O Doutor John B., cirurgião de 40 anos, chega para sessões de trabalho corporal. Conta uma história interessante: há três anos uma criança pulou em cima de suas costas quando nadava numa piscina pública. Ele sofreu de fortes sintomas da síndrome do chicote devido ao impacto, inclusive reações vegetativasemocionais, em tal grau que teve que ficar de cama uma semana. Mas logo em seguida, recuperou-se bemretomou seu estilo de vida ativo-feliz-saudável.
Dois anos depois, infelizmente, machucou a cabeça de novo: estava colocando alguma coisa no porta-malas do carro, a porta soltoucaiu em sua cabeça. Sofreu uma forte contusão, porém sem sinais de comoção cerebral ou de reações vegetativas. Depois disso, porém, desenvolveu no dia-a-dia uma fraqueza peculiarperturbadora: contínuainvoluntariamente, batia a cabeça contra batentes de portas, luminárias, janelas, portas de carro. Isto acontecia pelo menos duas vezes por semana (geralmente mais do que isso), de maneira que vivia constantemente com a cabeça coberta de machucados.
John parece ser um homem inteligente, ativode mente aberta, muito bem sucedido no trabalho. Geralmente acompanha suas aventuras de bate-cabeça com uma boa dose de humor, não permitindo que isso lhe tire o gosto de viver, não só no trabalho, onde parece brilhar, mas também na vida particular, tanto com a filha pequena, quanto no jogo de basquete semanal com um time de amigos. Nos seus anos de escola, foi um jogador de basquete apaixonadotalentoso,esse jogo semanal com amigos tornou-se, para ele, a principal fonte de sensação de vitalidade corporal. Em uma das sessões, ele me diz que de algum modo ?sente que está ficando velho?, já que parece ter perdido a velocidadea potência de salto, que tanto curtia nos basquete semanal, desde os anos de escola.
As sessões comigo funcionam razoavelmente bem em termos de melhora de alinhamento com a gravidade, a não ser pelo fato de que, ao bater a cabeça várias vezes durante a semana, não consegue depois manter o ?lift? da parte superior do corpo de uma sessão para a outra. Além do mais, o trabalho nas pernasbacia não consegue ajudá-lo a reconquistar a agilidade das pernas que ele tanto desejava.
O que fazer? Desde o início eu incluí uma boa dose de trabalho na cabeçano pescoço, sem conseguir reduzir o número de suas cabeçadas durante a semana. Entre as sessões, ficava pensando sobre aquele estranho comportamento de desorientação espacial. Porque batia a cabeça nos objetos? Seria por um desejo inconsciente de repetir os dois traumas anteriores? Que tipo de abordagem poderia lhe dar um melhor suporte, fazendo diminuir o número de cabeçadas?
Um dia, eu estava lendo uns artigos de pesquisa do desenvolvimento da imagem corporal cortical em humanosem chimpanzés. Um artigo em especial, do jovem primatologista norte-americano Daniel Povinelli, me chamou atenção. Estudos comportamentais demonstram que somente humanoschimpanzés desenvolvem uma auto-imagem no córtex que inclui peso, proporção, formaorientação relativa no espaço. Esta imagem corporal interna permite aos macacos grandes mover seus corpos pesados através das copas frágeis com movimentos não-estereotipados, onde macacos menores – ou aqueles que geralmente não vivem nas copas – não desenvolvem esta nova capacidade cortical. Humanos – apesar de não viverem nas copas – geralmente mostram os primeiros sinais de auto-conceito cortical dos 18 aos 24 meses de idade, quando começam a reagir à sua imagem no espelho de maneira significativamente diferente de, digamos, um gato ou um cachorro. Será que os problemas de orientação do meu cliente John estavam relacionados com uma imagem corporal interna inapropriada? Talvez os dois acidentes iniciais tenham causado a ?perda da cabeça? na sua imagem corporal subconsciente. Talvez o mapa cerebral interno, que planejamonitora os movimentos no espaço, não tenha uma representação adequadafuncional da parte de cima de seu corpo. Um homem que perdeu a cabeça, não em termos anatomicos externos, mas em termos de auto-imagem cerebral interna.
Partindo dessa premissa, como poderíamos nós dois conseguir a re-integração da cabeça na imagem corporal? Aparentemente, através do toqueda massagem da cabeçado pescoço não teríamos muita ajuda, já que foi o que fizemos em várias sessões.
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Ao ouvir John, me vem à lembrança uma lição de meu pai nas primeiras férias em que fui esquiar na neve, em criança. Carregando os esquis no ombro, eu ficava batendo as pontas nas outras pessoasnas coisas em volta. A ordem que meu pai repetia preste atenção nas pontas dos esquis, Robert não era fácil de seguir. Porém, depois de dois dias prestando atenção consciente na sua posição enquanto caminhava virava -depois de dúzias de batidas involuntárias – eu não colidia mais com outras coisas ou pessoas. E isso acontecia mesmo quando eu não estava mais prestando atenção. Como se os esquis pertencessem ao meu próprio corpo.
Como é que eu poderia fazer algo parecido para ajudar John a anexar a ponta superior à sua imagem corporal subconsciente? Comecei a pensar na hipótese de usar um capacete com o qual ele pudesse fazer exercícios de manobra atentosconscientes entre objetos pendurados. Em seguida, veio uma idéia melhormais prática. Que tal pendurar um ou mais balões no teto de casa? Por exemplo, em cima da mesa da cozinha, para ele poder brincar com cabeçadas suaves enquanto está em casa. John parece gostar da sugestão – dos balões, não do capacete -diz que quer tentar, já que o conceito por trás da sugestão faz sentido para ele.
Uma semana depois, John retorna, brilhante, com um dos sorrisos mais abertos que eu já vi. Não só ele tinha feito a coisa dos balões que eu sugeri, como também alguns jogos cabeça-com-cabeça engraçados com a filha, com um balão no meio deles. O incrível resultado: nessa semana, pela primeira vez depois de um longo tempo, ele não bateu a cabeça em batentes ou janelas, nenhuma vez. E mais – coisa que foi uma surpresa total para nós dois – nessa semana ele fez a melhor partida de basquete de sua vida?. Em suas próprias palavras: tudo que eu pegava, virava uma cesta. Aparentemente, ele havia recuperado a agilidade das pernasa potência de salto, de maneira que agora podia acelerarpular mais altocom mais precisão.
Tentando entender essa melhora dramática, nós – John eu – desconfiamos que se devia à reconquista da cabeça na imagem corporal interna. Aparentemente, simples exercíciosjogos com a filha – ao todo, vinte minutos – permitiram que seu cérebro reintegrasse a cabeça à imagem subconsciente do corpo. Faz sentido: imagine só, caro leitor, se você está saltando e, subitamente, surge um peso extra de 6 kg no topo do seu corpo. É bastante provável que sua precisãoaceleração sejam significativamente alteradasdiminuídas.
O efeito desta mudança em John parece estável. As sessões seguintes não apresentaram grandes mudanças. Ele continua sem bater, nem machucar a cabeça, mantém o ganho de agilidade no jogo de basquete semanal.
Que maravilhosa história de detetive! Me faz lembrar um professor de Rolfing® , que me disse nos primeiros anos de prática: Talvez o que mude nas pessoas com o nosso tratamento seja a imagem mental do corpo o que resulta em mudanças físicas.
Como toda boaverdadeira história de sucesso, esta nos deixa várias questões. Por exemplo:
?O exercício simples com o balão teria tido o mesmo efeito, se John não tivesse colocado a significativa variação social com a filha?
?Se tivéssemos tido a idéia do tratamento logo na primeira sessão, ele teria sido capaz de conseguir a mesma dramática melhora?
?Onde ou como a ?imagem corporal? – que não estava funcional neste cliente – fica armazenada no sistema nervoso?
O córtex motor vem à mente primeiro, já que é o mais mapeado, tem sido o mais explorado. Desde os estudos de Merzenich, especialmente desde os estudos de Ramachandran, nós também sabemos que o cortex motor pode mudar, em resposta a diferentes experiências cinestéticas. Segundo Ramachadran, essa mudança pode acontecer em quinze minutos. Embora eu ache que os mapas interiores do corpo no cerebelo estejam relacionados a esse aspecto de imagem corporal?. O cerebelo tem um mapa representativo do corpo, ainda que não tão detalhado quanto o córtex motor. E, além do mais, o cerebelo está envolvido num constante repassar do planejamento dos nossos movimentos, que é exatamente o aspecto que ficou desfuncional no meu cliente. Talvez muitas pessoas vivam com uma imagem corporal não-funcional. Que tal a mulher sem quadril ou o doutor que perdeu o dedão? Será que no futuro terapeutas corporais poderão ?curá-los? para sempre com uma simples intervenção similar de vinte minutos? Certamente eu adoraria ter mais casos como este – ou saber reconhecê-los com mais frequência -na minha prática diária.
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