Associação Brasileira de Rolfing

Rolfing Brasil – ABR

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Em 2001 fui convidado pelo ISA – Instituto Socioambiental – para participar da Oficina sobre “Arte de Branco” na EIBC- Escola Indígena Baniwa-Coripaco, situada às margens do Rio Içana, no Amazonas. Mais precisamente na região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, próximo à fronteira com a Colômbia.

Algum tempo antes havia sido editado o livro “Arte Baniwa”, pelo ISA, onde se mostrava toda a belezasofisticação da cestaria produzida por aquele povo. Isto fazia parte de um projeto maior que envolvia saúde, educação, etc.

Esta escola, na época, era geradagerenciada pelas comunidades locaismantida por entidade internacional. Hoje é municipal. Seu funcionamento acontecia em períodos em que os seus estudantes poderiam afastar-se de suas comunidades (aldeias) fora das épocas de plantiocolheita, uma vez que a força de trabalho deles é primordial para estas atividades.

Além das disciplinas curriculares comuns ao segundo grau (bilíngues, o Baniwa é língua do tronco Aruak), lá aconteciam cursos de pisciculturaagricultura para melhor aproveitamento de cultivares já tradicionalmente desenvolvidos (mandioca, banana, abóbora etc). As primeiras com professores indígenasas demais por técnicos contratados pelo ISA

O termo ARTE instigou-os. Não é um conceito que faz parte de sua cultura. Como estava programada uma oficina de cestaria com mestres indígenas nesta “arte”,  pediram um “professor de arte de branco”. E lá fui eu.

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De avião de São Paulo a Manausde lá a São Gabriel da Cachoeira, no Rio Negro, de onde fui ao Pamáali, sítio histórico para os Baniwas, local onde está a escola. Foram três dias de “voadeira”, barco de aluminio com motor de popa. Comendo peixe moqueado, quinhampira, tomando chibé com assaí, bebendo água do rio, dormindo em rede nas comunidades.

Por sorte (?) estávamos na cheianão precisamos descarregar o barco nenhuma vez. São várias cachoeirascorredeiras. E melhor ainda, não tinha mosquitos. Só piuns!!!

Devido condições impostas pela própria distânciatambém não haver energia elétrica, optei em levar materiais bastante simples para realizar atividades com elestambém livros para ilustrar o que poderia ser dito aos alunos, que nesta fase seriam quarenta rapazesgarotas entre 1420 anosalguns professores das escolas das comunidades próximas (primeiro grau).

A minha chegada foi saudada pelos alunos com expressão que me deixou em dúvida: Curiosidade ou animosidade?

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Mas já no dia seguinte a esta questão se resolveu. Já os encontrei à minha espera subdivididos em gruposnominados com nomes de animais (tsitsi=macaco, maali=garça, pilmi=beijaflor etc), costume adquirido no colégio salesiano de São Gabriel, para onde eram levados na puberdade onde desaprendiam sua línguaseus costumestradições, sem contar um tanto de outras…

E era nesta fase que os meninos aprendiam a fazer os trançados que se transformam em cestos, paneiros, peneiras, armadilhascovos para pesca. Portanto…

A nova geração desconhece esta habilidade. E seria no Pamaali que reencontrariam suas tradições. No mesmo período em que estive lá eles puderam aprender com os mestres  a arte de tecer. E que arte! Eu, mais aprendi que ensinei.

Pela manhã, distribuía vários livros pelos gruposdepois falava sobre as ilustrações que tinham escolhidoouvia os comentários que faziam.

Era simplesmente emocionante ver aquele menino exclamar “-É igual!!!!” ao descobrir uma grega num vaso jônico, de alguns milhares de anos, idêntica à sílaba gráfica dos seus cestospeneiras. Ou a menina ”-Minha mãe faz!” vendo em a foto um pote de cerâmica neolítico. Melhor ainda quando um deles me contando que seu avô lhe contara sobre as figuras pintadas na parede de uma caverna, “-De quando nós saímos do buraco!”. Era Lascaux. Os intrigava a nudez ”- Vocês andavam nus?”.

E a coisa foi acontecendo. Pinturas, colagens. Na aula de desenho, o cotidiano, seus trabalhos, seus utensílios, animais. E mitos.

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Isto acabou por resultar em uma série de histórias ilustradas muito interessantes. Com relato na lingua nativatradução para o português.

À tarde se reuniam com os professores que lhes ensinavam sua Arte. Era surpreendente ver surgir da “palha” entre seu dedos, os objetos mais lindosperfeitos.

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O Tipiti, sem o qual não se espreme a mandioca ralada, separando o tucupi da polpanem se faz o beiju, fundamental para sua alimentação. E os cestosbalaios onde se carrega, armazena de tudo.

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Sem falar dos Kakuri que aprisionam os poucos peixes que vivem naquele rio. Depois iam para a roça onde começava a nascer um grande mandiocal (segundo uma antropóloga amiga, são mais de duzentas variedades). Depois banho no rioá noite, mais um pouco de aula. Coisas do branco. Geografia, matemática. Então dormirlevantar antes do sol nascer.

E assim foram quinze dias de convívio com este povo altivosimples ao mesmo tempo. Quando pensei em levar este assunto à reunião pensava em fazer analogia com o Rolfing, como se os princípios fossem os mesmos. Depois desisti. Ali, no Pamaáli, estão todos os princípios. E o fim.

Isto tudo se deve  à busca de manejo sustentávelcomercialização de seus produtos. Por sua vez, eu, em 2005 expus minhas pinturas inspiradas nesta experiência únicamarcantePEIXES E HABITAT, no Astrolabioatelie, São Paulo.

Na época em que me encontrava no Pamaáli foi instalado o primeiro painel solar na escola. Hoje, informatizada, já está na Internet. Somos o encontroaceitação do outro. Sobreposiçãoamálgama de culturas. Não sei se verdade ou não, dizem que o rapaz que não sabe fazer o Tipiti não arranja esposa…daí…

 

Para mais informações:

http://www.artebaniwa.org.br

www.isa.org/inst/baniwa

www.brunoroneto.blogspot.com[:][:pb]Arte Baniwa[:]

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