: Frôntis Editorial; 1999. p.17-23.
Rolf IP. Rolfing®: a integração das estruturas humanas. São Paulo: Martins Fontes; 1999. p. 15-29; 67-84; 137-88; 253-61.
Rossini SRG, Reimão R. Chronic insomnia in fibromyalgia patients: psychological and adaptative aspects. Rev Bras de Reumatol. 2002; 42: 285- 88.
Rossini SRG, Reimão R, Qualyle JM. Lucia MCD. Correlações entre diagnóstico adaptativo e sintomas de depressão em pacientes com insônia crônica. In: Barreira AA, Galiardi R, Reimão R, organizadores, Avanços em Neurologia. São Paulo: Associação Paulista de Medicina; 2005. p. 286.
Rossini SRG, Reimão R. Aspectos psicológicos da insônia In: Reimão R, organizador, Medicina do sono. São Paulo: Lemos Editorial; 1999. p. 49-58.
Schilder P. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes; 1999. p. 235-64.
Schmidt P. A arte de interrogar e outros textos selecionados. São Paulo: Organon; 2004. p. 15-43.
Tavares MCGCF. Imagem corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri: Manole; 2003. p. 34-68.
Teixeira MJ. Dor – Síndrome Dolorosa Miofascial e Dor Musculoesquelética.
Teixeira MJ, Yeng LT, Kaziyama HHS, organizadores. São Paulo: Rocca, 2006. p.15; 120-34.
Turk DC, Okifuji A, Sinclair JD, Starz TW. Pain, disability and physical, and affective factors in the pain behaviors of chronic pain patients. J Rheum. 1996; 23: 1255-62.
Uveges JM, Parker JC, Smarr KL, McGowan JF, Lyon MG, Irving WS, Meyer AA, Buckelew SP, Morgan RK, Delmonico RL, Hewewtt JE, Kay DR.
Psychological symptoms in primary fibromyalgia syndrome: relationship to pain, life stress and sleep disturbance. Arth Rheum. 1990; 33: 1279-83.
van Middendorp H, Lumley MA, Jacobs JW, van Doornen LJ, Bijlsma JW,
Geenen R. Emotions and emotional approach and avoidance strategies in fibromyalgia. J Psychosom Res. 2008; 64: 159-67.
van Koulil S, van Lankveld W, Kraaimaat FW, van Helmond T, Vedder A, van Hoorn H, Cats H, van Riel PL, Evers AW. Tailored cognitive-behavioral therapy for fibromyalgia: Two cases studies. Patient Educ Couns, 2008.
Verbunt JA, Pernot DHFM, Smeets RJEM. Disability and quality of life in patients with fibromyalgia. Health and quality of life outcomes; 2008. p. 6-8.
Weiner WJ, Goetz CG. Neurologia para o não-especialista: fundamentos básicos da neurologia contemporânea. 4ª ed. São Paulo: Santos ISBN; 2003. p. 276-81.
Wolfe F, Ross K, Anderson J, Russell IJ, Herbert I. The prevalence and characteristics of fibromyagia in the general population. Arth Rheum. 1995; 38: 19.
Yunus MB. Psychological aspects of fibromyalgia syndrome: a component of
the dysfunctional spectrum syndrome. Baillieres Clin Rheumatol. 1994; 8:
As you register, you allow [email protected] to send you emails with information
The language of this site is in English, but you can navigate through the pages using the Google Translate. Just select the flag of the language you want to browse. Automatic translation may contain errors, so if you prefer, go back to the original language, English.
Developed with by Empreiteira Digital
To have full access to the content of this article you need to be registered on the site. Sign up or Register.